VELHO CHICO
CAIUÁ FRANCO/TV GLOBO
Afrânio (Rodrigo Santoro) e Leonor (Marina Nery) na primeira fase de Velho Chico (2016)
Última história inédita de Benedito Ruy Barbosa, a novela Velho Chico (2016) não foi exatamente um fracasso para os padrões da Globo. Entretanto, a emissora tem motivos de sobra para esquecê-la, dos inúmeros problemas nos bastidores à morte trágica de Domingos Montagner (1962-2016). O folhetim, contudo, ganhou uma segunda chance onde menos se esperava: nas redes sociais.
Em meio à boa repercussão de Renascer, as imagens da primeira fase de Velho Chico começaram a circular com maior força entre perfis do X (antigo Twitter). Um dos principais motivos para tanto interesse é a presença de Rodrigo Santoro, recentemente redescoberto pelos gringos com o sucesso inesperado de Hilda Furacão (1998).
As fancams, clipes com recortes de uma ou mais tramas que enfocam um artista específico, trocaram o padre Malthus pelo coronel Saruê. Uma das mais visualizadas acrescentava a canção Young and Beautiful, de Lana Del Rey, à cena do casamento entre Afrânio e Leonor (Marina Nery).
O vídeo publicado por um perfil brasileiro teve mais de 170 visualizações em apenas três dias. "Pois eu amo desde sempre, agora é espalhar a palavra", escreveu o produtor do conteúdo. "Pode espalhar até chegar nas gringas, queremos Velho Chico internacional", acrescentou outro internauta.
Os primeiros 24 capítulos do folhetim se passavam na década de 1960, marcando o retorno de Santoro para as telenovelas após 13 anos. Ele havia deixado o elenco de Mulheres Apaixonadas (2003), em que interpretava Diogo, para focar na carreira internacional.
A boa repercussão na época chamou a atenção da Globo, que pensou até em espichar o prólogo, que havia reconquistado parte dos telespectadores afugentados pela trinca de flops A Lei do Amor (2015), A Regra do Jogo (2015) e Babilônia (2014).
Os números eram especialmente surpreendentes pois Ruy Barbosa havia apresentado a sinopse para a faixa das seis --e foi alçado ao horário nobre às pressas para promover um respiro em meio à sequência de tramas urbanas.
Um perfil no X chegou a comentar a fancam de Velho Chico a classificando como uma "novela ruim, carga pesada, energia estranha" e que havia "apagado da minha memória esse fiasco".
Os problemas para Globo começaram com a segunda fase, na qual a audiência foi caindo gradativamente --até a novela das nove ser ultrapassada no Ibope por Êta Mundo Bom! (2016) e Totalmente Demais (2015).
A queda de braço entre a cúpula da Globo e o diretor Luiz Fernando Carvalho foi uma das principais responsáveis pela crise. Os executivos exigiam mudanças na produção, mas o profissional bancou a sua visão artística --ainda que tivesse causado estranheza no público com os figurinos e cenários um tanto barrocos-- até o fim.
A morte de Domingos Montagner, que interpretava o protagonista Santo, acabou por jogar a pá de cal em Velho Chico para a Globo. Trata-se agora de uma daquelas novelas que, apesar dos elogios à qualidade técnica e artística, dificilmente vai ser reprisada um dia --mesmo com uma indicação à melhor telenovela no Emmy Internacional de 2017.
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