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CASO DE SÔNIA

Pessimista? Segunda Chamada combate feminicídio ao expor realidade nua e crua

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

Hermila Guedes com expressão apavorada em cena da série Segunda Chamada

Sônia (Hermila Guedes) em cena de feminicídio em Segunda Chamada: série retrata dura realidade

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 27/8/2023 - 9h00

[Atenção: Este texto pode ser gatilho para vítimas de violência doméstica]

Segunda Chamada não poupa o telespectador e escancara a realidade nua e crua em todos os temas sociais que aborda. E não é diferente no caso de Sônia (Hermila Guedes), vítima de violência doméstica desde a primeira temporada da série. Mesmo após a separação do agressor, a professora acaba entrando para a triste estatística de feminicídios ao ser cruelmente assassinada por Carlos (Otávio Müller) dentro da escola.

Apesar de a série da Globo soar pessimista ao dar um fim trágico à personagem, a psicóloga Laís Nicolodi explica que as cenas podem servir de alerta e até combater o feminicídio ao exporem a realidade.

"Embora possa ser gatilho para muitas mulheres, falar sobre uma violência estrutural, que por vezes ainda é bastante invisibilizada na sociedade, é uma forma de tirar esse tópico da sombra e de dar mais ferramentas para que as pessoas se atentem ao que pode estar acontecendo ao redor delas ou até mesmo com elas. É algo que promove conscientização", afirma a especialista em violência contra a mulher.

A mestra pelo Instituto de Psicologia da USP ainda ressalta que a conscientização é primordial para combater um problema coletivo estrutural e nocivo. Segundo o Monitor da Violência, uma mulher foi morta a cada seis horas pelo companheiro ou ex-companheiro no ano passado. O Brasil bateu recorde de feminicídios em 2022 ao registrar 1,4 mil assassinatos.

A Lei nº 13.104/15 determina o feminicídio como o homicídio de mulheres devido à sua condição de gênero. Leva-se em consideração as razões de condição de sexo feminino quando o crime envolver violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Na produção da Globo, a personagem de Hermila Guedes passa por todas as fases do ciclo da violência, um método utilizado para identificar abusos em uma relação. Na segunda temporada, ela consegue sair do casamento tóxico e começa a seguir sua vida longe do agressor.

Sônia engata um namoro com Marco André (Silvio Guindane), arranja um emprego numa escola particular e vibra com suas conquistas. "Eu nunca me senti tão segura", diz. Mas, depois de alertar a nova namorada de Carlos sobre os riscos de se relacionar com ele, a professora é assassinada com um tiro pelo ex-marido dentro da sala de aula.

A cena do quinto episódio, que será exibido na TV aberta na próxima quarta (30), é chocante. Porém, pode contribuir para mulheres se atentarem aos padrões de violência antes que seja tarde. Laís Nicolodi explica que não é possível cravar que a série provoque pessimismo em todas as vítimas.

Infelizmente, a escolha por evidenciar que não são todas as mulheres que conseguem sair ilesas de uma condição de abuso é um retrato da realidade e uma prova de como a sociedade como um todo falhou com a personagem. Ao mesmo tempo que um retrato fidedigno, por mais cruel e dolorido que seja, também pode servir como condição para alertar a todos para os riscos de se negligenciar uma situação de violência, e as consequências mais fatais.

"Mas vale lembrar que não estamos falando de uma ciência exata. Cada caso é um caso, e quanto mais cuidado e olhares sensíveis ao que de fato está acontecendo, mais precisa se torna a análise", completa a especialista.

Como ajudar a mulher vítima de violência?

Laís também orienta sobre a importância de se oferecer uma rede de apoio. "Conscientização é um passo fundamental para que a mulher consiga se mover para sair do relacionamento. Mas o processo fica muito mais difícil quando ela está sozinha", afirma.

"Acompanhá-la à delegacia e denunciar em casos mais extremos para o 180 podem ser uma opção. É fundamental que a mulher sinta respaldo com o suporte de uma rede sólida, que não vai deixá-la passar por isso sozinha e que a faça se sentir protegida e ter a quem recorrer", arremata.

Para denunciar casos de violência contra a mulher e evitar feminicídios, a pessoa deve ligar para o número 180 (Central de Atendimento à Mulher). Em casos de agressão contra crianças e adolescentes, utilize o Disque 100 (Direitos Humanos). Também é possível acionar a Polícia Militar numa situação de emergência por meio do 190.

Há ainda a possibilidade de registrar boletim de ocorrência online para crimes de violência doméstica e familiar. O Disque Denúncia funciona 24 horas por dia, em qualquer lugar do Brasil e em mais de 16 países.

A profissional valoriza ainda o acompanhamento psicológico para mulheres em situações como a de Sônia. "Ela pode tomar consciência de alguns desses processos mais antecipadamente, reconhecer sinais preliminares de violência e pensar em decisões que sejam mais cuidadosas e nutritivas para sua saúde mental. Mas a terapia também não é algo que se encerra ali em si mesma. Ela pode também desenvolver estratégias para ampliar sua rede e poder contar com mais uma fonte de suporte", explica.


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