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NOVA TEMPORADA

Com novo elenco, The Crown aposta em 'caso da semana' e perde brilho

Fotos: Des Willie/Netflix

A atriz Olivia Colman em cena da terceira temporada de The Crown; ela é a nova intérprete da rainha Elizabeth

Ganhadora do Oscar de melhor atriz deste ano, Olivia Colman se sai bem como a nova rainha Elizabeth

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 17/11/2019 - 6h01

Superprodução da Netflix, The Crown chega à sua terceira temporada neste domingo (17) com uma reformulação que não atinge apenas o seu elenco, totalmente substituído: a própria maneira de contar a história da monarquia britânica é alterada, com uma crise política por episódio, exatamente como o "crime da semana" de séries estilo CSI.

O resultado disso é que a série perde uma parte de seu brilho com uma narrativa fragmentada, formada por capítulos que não têm nenhuma ligação entre si. É possível assistir aos episódios fora de ordem, ou mesmo pular alguns com tramas pouco atrativas, sem nenhum prejuízo à compreensão da história maior.

Em termos de produção, The Crown continua esplendorosa, fazendo valer seu orçamento de mais de R$ 400 milhões por temporada. Os cenários grandiosos impressionam, assim como a reconstituição da época (a temporada vai de 1964 a 1977). A atenção aos mínimos detalhes resulta em um produto de encher os olhos.

Ganhadora do Oscar de melhor atriz deste ano por sua performance como a rainha Anne (1665-1714) no filme A Favorita, Olivia Colman também faz bonito na pele de outra regente, Elizabeth, e tem tudo para lutar pelo Emmy e pelo Globo de Ouro em 2020. Ela consegue tirar leite de pedra de uma personagem que é descrita o tempo todo como "sem graça", e comove o público até mesmo com a incapacidade da monarca de mostrar qualquer tipo de emoção.

Criador da série, Peter Morgan acerta em cheio ao fazer o primeiro episódio da temporada sobre envelhecer. Ele coloca o retrato da jovem Claire Foy (que viveu a rainha nos dois primeiros anos) lado a lado com o de Olivia, para tirar qualquer dúvida de que o tempo passou para a regente do Reino Unido. A própria rainha se define como uma "velha feia" ao encarar as duas imagens.

O novo elenco de The Crown: ao centro, os protagonistas Olivia Colman e Tobias Menzies

O novo elenco recebe boas oportunidades de mostrar seu talento, cada um dos atores com um capítulo para chamar de seu. Tobias Menzies, indicado ao Globo de Ouro de 2016 por seu trabalho em Outlander, constrói um príncipe Philip ao mesmo tempo austero e frustrado, adepto das tradições reais e que desfruta de sua vida de luxos, mas que também gostaria de uma rotina de plebeu longe dos holofotes.

Já a excêntrica Helena Bonham Carter, que concorreu duas vezes ao Oscar, tira o máximo que pode dos dois episódios centrados na nada tradicional Margaret, que vive à sombra da irmã apesar de ser uma figura muito mais curiosa. Na interpretação de Helena, a princesa é uma mulher em crise e petulante, bem diferente da jovem cheia de vida interpretada por Vanessa Kirby nos dois primeiros anos.

Para sorte do público que adora ser provocado com um discurso fora dos padrões, o papel de questionar a realeza ganha uma nova representante: a princesa Anne (Erin Doherty), filha de Elizabeth que decide aproveitar ao máximo a vida, já que as chances de herdar a coroa são mínimas --pelas leis da época, até seus irmãos mais novos passariam à frente dela na linha de sucessão pelo fato de serem homens.

Anne é um ponto fora da curva em uma família que, para seguir o decoro esperado de monarcas, evita esboçar qualquer tipo de reação. A jovem faz sexo sem compromisso, não tem papas na língua e até questiona os próprios pais. Sua intérprete, Erin Doherty, tem tudo para se tornar uma estrela --The Crown é o primeiro grande papel dela, que tinha apenas uma participação na série Call the Midwife e uma personagem de pouca expressividade em Les Misérables (2019) no currículo.

Josh O'Connor ganha a afeição do público na pele do príncipe Charles, um homem apaixonado

Mas, entre os filhos da rainha Elizabeth, o destaque vai mesmo para o príncipe Charles (Josh O'Connor). The Crown mostra uma parte da história que poucos conhecem: o primeiro relacionamento com Camilla Parker-Bowles (Emerald Fennel), muito antes de Diana cruzar seu caminho --ela aparecerá na quarta temporada.

A narrativa da série mostra que Charles é, na verdade, um grande coitado: tímido e antissocial, ele nunca quis ser rei e ficava muito mais feliz nos palcos como ator do que como herdeiro da coroa britânica. Vítima da própria família, da posição distinta em que nasceu e do cargo que ocupará, ele é incapaz de decidir o seu destino.

O personagem ganha destaque na reta final dos episódios, e deve ser um dos principais condutores do quarto ano da série, previsto para 2020. Pode ser uma boa chance de retomar o espírito novelão que conduziu a série na segunda temporada e aquecer a chama de uma atração que parece tão preocupada em honrar a seriedade dos monarcas que se esquece de que seus personagens precisam cativar o público.


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