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POLÊMICA NO REALITY

Sem tretas, BBB19 é marcado por racismo, intolerância religiosa e desinformação

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Após comentários polêmicos sobre racismo, Paula é criticada nas redes sociais e investigada pela Polícia Civil - REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Após comentários polêmicos sobre racismo, Paula é criticada nas redes sociais e investigada pela Polícia Civil

VINÍCIUS ANDRADE

Publicado em 12/2/2019 - 4h57

Com um elenco que evita barracos e tretas, a 19ª edição do Big Brother Brasil é marcada por comentários de cunho racista e de intolerância religiosa. Os participantes Maycon Santos, Paula von Sperling e Hariany Almeida são os protagonistas das conversas preconceituosas, que a Globo não mostra. Em nota, a emissora se defende, dizendo que respeita a diversidade.

Leia também:Leifert quebra o silêncio sobre racismo e intolerância no BBB19: 'Em avaliação'

Porém, quando exibe as falas polêmicas, a edição do BBB19 não se preocupa em contextualizar e explicar para o público a gravidade do que foi dito. Pelo contrário. O apresentador Tiago Leifert faz questão de minimizar, como aconteceu no último domingo (10), quando o programa mostrou Elana Valenária dizendo que se considera negra e Paula fez um comentário questionável.

"Então, eu sou negra. Sou negra porque minha avó é preta também", disse a loira. Gabriela Hebling e Rodrigo França tentaram rebater o comentário da advogada, mas ela continuou: "O pai da minha avó era azul".

Depois, Paula opinou que Gabriela era morena. "Eu não sou morena, eu sou negra", corrigiu a paulista. "Eu posso falar que o Rodrigo é negro porque ele é mais escuro que você", rebateu a mineira. "Ele é mais retinto do que eu, mas eu sou negra. Quando alguém tenta me chamar de morena, tira totalmente a minha história", avisou a percussionista.

Logo após a exibição do vídeo, Leifert não fez questão de se aprofundar no assunto: "Nosso elenco tem muitos momentos como esse de conversas mais sérias e mais profundas, que a gente normalmente não vê num reality. Mas eles também sabem se divertir, sabem o momento de falar sério e o momento de brincar. E ontem [sábado] teve festa", desconversou o apresentador.

No mesmo dia, a Globo mostrou uma fala de Maycon que gerou críticas nas redes sociais. "Cumprimentei [a Gabriela e o Rodrigo], conversei, de repente eu senti um arrepio. Começou a tocar umas músicas esquisitas. Olhei para os dois, num sincronismo legal. Achei legal, juro por Deus. De repente, comecei a olhar e escutar uns negócios. 'Não faça igual a eles'. Aí veio Jesus Cristo na minha mente. 'Se fizer igual a eles, eles ganharão mais força'. Eu não sou doido", falou Maycon em conversa com Diego Wantowski.

Tiago Leifert, que já deu bronca nos participantes e avisou que eles deveriam parar de mandar "beijinho pra câmera", nunca chamou a atenção de ninguém por comentários preconceituosos. Esses não foram os primeiros casos. Paula já foi acusada de racismo por falar sobre cotas e humor negro.

Maycon comentou com Diego que Jesus Cristo veio em sua mente quando viu Rodrigo e Gabi

Intolerância religiosa é crime?
A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) do Rio de Janeiro abriu um inquérito para apurar as declarações polêmicas do BBB19. De acordo com a Polícia Civil, as investigações estão sob sigilo.

Na semana passada, Paula disse ter "medo" de Rodrigo por ele falar de Oxum, orixá da beleza, do amor e da maternidade na Umbanda. De acordo com Jader Freire de Macedo Júnior, ex-presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, isso pode ser considerado intolerância religiosa.

"Ela [Paula] está dizendo que aquela religião que ela tem medo faz o mal. Onde reside a diferença entre liberdade de expressão, liberdade religiosa e ofensa religiosa? A ofensa religiosa nasce no exato instante em que aquele que está falando tem consciência de que ele está machucando, maculando e fazendo doer o sentimento religioso do outro", explica ele ao Notícias da TV.

Na madrugada de segunda, o vendedor de queijos deixou claro que tem medo da religião de Rodrigo e de Gabriela. "Respeito as religiões, mas tenho um certo medo, porque já aconteceram muitas coisas comigo. Uma vez, vi dois urubus em pé, um de costas pro outro. Eram dois espíritos ruins, que estavam comendo umas macumbas. Aí na festa eu sentei ali de boa e comecei a comer", relatou o mineiro.

"Daí o Rodrigo e a Gabriela chegaram, ficaram um de costas pro outro, se abraçaram e começaram a fechar os olhos. Ouvi várias vozes falando comigo dizendo: 'Não seja como eles'. Não só eles, mas todo mundo que é assim. Daí as vozes ficaram falando de Jesus Cristo", finalizou. Veja:

Jader Freire, sem entrar no mérito dos casos investigados pela Decradi, afirma que a pena mínima para um caso de ofensa religiosa pode ser de um ano de reclusão.

"Em um caso de injúria, o indíviduo pode ser preso por três meses para começar, mas se esse mesmo indíviduo chamar alguém de 'macumbeiro safado' pode ser preso, pra começar, por um ano. Ou seja, as penas são muito graves. Porque existe uma condescendência, até do poder público, de não registrar os crimes de preconceito religioso", afirma o advogado.

Em nota, a Globo informa que não foi notificada do inquérito aberto e que respeita a diversidade. "Não fomos notificados, mas é importante pontuar que a Globo respeita a diversidade, a liberdade de expressão e repudia com veemência qualquer tipo de intolerância e preconceito, em todas as suas formas."

"Desde 2016 a emissora mantém no ar a campanha ‘Tudo começa pelo Respeito’, em parceria com Unesco, Unicef, Unaids e ONU Mulheres, que atua na mobilização da sociedade para o fortalecimento de uma cultura que não apenas tolere, mas respeite e discuta amplamente os direitos de públicos vulneráveis à discriminação e ao preconceito. Desta forma, é importante reiterar que qualquer manifestação pessoal, equivocada ou não, feita pelos participantes do programa, não reflete o posicionamento da emissora", diz a emissora ao Notícias da TV.

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