Atrizes escancaram supostos assédios de Melhem em depoimentos: 'Abriu o zíper'

Intimadas a depor pelo MPT (Ministério Público do Trabalho), Karina Dohme, Ellen Rocche e Suzana Pires relataram vários episódios em que se sentiram acuadas pelos supostos assédios de Marcius Melhem. A atriz de Sandy & Júnior (1998-2002) disse ter sido beijada à força: "Ele começou a subir o vestido e abriu o zíper da calça". Em nota, o humorista negou as acusações.

No mês passado, Melhem foi denunciado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio). O processo tramita em sigilo na 20ª Vara Criminal do TJ-RJ. Ele é acusado de ter assediado três atrizes na época em que ainda era contratado da Globo.

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Os depoimentos constam nos autos da ação criminal e foram revelados pela colunista Juliana Dal Piva, do UOL, neste domingo (17). Elas prestaram esclarecimentos ao MPT em setembro de 2021, após os relatos no Compliance da Globo. O processo, que apura a conduta da empresa em relação a casos de assédio, ainda aguarda a sentença na Justiça do Trabalho.

Karina Dohme contou que começou a trabalhar com Melhem em 2012, primeiro no programa Caras de Pau (2010-2013) e depois no Zorra (2015-2020). A artista afirmou que o humorista era "amável, acolhedor" no início, mas teria mudado de comportamento pouco tempo depois.

Ela relatou que o ex-diretor de Humor da Globo teria feito "comentários de cunho sexual com todas as mulheres", dava "gemidos lascivos", "apertava a cintura e cheirava o pescoço das colegas" e as chamava de "gostosas" e "delícia".

Karina afirmou ter ficado perplexa com uma situação em abril de 2012, em Angra dos Reis (RJ). A atriz contou que Melhem teria segurado a porta do quarto dela e dito que "eles iriam dormir juntos". Após a negativa da loira, o humorista teria acrescentado: "Eu não vou desistir de você".

A artista explicou que entrou em pânico, já que ainda não tinha assinado o contrato com a Globo e temeu ter o trabalho cancelado. Segundo ela, as investidas do ator teriam se intensificado quando começaram a contracenar juntos.

Karina revelou que Melhem teria enfiado a língua nas cenas de beijo, enquanto ela "cerrava os lábios com força". Ela ainda relatou que o comediante teria se aproximado do quadril dela para sentir que "o pênis dele estava ereto".

A artista também expôs uma situação em 31 de outubro de 2015, após a festa de aniversário de Fabiana Karla. Melhem teria oferecido uma carona para ela e mais uma amiga e pedido para Karina subir até o apartamento dele para entregar algo.

"Ele a empurrou de forma brutal na parede e começou a beijar a depoente. Ele começou a subir o vestido e ele abriu o zíper da calça", consta no depoimento. A atriz disse ter ficado "muito assustada com a situação e, nos dez primeiros segundos, ela cedeu ao beijo. E aí ela se deu conta da situação e não queria isso e ela empurrou o senhor Marcius Melhem".

Karina disse ter saído do apartamento e ido encontrar a amiga que a esperava no carro. Ela ainda afirmou que o então diretor teria enviado uma mensagem informando sobre reformulações no Zorra: "Você precisa saber uma coisa, decisões estão sendo tomadas e o fato de você permanecer no programa não tem nada haver com o que aconteceu essa noite por que [sic] eu sei que você é neurótica e vai pensar minhoca na sua cabeça".

Após seis dias, a artista foi informada de sua demissão. Ela ainda relatou um outro encontro com Melhem num hotel em São Paulo, no qual teria dito que "não dormiria com ele, que ambos eram casados e que aquilo não podia acontecer".

Em nota enviada ao UOL, Karina explicou que "prefere não se pronunciar publicamente a respeito dos fatos, mas mantém integralmente tudo que afirmou às instâncias competentes".

Mais depoimentos

Já Ellen Rocche afirmou ao MPT que conheceu Melhem em 2008. Ela trabalhou com ele no extinto Zorra Total (1999-2015) e na versão mais atual da Escolinha do Professor Raimundo.

A artista relatou que tinha uma relação boa de trabalho e que o diretor "brincava muito", mas contou que ele constantemente se referia a ela como "linda, maravilhosa e algumas vezes chamava de gostosa". Ela admitiu que "não sabia se eram cantadas ou brincadeiras".

Ellen narrou também uma situação em uma churrascaria em 2015, quando o humorista teria oferecido uma carona. Ela negou e pediu para que Maria Clara Gueiros a acompanhasse até o estúdio. A loira também contou que Melhem teria pedido para ir encontrá-la no hotel dela, mas ela afirmou ter namorado e pediu para "parar com as brincadeiras".

Em depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro no processo de assédio sexual, Maria Clara Gueiros afirmou que o episódio na churrascaria foi mais grave. A atriz contou que Ellen "desesperada bateu no vidro do carro da depoente e pediu desesperadamente que a levasse para qualquer lugar, pois queria evitar ficar sozinha com Melhem".

Já Cininha de Paula contou que viu Ellen chorando ao sair do banheiro antes de uma gravação. A diretora ainda relatou que um outro colega teria flagrado Melhem segurando a atriz contra a parede e dito que só a soltaria se ela o beijasse.

Suzana Pires prestou depoimento na Ouvidoria das Mulheres no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e depois no âmbito do MPT. Ela foi descrita como "vítima de Marcius Melhem em razão de atos de assédio sexual no programa Caras de Pau, em 2010, que foi o primeiro programa em que ele era chefe, além de ator no programa".

A autora relembrou que era a única mulher na equipe de roteiristas, composta por oito homens --além de Melhem. À época, a Redação do programa ficava em um flat no Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Suzana afirmou que precisava "se adequar" para ser ouvida e para "não ser calada pelas 'piadas'" dos colegas.

Ela relatou ainda que o então diretor de Humor teria colocado "as mãos nas pernas da depoente e começou a aumentar a carga do assédio". A roteirista também contou sobre uma ocasião em que ele teria a recepcionado de cueca.

"Após o almoço, as pessoas usavam o banheiro para escovar os dentes; que Marcius saía de cueca do banheiro dizendo 'Suzana, vamos resolver nossa história'; que a depoente começou a sentir muita raiva e começou a reagir com palavras e, a partir daí, o trabalho da depoente passou a ser desvalorizado absurdamente", consta no depoimento.

Em 2021, o humorista prestou esclarecimentos à polícia do Rio e foi questionado se recebia a colega de cueca. "Não é verdade. Isso só ocorreu uma vez só, pois se tratava de brincadeira e também não tinha conotação sexual", alegou.

Outro lado

Em nota enviada à reportagem do UOL, Marcius Melhem rebateu as acusações e disse não ser alvo de investigação no MPT. "Na instância onde foi investigado, nenhuma das três se apresentou como suposta vítima", informaram os advogados Ana Carolina Piovesana, José Luis Oliveira Lima, Letícia Lins e Silva e Técio Lins e Silva --que atuam na defesa do ator.

Marcius Melhem deixou a Globo em agosto de 2020 após ser acusado de assédio sexual por Dani Calabresa e outras atrizes. Ele era responsável pelo departamento de Humor da empresa.

Veja a nota na íntegra:

"É importante registrar, desde logo, que Marcius Melhem não teve acesso à íntegra dos depoimentos no Ministério Público do Trabalho, não é investigado no processo trabalhista e, portanto, não teve oportunidade de contestar as mentiras contidas nos depoimentos ali prestados. Exatamente por isso, esses depoimentos são agora trazidos à publico, sem que Melhem tenha tido a oportunidade de desmascarar tais mentiras. Além disso, o que o UOL chama de 'depoimentos inéditos', na verdade, já foram exaustivamente esclarecidos desde 2021. Nesse sentido, pelo bem da verdade, cabe informar que:

- Suzana Pires, após o mencionado depoimento ao MPT, destituiu a advogada Mayra Cotta e pediu ao Ministério Público do Rio de Janeiro que fosse retirada da lista de supostas vítimas;

- Karina Dohme jamais apareceu como suposta vítima no MP, onde Melhem poderia mostrar muitas comunicações que desmentem narrativas como as mencionadas pela jornalista. Talvez por essa razão, também tenha desistido de aparecer como testemunha na investigação policial;

- Quanto a Ellen Roche, a própria imprensa já divulgou mais de uma vez partes de seu depoimento no MP em que nega acusações de assédio e afirma que trabalharia novamente com Melhem, já que não tem nada contra ele.

Registre-se, mais uma vez, que Melhem não é alvo de investigação no MPT e que, por isso, não pode lá se defender. E na instância onde foi investigado, nenhuma das três se apresentou como suposta vítima.

Trazer à opinião pública três casos já esclarecidos de não-vítimas é mais uma tentativa de manter acesa uma acusação que não se sustenta. Ao requentar notícias ja expostas, deveria a imprensa também lembrar aos seus leitores que o MPT traz uma carta da TV Globo afirmando, após intensa investigação, que não se comprovou assédio de Marcius Melhem."