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JACQUELINE SATO

Atriz arregaça as mangas e cria programa sobre representatividade amarela na TV

Divulgação/Andrea Dematte

Jacqueline Sato sorri em foto de divulgação

Jacqueline Sato em foto de divulgação; atriz vai apresentar o programa Mulheres Asiáticas

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 21/12/2023 - 14h01

Cansada das poucas oportunidades para pessoas amarelas na TV e após recusar vários papéis extremamente estereotipados, Jacqueline Sato decidiu agir e produzir ela mesma um programa focado na representatividade. Assim nasceu o Mulheres Asiáticas, com previsão de estreia para 2024 no canal E!.

"A ideia do projeto surgiu muito por conta da ânsia por ver mais representatividade amarela no audiovisual. Sempre foi muito aquém, e isso me afetou de uma forma ou de outra", explica a apresentadora ao Notícias da TV.

A atriz conta que tinha como estratégia se preparar ao máximo e estudar muito para poder conquistar oportunidades na TV, mas os papéis eram bem poucos. "E muitos nos retratando de formas estereotipadas que, de verdade, não dá a menor vontade de fazer. Por não querer replicar aquilo que faz com que se perpetuem muitos preconceitos em relação às pessoas pertencentes a este recorte", desabafa.

Jacqueline encontrou forças nessa inquietude para quebrar estereótipos e pensar numa atração que colocasse mulheres asiáticas reais na frente da TV. "Eu passei tanto esperando para ver isso no audiovisual, que, quando sentei para escrever, saiu praticamente de uma vez só. Sério, de cara a essência e a estrutura do programa já estavam lá", detalha ela.

A artista encarou um pitch deck e mostrou sua ideia aos executivos do canal. "Muito ouvi do brilho nos meus olhos ao apresentar para eles e para todas as outras pessoas que vieram a integrar a equipe", conta. Após a aprovação, Jacqueline começou a desenvolver melhor a atração.

Eu me orgulho de dizer que foi a primeira vez em que houve uma equipe de desenvolvimento inteiramente composta por mulheres amarelas nipo-brasileiras. Foi emocionante. Lágrimas de 'eu não acredito no que estou vivendo, mas que bom que isso finalmente está acontecendo' rolaram entre nós. Posso dizer que foi mágico e que nossas ancestrais todas deviam estar celebrando muito junto com a gente.

O formato mistura documentário, talk show e reality. A apresentadora recebe duas convidadas de profissões diferentes a cada edição e mostra uma minibiografia --narrada por alguém importante da vida dessas mulheres.

Após uma conversa, as convidadas trocam experiências e ensinam uma a outra algo de sua profissão. "Um desafio no qual todas as envolvidas saem ganhando. É surreal de lindo ver o quão profundas foram as trocas", valoriza.

"Trabalhamos com diferentes gerações, com idades que vão dos 25 aos 80 anos para, justamente, trazer o contraste belíssimo que há na diferença", completa ela.

A diversidade é um dos principais objetivos do programa. Por isso, entre as entrevistadas estão atriz, cantora, ceramista, atleta de judô, enfermeira, sargento do Exército, estilista, modelo, arquiteta, cultivadora de ingredientes da culinária japonesa, consultora de marketing internacional, criadoras de conteúdo digital, diretora, apresentadora, roteirista e mestre cervejeira.

Avanço na representatividade

Jacqueline também espera que mulheres asiáticas sejam cada vez mais representadas no audiovisual. "Demorou muito, mas com certeza já teve um avanço. Antes era algo que eu debatia sozinha. Agora já tenho espaços onde posso conversar disso e ser ouvida com respeito. Ainda falta muito, pois tem muita gente que nunca parou para pensar a respeito e que não enxerga isso como algo sério e que merece atenção", afirma.

A atriz agora também faz questão de abordar tal assunto para provocar reflexão nos outros. "Inclua asiáticos e descendentes na sua 'diversidade'. Está melhorando, mas ainda falta muito. Considerando os lançamentos mundiais de séries, novelas, filmes, quantos contêm alguma pessoa asiática? E ainda mais em papéis centrais. Não estou nem falando de protagonistas, embora já tenha passado da hora de haver conteúdo com pessoas amarelas protagonizando histórias também", provoca.

"Quando a gente vem para os lançamentos nacionais, essa presença é ainda mais ínfima. Tenho ido a muitos festivais e feiras de audiovisual, e é assustadora a discrepância. E a desculpa de 'não tem atores e atrizes amarelos' é a maior mentira em que muita gente acreditou por muito tempo", dispara a ativista.

Jacqueline ressalta que tem um grupo de WhatsApp com quase 200 artistas amarelos. "Eu entendi que esperar já não me cabe mais. Decidi agir, e o Mulheres Asiáticas é só o primeiro de muitos conteúdos que pretendo trazer ao mundo para dar voz e visibilidade a esta parcela da população e àquilo que sempre esperei ver nas telas, mas, infelizmente, até agora vi muito pouco."

A atriz, inclusive, conta que já sofreu muito preconceito ao longo da carreira. "Incomoda toda vez, mas a gente respira fundo e tenta explicar para o outro lado quando há abertura. Quando não há, no meu caso, eu me nego a fazer. É muito sofrido ter que negar um papel, posto que as oportunidades já são tão poucas", lamenta.

Mas eu, que tenho usado minha voz, visibilidade e energia para lutar por mais representatividade, não consigo aceitar situações assim. Escrever e produzir um papel estereotipado são uma forma de reforçar preconceitos. Ainda mais hoje em dia, que há tanto acesso à informação. Se há cuidado para lidar com tantos outros assuntos, por que não ter cuidado também ao lidar com os personagens e histórias relacionados a nós?

Referências e inspirações

A atriz comenta a dificuldade de encontrar referências na TV brasileira quando decidiu seguir carreira artística. "A única que eu cheguei a ver e falar 'olha tem uma ali que, de alguma forma, se parece comigo' foi a Danni Suzuki", conta.

"E isto teve um papel importante para mim, de me encorajar a seguir em frente na escolha de ser atriz, mesmo que os desafios fossem enormes, maiores do que para quem não pertence a um recorte subrepresentado como o nosso. Ver alguém como nós ocupando espaços assim ajuda o impossível se tornar possível", valoriza.

Hoje, Jacqueline também serve como inspiração para outras meninas e mulheres. "Quando comecei a ouvir relatos, aquilo me derreteu. Ao mesmo tempo me fortaleceu para seguir em frente mesmo quando estava muito difícil. Eu me emociono toda vez que escuto ou leio algo assim. Sei profundamente o quanto se ver representada nos transforma", se emociona.

A artista, inclusive, teve uma experiência marcante com Ana Hikari. As duas se conheceram pessoalmente em um almoço, e a então recém-formada desabafou sobre as inseguranças na profissão.

"Ela me contou que, em um momento muito difícil e quase desistindo, ela me viu na TV. E aquilo a fez acreditar que, sim, era possível. Ela fechou os olhos e mentalizou: 'Um dia, eu também quero estar ali'. Isso, de alguma forma, deu força e inspiração para ela seguir em frente acreditando", detalha.

Poucos meses depois, Ana foi escalada para viver a primeira protagonista amarela da Globo em Malhação - Viva a Diferença (2017). "Faz eu me lembrar muito de quando vi a Danni pela primeira vez, e isso também me deu coragem de escolher atriz como profissão. Olha o poder de ter uma ocupando esse espaço", ressalta a intérprete de Mirella na série A História Delas.

"Estou falando aqui da corrente entre nós três, mas imagina a quantidade de milhares de meninas e mulheres que foram impactadas porque uma mulher amarela está em algum papel de destaque. Agora, imagina a força que teria se houvesse espaço para que fôssemos, pelo menos, algumas dentro das tramas", arremata.

Ativismo

Jacqueline ainda se dedica às causas animal e ambiental, assuntos que aborda constantemente em suas redes. Ela é embaixadora do Greenpeace Brasil e fundadora do House of Cats, que incentiva a adoção de gatos.

"Todas estas minhas formas de existir nesse mundo fazem parte de quem sou e do que acredito de forma muito intrínseca. Eu acredito e quero ver a mudança para melhor acontecer no mundo. Entendo a rede social como uma plataforma muito potente para isto. Se ela tem a capacidade de conectar pessoas que tenham o mesmo interesse e informar, não vejo melhor forma de usá-la", afirma.

"Desde pequena, percebi a força que uma pessoa pública tem na sociedade, de influenciar, de unir pessoas. Gosto de pensar que, se tem algo útil em ser conhecida por um grande número de pessoas, trazer à tona questões importantes e fazer essas pessoas refletirem sobre e se engajarem é, sem dúvida, uma das coisas mais úteis", defende.


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