Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
X
Instagram
Youtube
TikTok

ANÁLISE

Em nova The Crown, Olivia Colman não supera trabalho de sua antecessora

Des Willie/Netflix

Olivia Colman (Elizabeth) e Tobias Menzies (Philip) em cena da segunda temporada de The Crown

Olivia Colman (Elizabeth) e Tobias Menzies (Philip) em cena da segunda temporada de The Crown

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 28/11/2019 - 4h53

Depois de duas temporadas com a ótima Claire Foy no papel da rainha Elizabeth, The Crown voltou à Netflix com Olivia Colman à frente do elenco. Mas a diferença física entre as duas é tão notável que acaba prejudicando a experiência de apreciar a reprodução de época simplesmente impecável da produção da Netflix.

Nada contra Olivia, que já teve uma incrível personagem na série Fleabag, ganhadora do Emmy, e que levou o Oscar deste ano ao interpretar outra rainha, Anne, no filme A Favorita. Mas avaliar o seu trabalho na série passa, inevitavelmente, por uma comparação com o de sua antecessora. E ela não é favorável à novata.

De fato, foi Claire quem construiu a imagem dramatúrgica da rainha, com seus grandes olhos azuis sempre rígidos e hesitantes. A produção resolveu não tentar aproximar as duas atrizes fisicamente: Olivia surge com olhos escuros e uma voz aguda, o que se torna um choque.

Os olhares de baixo pra cima, típicos da atuação de Matt Smith na pele do príncipe Philip, dão lugar a uma certa apatia por parte de Tobias Menzies, que assume o papel. Já a irmã da rainha, que nas duas primeiras temporadas era vivida por uma deslumbrante Vanessa Kirby, é assumida por Helena Bonham Carter --que mesmo com o físico muito diferente da atriz, consegue se aproximar melhor da constante infelicidade de Margareth.

Pode parecer tolice dar atenção para esses detalhes, sobretudo quando consideramos o trabalho da direção de arte. Mas, justamente porque tudo em The Crown busca excelência na proximidade com a realidade, decisões questionáveis de elenco podem prejudicar o resultado final. Todos sabem que a série é muito competente, mas a rainha do terceiro ano não consegue superar sua antecessora.

Esse novo ciclo começa com a posse de Harold Wilson (Jason Watkins) como primeiro-ministro. Ele passa a ser aquele que tem aquelas frias audiências com a rainha antes das tomadas de decisão. A temporada cobre o período entre 1964 e 1977, poucos anos antes de a família real viver aquele que é considerado seu maior escândalo: a chegada de Diana, futura princesa de Gales.

divulgação/netflix

Claire Foy e Matt Smith (à dir.), astros das duas primeiras temporadas: atuações superiores

Seja pelo período abordado ou não, o fato é que todos brilham em torno de Olivia Colman, enquanto ela está aprisionada numa personagem que precisa se conter o tempo todo. É difícil, visto que a juventude da rainha ajudava Claire Foy a expressar a dificuldade de ajuste da personagem. A nova rainha já sabe qual é o seu trabalho, e é apenas em seus olhos que os terrores podem aparecer.

Entre passagens fortes, como a do desastre de Aberfan, e outras nem tanto, como a descoberta de que um dos conselheiros era um espião soviético, a temporada reserva para sua reta final aquilo que todos estão esperando para ver: a chegada dos conflitos pessoais de Charles (Josh O'Connor), perdidamente apaixonado pela complexa Camila Shand (Emerald Fennel), que viria a ser, no futuro, o pivô do divórcio do príncipe e de Diana.

Lady Di só dará as caras na série na temporada que vem, mas ver o desespero de Charles para conseguir agir por conta própria é o ponto alto dos novos acontecimentos. Em torno dos conflitos políticos da rainha, as narrativas de Margaret e Charles acabam sendo aquelas que levam o público de volta para a história. Eles vivem dramas identificáveis. Olivia, inclusive, cresce em cena quando a divide com um dos dois.

Ainda repleta de qualidades técnicas e com um texto sensível, The Crown aproveita essa temporada para se debater sobre as falhas da família real, como o hábito perturbador e constante de sacrificar sentimentos alheios em nome dessa impenetrável reputação de força e frieza. Década após década, os sacrifícios são feitos e só resultam em mais dor e escândalo. Mesmo assim, em meio à riqueza e ao esnobismo, esses erros seguem sendo cometidos.

A quarta temporada já está confirmada, e Diana não será a única que chegará para agitar as coisas. A primeira-dama Margareth Thatcher (vivida por Gillian Anderson, a Scully de Arquivo X) deve ser uma parte importante do novo ano.

Espera-se que, com tantos conflitos e desentendimentos, a rainha de Olivia Colman tenha mais chances de brilhar. Por hora, pode-se dizer que nos quesitos frieza e apatia, ela está indo muito bem. O que lhe falta são nuances.

Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.