LINDINHAS
Reprodução/Netflix
Fathia Youssouf é a protagonista de Lindinhas (2020); filme causou antes mesmo de sua estreia na Netflix
O pedido feito pela ministra Damares Alves para que a Netflix suspenda a exibição de Lindinhas (2020), que estreou recentemente na plataforma, deu sequência às polêmicas envolvendo o filme. Assim que entrou no catálogo do streaming, o longa recebeu críticas por parte do público, que acusou a produção de sexualizar as crianças protagonistas. Mas será que a produção faz mesmo alusão à pedofilia?
A trama gira em torno de um grupo de meninas com cerca de 11 anos. Elas ensaiam coreografias de dança após as aulas e desejam entrar em um concurso local. Ao mesmo tempo, as garotas precisam enfrentar os olhares de reprovação da sociedade mais velha e conservadora.
Por se tratar de um filme com muita dança, as cenas nas quais as protagonistas mostram suas habilidades aparecem em abundância. O rebolado e os closes da câmera em cada movimento fazem parte da história.
Diferentemente do sugerido por Damares e pelo secretário Mauricio Cunha, titular da SNDCA (Secretaria Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente), a narrativa de Lindinhas propõe uma discussão muito mais ampla.
Mesmo que as coreografias sejam descritas como sensuais, as lentes da diretora Maïmouna Doucouré a todo momento se preocupam de lembrar o público que está assistindo a uma produção estrelada por menores de idade. Entre um rebolado e outro, elas brincam, dão risada e se divertem.
Como Maïmouna já alegou em entrevistas defendendo o longa, Lindinhas é sobre a transição para a juventude e o sentimento de não ser mais criança. Isso fica claro em cenas como a que a protagonista Amy (Fathia Youssouf) tem a sua primeira menstruação.
A problematização de como adultos enxergam o rebolado de garotas de 11 anos também está ali, de maneira escancarada. Quando as meninas do grupo começam a dançar na frente de dois seguranças para provar que são bailarinas, um deles as observa com um olhar de desejo, algo prontamente repelido tanto pelas meninas quanto por seu companheiro. A cena em questão poderia ser usada como lembrete àqueles que assistem ao filme com a mesma percepção.
Entretanto, toda a discussão criada sobre os momentos focados nas coreografias é pertinente. Elas estão ali exatamente para chocar o público. Como explicou Maïmouna, Lindinhas também é uma discussão sobre o atrito entre gerações, a liberdade da juventude francesa atual oposta ao conservadorismo religioso, que assola a França e outros países do mundo.
Censurar uma obra que busca problematizar a sexualização das crianças, ao contrário do que sugerem os críticos, é se recusar a enxergar uma história sobre o amadurecimento e os conflitos que isso traz para cada um perante a uma sociedade que nos julga constantemente.
"Crianças e adolescentes são o bem mais precioso da nação e o mais vulnerável. É interesse de todos nós botarmos freio em conteúdos que coloquem as crianças em risco ou as exponham à erotização precoce. O governo do presidente Jair Bolsonaro não vai ficar parado nessa luta. Vamos tomar todas as medidas judiciais cabíveis. A nossa luta é para direitos humanos para todas as crianças do Brasil", afirmou Damares Alves em nota divulgada por seu ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Apesar da solicitação da ministra, o longa segue disponível para os assinantes da plataforma. À reportagem, a Netflix se justificou:
"Mignonnes [título original de Lindinhas] é um comentário social contra a sexualização de crianças. É um filme premiado e uma história poderosa sobre a pressão que jovens meninas enfrentam nas redes sociais e também da sociedade. Nós encorajaríamos qualquer pessoa que se preocupa com essas questões importantes a assistirem ao filme."
Assista ao trailer do longa:
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