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PRODUÇÃO FRANCESA

Netflix estreia Lindinhas, filme que rendeu ameaças de morte à diretora

Divulgação/Netflix

Fathia Youssouf  em cena de Lindinhas (2020), filme original da Netflix

Fathia Youssouf é a protagonista de Lindinhas (2020); filme causou antes mesmo de sua estreia na Netflix

ANDRÉ ZULIANI

Publicado em 9/9/2020 - 6h45

A Netflix estreia nesta quarta-feira (9) o filme Lindinhas, longa francês adquirido pela plataforma após a boa recepção no Festival de Sundance deste ano. Mas o que poderia ser mais um sucesso do serviço foi abalado antes mesmo do lançamento por uma sequência de eventos que culminaram em ameaças de morte à diretora, Maïmouna Doucouré.

A trama gira em torno de um grupo de garotas de 11 anos que ensaia coreografias de danças após as aulas da escola. Mas os problemas surgiram quando a Netflix deu início aos trabalhos de divulgação do filme nos Estados Unidos. 

Ao escolher a foto que estamparia os pôsteres promocionais no país, a plataforma selecionou uma imagem na qual as protagonistas apareciam com roupas de animadoras de torcida e em poses consideradas impróprias para menores de idade.

As imagens logo repercutiram nas redes sociais, e o serviço de streaming foi acusado de sexualizar as atrizes mirins para promover o longa. Depois da primeira impressão negativa, a Netflix emitiu um comunicado oficial se desculpando pela escolha equivocada e retirou as artes de circulação.

A atitude da empresa, contudo, não foi o bastante para acalmar o público que se revoltou com a publicação dos pôsteres. As manifestações se intensificaram, com ataques direcionados a Maïmouna nas redes sociais e outras mídias.

Em entrevista ao site Deadline, a cineasta descreveu a situação como uma experiência desagradável. Ela afirmou ter tomado consciência dos pôsteres ao mesmo tempo que o público estadunidense.

"Eu estava completamente concentrada no lançamento do filme na França. Fiquei sabendo junto com as pessoas nos EUA. Foi uma experiência estranha. Eu não tinha visto o pôster até começar a receber as reações nas redes sociais, mensagens diretas, ataques direcionados a mim. Eu não estava entendendo, até conseguir ver a imagem", confessou ela.

Maïmouna enfatizou que é contra a hipersexualização de crianças, justamente a acusação que estava sofrendo do público. Os abusos tomaram proporções tão grandes que ameaças de mortes à sua vida foram enviadas. "Fui atacada e recebi ameaças de pessoas que nem chegaram a assistir ao filme", disse.

Apoio de peso

De acordo com a diretora, além do apoio de personalidades da indústria do entretenimento, ela recebeu um contato de Ted Sarandos, chefão da Netflix, que quis se justificar. "Tivemos diversas conversas para falar sobre o ocorrido. A Netflix se desculpou publicamente e pessoalmente comigo".

Apesar da crise, ela destacou a importância da parceria com a plataforma. "Streamings são uma ótima ferramenta para exibir a minha história e compartilhar a minha mensagem com outras pessoas".

A atriz Tessa Thompson, da série Westworld e do filme Creed: Nascido para Lutar (2015), também demonstrou publicamente o seu apoio à diretora. Em seu perfil no Twitter, ela criticou a escolha da foto para o pôster e disse que a arte não representa a narrativa contada por Maïmouna.

"Desapontada em ver como [o pôster] foi posicionado em termos de marketing. Eu entendo a reação de todos. Mas isso não retrata o filme que eu vi", escreveu.

DIVULGAÇÃO/NETFLIX

Lindinhas é descrito como um projeto baseado na experiência pessoal de Maïmouna Doucouré


Inspirado na própria história

Segundo Maïmouna, Lindinhas foi criado para ser uma história provocativa e baseada nas experiências da diretora. Amy, a protagonista vivida por Fathia Youssouf, se vê dividida entre o discurso conservador e religioso de sua família de imigrantes senegaleses e a cultura liberal vivida na França nos dias atuais.

Para a cineasta, ela mesma uma descendente do Senegal, se trata de um projeto muito pessoal. "Eu coloquei meu coração nesse filme. É de fato a minha história, assim como a de muitas crianças que transitam entre o liberalismo ocidental e a cultura conservadora dos países nativos."

Apesar da reação negativa nos EUA, a artista tem confiança de que o público julgará positivamente o filme após vê-lo. "Eu realmente espero que quem não assistiu, assista. Tenho esperança de que eles entederão de que estamos do mesmo lado nessa batalha. Se juntarmos forças, conseguiremos mudar esse mundo que hipersexualiza nossas crianças."

Adiamento na Turquia

A polêmica envolvendo os pôsteres de Lindinhas ultrapassou fronteiras e chegou até a Turquia, país com governo conservador e que já protagonizou problemas com outras produções da Netflix.

De acordo com a Reuters, o governo turco solicitou à plataforma o bloqueio do filme para os assinantes do país. Sob a justificativa de imagens que expõe crianças, o ministro da Família disse que a produção "pode colocar menores em contato com negligência e abuso, impactando negativamente no desenvolvimento psicosocial".

Uma campanha online também exigia o bloqueio da exibição do filme. Em 24 horas, cerca de 25 mil pessoas assinaram a petição. A Netflix atendeu ao pedido e adiou a estreia de Lindinhas. Uma nova data ainda deve ser escolhida.

"Após o Supremo Conselho de Rádio e Televisão [RTÜK, na sigla local] solicitar, nós decidimos adiar a data de lançamento do filme na Turquia", disse o representante da plataforma no país.

Confira abaixo o trailer oficial de Lindinhas (com legendas em inglês):

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