MÉDICOS EXPLICAM
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Claudia Rodrigues em foto publicada no Instagram; atriz vendeu imóveis para pagar tratamento
Publicado em 21/12/2022 - 6h30
Atualizado em 21/12/2022 - 14h24
Claudia Rodrigues passará por um tratamento contra a esclerose múltipla que pode variar entre US$ 36 mil a US$ 50 mil (de R$ 187 mil a R$ 260 mil, na cotação atual). O procedimento, chamado de túnel térmico cerebral, será realizado nos Estados Unidos, mas não tem comprovação científica.
O Notícias da TV questionou três neurologistas sobre o método, que também é denominado "indução de proteínas de choque térmico" e foi descoberto pelo doutor Marc Abreu, na Universidade de Yale.
"Para o objetivo da esclerose múltipla não há nenhuma evidência científica [de que o método funcione]", explica o médico Marcos Alvarenga, PhD em Neurologia.
O neurologista Igor Campana, especialista em esclerose múltipla pela USP (Universidade de São Paulo), reforça a fala do colega. "Não existe evidência científica para o método. É um método que promete melhoria para diversas doenças neurológicas, mas que em nenhum momento foi comprovado."
"A discussão ainda é muito preliminar e necessita de mais evidências científicas. Sem estudos mais fundamentados, não há possibilidade de indicar a técnica em humanos, e a conduta neurológica deve estar pautada nas diretrizes da ABN (Academia Brasileira de Neurologia) e de outras entidades científicas, seja para o tratamento da esclerose múltipla ou para outras doenças neuropsiquiátricas", avalia Luan Lucena, neurocirurgião especialista em neurocirurgia funcional e radiocirurgia.
Assim como mencionado pelo último especialista, a ABN reforçou em 2021 que o método que será utilizado por Claudia Rodrigues não tem comprovação científica:
A Academia Brasileira de Neurologia traz relevante alerta sobre método denominado de indução de proteínas de choque térmico, que, inadvertidamente, vem sendo proposto a pacientes de diversas doenças neurodegenerativas, como as doenças de Alzheimer, de Parkinson e a Esclerose Lateral Amiotrófica.
"Diante de notícias veiculadas recentemente em alguns órgãos de mídia, enfatizamos a todos os cidadãos e, em especial, aos pacientes acometidos e seus familiares, aos médicos de todas as áreas, aos nossos colegas neurologistas e associados da ABN que a técnica não tem qualquer sustentação científica", acrescentou a entidade.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Marc Abreu, responsável pelo tratamento, defende a eficácia da intervenção, apesar de não ter resultados comprovados cientificamente:
Em 2007 foram iniciados estudos sobre tratamentos utilizando o túnel térmico cerebral, o BTT, e em 2011 foram apresentados os resultados da aplicação da tecnologia para tratamento de pacientes com esclerose múltipla no congresso da Sociedade Americana de Anestesistas com o trabalho The Brain Temperature Tunnel: More Than a Path for Monitoring Temperature, os resultados revelaram que o BTT é muito mais que um caminho para monitorar a temperatura do cérebro, mas também um caminho para um tratamento com sucesso para doenças neurológicas.
"A descoberta levou à invenção e patente do sistema Abreu BTT 700, aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador norte-americano semelhante à Anvisa. Estudos continuam a ser feitos, pois envolvem uma combinação de diferentes avanços", acrescenta.
Em conversa com a reportagem, o psicólogo e neurocientista Ricardo Sachser, mestre em Neurociências pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explica que "existem dados pré-clínicos em modelos animais do LNM-UFRGS (Laboratório de Neurobiologia da Memória) que sugerem que o tratamento com choque térmico tem efeito positivo sobre aspectos cognitivos na doença de Alzheimer em ratos".
"O tratamento de choque térmico, através da utilização de sauna infravermelha, mostrou que a indução de HSP70 [uma proteína chaperona específica envolvida nesse processo molecular] é capaz de melhorar parâmetros cognitivos da doença de Alzheimer em animais", acrescenta Sachser.
Porém, segundo o especialista, "é muito importante salientar que para utilizar esta técnica em humanos são necessários estudos controlados duplo-cegos longitudinais para que sejam testados os efeitos dessa estratégia terapêutica".
Claudia Rodrigues colocou parte de seus imóveis à venda para conseguir pagar um tratamento de alto valor. Inicialmente, Adriane Bonato, companheira da humorista, falou que que a intervenção médica custaria US$ 5 milhões (R$ 26,5 milhões, na cotação atual) --os responsáveis pelo procedimento, no entanto, desmentiram a quantia.
A previsão é que o tratamento, que se diz promissor contra a esclerose múltipla, seja feito entre março e abril de 2023 nos Estados Unidos. "Vou me curar", afirmou ela.
A atriz ficou esperançosa com os resultados do procedimento. "Vai sarar minhas sequelas. É genial", declarou a comediante em entrevista para a colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo.
De acordo com Adriane, o pagamento está em negociação. "Claudia já colocou alguns imóveis à venda. Vamos fazer outras coisas para angariar fundos. Ela vai fazer. Só precisamos adaptar o pagamento", afirmou ela.
O tratamento demanda até um mês de recuperação e não assustou a atriz, que está animada diante da melhor oportunidade de voltar a trabalhar. "Ela vai voltar a fazer o que mais gosta, que são os espetáculos dela. Eu também volto a trabalhar. E a gente paga isso", assegurou Adriane.
Em nota enviada à reportagem pela assessoria do médico Marc Abreu, o procedimento aparece como uma saída para devolver a qualidade de vida aos pacientes que sofrem com esclerose múltipla.
"As denominadas proteínas de choque térmico são um grupo de proteínas encontradas em praticamente todos os organismos vivos e exercem funções como a proteção do cérebro em momentos de estresse. Através do equipamento adequado, nós induzimos o cérebro do paciente a temperaturas elevadas de maneira extremamente controlada de forma a ativar as proteínas através de um choque térmico, sem nenhum risco e de forma completamente não invasiva", diz o médico.
Segundo o médico, a indução das proteínas de choque térmico que estavam inativadas nos pacientes tem trazido benefícios como a recuperação de capacidades motoras e cognitivas que haviam sido impactadas pela evolução dos quadros neurodegenerativos.
"Os pacientes em tratamento tiveram recuperação total das funções perdidas. Não é o tratamento simplesmente para impedir a progressão, é uma terapia para reverter o processo, restaurar a função cerebral. Recentemente, um paciente brasileiro de 88 anos com Alzheimer e Parkinson, voltou a andar e a falar. É possível restaurar as funções do cérebro que foram perdidas uma vez que haja essa indução da proteína de choque térmico", completa Abreu.
Na última terça-feira (19) a equipe do médico Marc Abreu havia enviado um e-mail à reportagem para falar sobre o caso de Claudia Rodrigues, explicando como é feito o tratamento por indução de proteína do choque térmico. No documento, inclusive, constam falas atribuídas ao médico sobre a intervenção.
No entanto, após a publicação desta reportagem, a assessoria do médico voltou a procurar o Notícias da TV para apontar supostos "erros de informação", dizendo que o tratamento que será feito em Claudia Rodrigues não se trata de indução de proteína do choque térmico confirmada por eles anteriormente, mas sim de hipotermia avançada guiada pelo cérebro. A diferença principal entre um e outro é que o primeiro eleva a temperatura do cérebro, enquanto o segundo, resfria.
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