CRIME E IGNORÂNCIA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Maju Coutinho no Jornal Hoje e Taís Araujo em Amor de Mãe; as duas já sofreram ataques racistas
FERNANDA LOPES
Publicado em 2/6/2020 - 7h00
O preconceito racial voltou a ser assunto frequente na mídia com dois acontecimentos: as mortes do menino João Pedro, baleado dentro de casa no Rio de Janeiro, e do norte-americano George Floyd, asfixiado por um policial. De formas menos fatais, mas ainda absurdas, ataques racistas também já aconteceram e continuam acontecendo com celebridades brasileiras, principalmente pelas redes sociais.
Atualmente, duas pessoas conhecidas vêm recebendo xingamentos frequentes na internet: a ex-BBB Thelma Assis e o repórter Manoel Soares, da Globo. Ele já foi chamado de "assaltante" por telespectadores do É de Casa, e ela tem sido atacada em todas as lives de que participa desde que saiu do BBB como vitoriosa.
Soares até já explicou no É de Casa como os telespectadores podem fazer para denunciar ataques racistas, caso passem por situações deste nível. O repórter e Thelma ainda afirmaram que medidas judiciais estão sendo tomadas.
Quando Thelma ainda estava no BBB, aliás, ela e Maria Júlia Coutinho foram alvos de comentários pesados de Rodrigo Branco, empresário e ex-diretor da Band. Em março, ele chamou a médica de negra coitada, disse que torcer para ela no reality era racismo e que Maju era péssima, horrível e só estava na Globo por causa da cor.
A jornalista declarou, na época, que ele responderia judicialmente pelo que disse. Anos antes, em 2015, Maju foi muito atacada ao assumir o posto de apresentadora do mapa-tempo no Jornal Nacional. William Bonner teve até de falar sobre o assunto ao vivo, e nas redes sociais ele, Renata Vasconcellos e a equipe do telejornal fizeram postagens com a hashtag #somostodosmaju.
Sobre os xingamentos, a jornalista declarou na época que mandava "beijinho no ombro". Em março deste ano, dois homens foram condenados por usarem perfis falsos e proferirem injúrias raciais contra a âncora. Um deles pegou seis anos de prisão, e o outro cinco anos de regime semiaberto, mais multa, segundo o G1.
reprodução/tv Globo
A atriz Cacau Protásio chorou em entrevista ao Fantástico ao falar sobre racismo que sofreu
Casos de racistas que terminam na cadeia, no entanto, são raridade no Brasil. A maioria dos casos gera apenas repercussão, indignação na sociedade, penas mais leves por injúria racial e muita dor para quem sofre os ataques.
A atriz Cacau Protásio é um exemplo. Em novembro de 2019, Cacau esteve no Batalhão do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro para gravar o filme Juntos e Enrolados. Numa cena, ela dançou no meio do pátio e foi gravada por um dos bombeiros. Ele divulgou as imagens acompanhadas de um áudio em que humilhava a atriz, com ofensas racistas, gordofóbicas e homofóbicas.
No domingo (31), Cacau deu uma entrevista ao Fantástico. Chorou e revelou que esse episódio de sua vida ainda lhe machuca. "A gente aprende a viver [com a dor], vai passar. Mas dói um pouquinho, sim", desabafou.
O ator e apresentador Érico Brás também nunca se esqueceu do dia em que foi acusado de assalto por uma mulher branca e revistado por policiais quando ainda vivia em Salvador. Em uma live com Fábio Porchat, no dia 27, ele disse que só depois que todos os seus pertences haviam sido revirados foi reconhecido como ator. Para que a acusação fosse retirada, teve de interpretar o personagem ali mesmo.
As atrizes Sheron Menezzes, Taís Araujo e Cris Vianna já foram xingadas e atacadas por racistas nas redes sociais. Taís passou por isso em outubro de 2015, quando publicou uma foto em seu perfil no Facebook. Houve quem comentasse ofensas como "macaca" e "cabelo de esfregão". Um dia depois, ela fez um longo texto de desabafo e conscientização.
"Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. E eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu", escreveu a atriz.
O racismo afeta até crianças, atores mirins. Pedro Guilherme, de nove anos, que interpreta Thiago, filho da personagem de Taís Araujo em Amor de Mãe, sofreu preconceito. Segundo depoimento da mãe do garoto ao site Mundo Negro, ele estava em uma loja, olhando fones de ouvido. Sem saber nada sobre a vida dele, um vendedor o tratou com grosseria e disse que aquilo era muito caro para ele.
O ator JP Rufino, que hoje está com 17 anos de idade e já tem sete de carreira, recebeu um comentário muito agressivo no Instagram. Após publicar uma foto sua em uma festa, um seguidor lhe mandou a mensagem: "Moleque babaca bancando a vítima! Vai estudar e tosar esse cabelo horrível! Para de falar de racismo, seu trouxa! É assim que começa a mudança!".
O ator compartilhou essas palavras e respondeu, num novo post. "Falo sim e mostro sim! Sabe por quê? Pra lutar por uma mudança de seres sem noção! Pra tentar conter tanto ódio e agressão! Pra resgatar os valores. O respeito (que é bom, eu gosto e inclusive pratico). Pra fazer entender que seres como você têm muito o que aprender! PS: O 'Moleque' em questão estuda, trabalha (tem carteira assinada). Segue 2020... Que pelo jeito que começou, me mostra o quanto precisará de luta", previu Rufino.
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