FENÔMENO SOCIAL
EDU MORAES/RECORD
Gugu Liberato teve a sua morte confirmada em 22 de novembro: um milhão de seguidores desde então
REDAÇÃO
Publicado em 29/11/2019 - 5h14
Gugu Liberato (1959-2019) ganhou mais de um milhão de seguidores uma semana depois de ter sua morte confirmada após um acidente doméstico, em 22 de novembro. O apresentador, que tinha 60 anos, saltou de 1,9 milhão para mais de 2,9 milhões de fãs no Instagram. E essa não foi a primeira vez que um fenômeno como esse aconteceu neste ano.
Algo parecido aconteceu com o cantor Gabriel Diniz (1990-2019), a modelo Caroline Bittencourt (1981-2019) e o jornalista Ricardo Boechat (1952-2019).
O sertanejo, que tinha 28 anos, saltou de 3,3 milhões para 4,9 milhões de seguidores no Instagram após a morte. De acordo com a ferramenta CrowdTangle, que afere o poder de influência dos usuários nas redes sociais, foi a maior projeção do artista desde que abriu seu perfil. Nem mesmo o estouro do hit Jenifer, no fim do ano passado, fez o músico crescer tanto.
Diniz morreu em um acidente aéreo em 27 de maio. Sua rede social continua ativa. Foram feitos quatro posts desde a tragédia, um deles anunciando um show em homenagem ao cantor e outros três assinados por Cizinato Diniz, pai do artista. O mais recente foi em 10 de setembro, quando o familiar compartilhou uma imagem de Gabriel com asas e escreveu um textão sobre o amor de Deus.
Caroline Bittencourt, que morreu em um acidente de barco no fim de abril em Ilhabela, no litoral de São Paulo, também inflou seu número de seguidores após a tragédia. De 420 mil, saltou para 826 mil. Alguns dos curiosos já deixaram de acompanhar o perfil --atualmente, a ex-modelo conta com 719 mil fãs. Não foram feitos novos posts desde sua morte trágica.
O jornalista Ricardo Boechat, vítima da queda de um helicóptero em fevereiro deste ano, contava com 28 mil seguidores antes do acidente. Chegou a ter 248 mil após toda a comoção nacional, e hoje conta com 219 mil fãs. A última atualização no perfil foi feita pela "doce" Veruska Boechat, sua mulher, três dias depois de sua morte. Ela agradeceu pelo casamento que tiveram. "Te amo para sempre", escreveu.
Na quinta-feira (28), pouco depois do início do velório de Gugu Liberato na Assembleia Legislativa de São Paulo, Marina Ruy Barbosa criticou o comportamento de fãs nesse tipo de cerimônia. "Velório não é lugar pra tirar foto/selfie", escreveu a atriz em seu Twitter. Ela não foi à despedida do apresentador, mas estava acompanhando o funeral nas redes sociais.
"Uma coisa que não entendo e acho mórbido: Por qual motivo uma pessoa que morreu ganha milhares de seguidores nas redes sociais? Qual o intuito de seguir alguém depois da morte anunciada? Eu ainda fico chocada como a gente está usando errado a internet. Sério", questionou a estrela da Globo.
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM /band
Caroline Bittencourt e Ricardo Boechat também cresceram no Instagram após suas mortes
Por que as pessoas seguem artistas após a morte?
"A morte tem um apelo sensacionalista muito grande", defendeu a psicóloga Juliana Cambaúva ao Notícias da TV em maio, após a morte de Gabriel Diniz.
"A gente tem o fenômeno das redes sociais, do tempo líquido e do amor líquido. A morte faz com que a gente possa dissecar a biografia da pessoa e, de alguma forma, trazer a celebridade para um universo mais humano, porque aí a gente dialoga com a celebridade de um lugar mais de igual para igual. Entendendo o que aconteceu com o outro, a gente se ilude com a possibilidade de não morrer", explicou.
De acordo com Luciana Mazorra, do Instituto 4 Estações, que presta auxílio a pessoas que precisam enfrentar o luto, seguir pessoas no Instagram não é um prazer mórbido. Para ela, a morte é um tabu na sociedade contemporânea. É algo do qual as pessoas normalmente evitam falar. Também tentam não pensar na própria partida, embora seja a única certeza que os seres humanos têm nessa vida.
"Seguir nas redes sociais um artista que morreu é uma forma de dar sentido à própria vida. As pessoas pensam: 'Aquele ídolo conseguiu tudo o que queria e morreu'. Ir atrás e ter mais informações é uma forma de cultuar essa figura idealizada, manter essa pessoa viva. Se eu vejo esse perfil, eu mantenho essa pessoa viva. E também é um processo de digerir a morte", acrescentou.
Uma conta em rede social é encarada como uma herança digital, segundo Luiz Augusto Filizzola D'Urso, advogado especialista em Direito Digital.
Ele explica que "existem duas correntes com relação à família herdar o acesso a uma conta nas redes sociais, aqueles que defendem que a conta precisa ser excluída e outros que defendem que a família herde o controle total e o acesso destas contas".
De acordo com o jurista, que é presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da Abracrim (Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas), no caso do Instagram, a ferramenta autoriza a exclusão da conta após o preenchimento de formulário online com a comprovação de que se trata de algum familiar, sendo também possível a transformação do perfil em um memorial.
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