FOBIA SOCIAL
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Juma (Alanis Guillen) teve crise de ansiedade e falta de ar antes de casamento em Pantanal
Juma (Alanis Guillen) pode até virar onça quando está com "réiva" em Pantanal, mas também é humana a ponto de sentir medo de experimentar o novo. Antes de casar, a mocinha se desesperou e teve uma crise de ansiedade com sintomas de pânico na novela das nove da Globo. "A ansiedade apresenta causas mais lógicas e concretas. Já a crise de pânico não tem hora nem motivo para começar", explica a psicóloga Ana Café.
No folhetim adaptado por Bruno Luperi, a protagonista tomou um susto ao ver a quantidade de convidados para o casório com Jove (Jesuita Barbosa). "Tem muita gente lá embaixo, muita gente junta. Eu nunca vi. Eu não conheço e não quero conhecê", desabafou a noiva com Filó (Dira Paes), já dando indícios de que sofre também de fobia social.
A pantaneira começou a passar mal ao ser maquiada por Irma (Camila Morgado), que até tentou acalmar a jovem e a ajudou com um exercício de respiração. "Eu não tô conseguindo respirar... O que tá acontecendo?", questionou-se a menina-onça. Apavorada, ela fugiu da fazenda pouco antes de subir ao altar.
"Ocê tá com medo, Juma", apontou o Velho do Rio (Osmar Prado). "Eu não tô com medo, eu tô com réiva que eu não me vejo nessa roupa. Eu quero imbôra. Eles querem prender eu", rebateu a mocinha. "Eu tô com medo", admitiu ela um pouco depois.
"Eu sei que tá, Juma. Por isso eu tô aqui", assegurou o encantado. "Ocê fica com eu, ocê não me larga?", pediu a selvagem. "Eu vou tá do seu lado. Arguma vez eu fartei com a minha palavra?", afirmou o protetor. Com a ajuda do ancião, a herdeira de Maria Marruá (Juliana Paes) se acalmou e chegou à cerimônia nos 45 do segundo tempo.
Juma (Alanis Guillen) em cena da novela
A psicóloga Ana Café ressalta que é importante diferenciar a ansiedade normal da patológica: "Todo mundo passa por situações que geram ansiedade, mas é uma reação normal do corpo e da mente quando a gente está em situações ameaçadoras, que nos colocam em risco, que fazem com que tenha medo ou fique em dúvida. Também pode acontecer pela expectativa de algum resultado".
"Esse tipo de ansiedade se manifesta sempre relacionada a fatos reais. São coisas que estão para acontecer, não são pensamentos irreais. No transtorno de ansiedade, a gente vai encontrar pensamentos e ideações irreais. Na ansiedade normal, existe o dado de realidade. A intensidade da ansiedade também é normal, não é uma ansiedade que extrapola o bem-estar físico e mental", completa a profissional especializada em saúde mental na infância e adolescência.
O transtorno de ansiedade generalizada é um tipo de adoecimento mental, um distúrbio caracterizado por preocupação excessiva, sempre relacionada ao medo, ligada a pensamentos negativos, uma expectativa de que as coisas não vão dar certo. A manifestação da ansiedade é sempre com grau muito acentuado. É uma patologia que vem isolada, mas, em diversas situações, vem atrelada a processos depressivos também.
"Esses sentimentos de medo, de apreensão e expectativas negativas são persistentes e intensos, de difícil controle. Quando a pessoa chega nesse ponto, começa a ter dificuldade de controlar as reações perante a esses sentimentos. O corpo parece que começa a entrar no controle do sujeito. Como no caso da Juma na novela. Ela começou a não respirar. A gente hoje vê esse quadro constantemente dentro da nossa sociedade. São todos medos inconscientes que, de repente, dominam o nosso corpo", afirma a psicóloga.
Ana explica que o fator que diferencia a crise de ansiedade e o ataque de pânico é a intensidade dos sintomas e como eles se manifestam. "Na questão do imprevisível, muitas vezes, a gente percebe que está num quadro de ansiedade, que está mais acelerado, desfocado. A ansiedade apresenta causas mais lógicas e concretas, um desafio que vai ser enfrentado. Já a crise de pânico não tem hora nem motivo para começar. Costumo dizer que toda pessoa que tem síndrome do pânico também tem ansiedade. O que acontece é que ela ter crises é independente de situações desencadeadoras."
"Ambas têm tratamento. O importante é um bom diagnóstico e que o tratamento inclua uma combinação de terapia com medicamentos, é o que tem demonstrado melhores resultados. Dentro do processo terapêutico, é muito importante que o psicólogo vá fazendo com que o paciente construa novas habilidades para lidar com as crises e vá identificando as situações, emoções e sentimentos que fazem ele entrar em crise", aponta a profissional.
Filó amparou Juma em momento de crise
Ana relaciona também a crise de ansiedade da protagonista com o fato de ela viver muito isolada na tapera desde criança: "A Juma não ter tido um convívio social faz com que ela reaja dessa forma, com medo de se expor, de estar próxima de pessoas".
"Além de ela não ter sido criada dentro de uma sociedade com outras pessoas, ainda tem diversas crenças que a mãe incutiu nela. A crença de que as pessoas são ameaça, de que ter filho é sofrer… Ela viveu basicamente com essa mãe, que era uma pessoa com muito sofrimento e que transfere para ela todos esses sentimentos de desesperança."
"E a gente vai ver também que existe um tipo de ansiedade, que é estar no meio de pessoas: a fobia social. Ela tem dificuldade de se relacionar, de olhar nos olhos. Ela está sempre com o olhar fugindo, é uma dificuldade de relacionamento social. A ansiedade é detonada por medo, preocupações e expectativas demasiadas, essas pessoas vão gerar tudo isso nela", completa a psicóloga.
"O ideal, dentro do processo terapêutico, é identificar quais são os pensamentos desencadeados no momento em que está no ambiente com outras pessoas. No caso da Juma, a sensação de ameaça vem das crenças da mãe e do isolamento dela. A melhor terapia é a de exposição, fazer com que a pessoa enfrente o medo e perceba que ela consegue lidar com essa situação", afirma Ana.
Na cena da novela da Globo, Filó tentou incentivar a jovem a superar seus medos e entrar no altar. Já Irma ofereceu água para a pantaneira e pediu para ela respirar com calma. Em contrapartida, Mariana (Selma Egrei) demonstrou pouca paciência com a noiva do neto e só faltou dizer que tudo era "frescura".
"A rede de apoio é importante, é fundamental. Mas é muito complicado aquelas falas 'você não tem nada, não tem nada acontecendo, você tem que casar'. E a pessoa vai dizendo: 'eu não estou conseguindo'. O que é simples não está dando para ser feito", avalia a psicóloga.
Nesses momentos, sempre funciona melhor [ter] uma figura de confiança. Na verdade, a Juma só se acalma quando encontra o Velho do Rio, que pra ela é uma figura de extrema confiança. É como se fosse uma referência de pai, de Deus... Ela só se acalma quando vai para esse lugar de segurança.
"É isso que uma pessoa quando tem crise de ansiedade precisa identificar: qual é o meu lugar de confiança? Qual é a pessoa que eu me sinto segura e confiante ou o que eu posso construir como uma âncora para me sentir segura? Quando começar a sentir [a crise], tem um cordão com uma imagem que dá uma sensação de calma. Então anda com cordão, mentaliza no cordão e desfoca dos sintomas da crise", aconselha a especialista.
Velho do Rio ajudou Juma em crise
Ana ressalta que é importante identificar os sintomas para que seja feito um diagnóstico preciso e precoce: "Para se fazer um diagnóstico, é importante se levar em conta toda a história do paciente. A gente precisa saber onde começa esse transtorno. Tem psiquiatras que fazem uma avaliação muito criteriosa até para ver se existem questões endócrinas que estão envolvidas nisso". Alguns dos principais sintomas da ansiedade são:
"É uma doença decorrente de questões físicas, comportamentais e existenciais. Muitas vezes, as crises de ansiedade estão ligadas às crises no sentido de ser e de existir. Hoje, nos consultórios de psicologia e psiquiatria, é uma das patologias mais tratadas. A gente tem um índice de venda de medicações para a ansiedade altíssima no Brasil. O Brasil é um país muito ansioso", explica a psicóloga.
A profissional orienta ainda como amenizar os sintomas e a intensidade das crises: "A gente oferece algumas estratégias para que a pessoa comece a aprender a lidar com as crises e a identificar antes de uma crise chegar, como aprender a respirar, controlar o tempo da respiração quando isso é possível e viável. Aí ela consegue interromper o gatilho da ansiedade. Mas, quando ela entra na crise, fica um pouco mais difícil, não que não seja possível".
O mais importante com relação aos transtornos de ansiedade é entender, aceitar, acolher, se fazer carinho. Porque as pessoas que sofrem com esse tipo de transtorno são muitas vezes questionadas, como se elas pudessem ter controle sobre os episódios. Eu não controlo os pensamentos que estão vindo, não controlo os sentimentos que estão vindo.
"Poder se perceber dentro de um padrão, entender o que é ansiedade, que é uma doença, que tem uma química por trás disso, e poder aprender a monitorar é muito importante. Toda vez que um paciente está mais informado, ele tem menos crises", diz ela.
"O importante é entender que quem trata ansiedade são psiquiatras e psicólogos, que têm essa expertise. Muitas pessoas chegam sendo medicadas por cardiologistas, ginecologistas, dermatologistas. Tratar a ansiedade não é só amenizar a crise, a gente faz com que essa pessoa se trate no sentido de que as crises deixem de existir", alerta Ana Café.
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