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MEDALHÕES EM BAIXA

Salário e tecnologia: Por que a Globo vive onda de demissões de veteranos?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Renato Machado com um terno azul e uma camisa preta, com um guardanapo amarelo à esquerda, falando sobre Jornalismo na Globo

Renato Machado: ex-correspondente e âncora do Bom Dia Brasil saiu da Globo após 40 anos

GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 30/11/2021 - 7h00

Nos últimos 30 dias, a Globo tem vivido um verdadeiro tsunami de demissões dos seus jornalistas mais experientes. Ao todo, pelo menos seis contratados foram dispensados. A saída de tanta gente passa pelos altos salários ganhos por profissionais com tanto tempo na rede líder. Mas os custos elevados para a produção no método antigo e o avanço da tecnologia também são fatores que pesaram na hora de mandar embora.

A última leva de dispensas da emissora cortou Renato Machado, ex-âncora do Bom Dia Brasil e correspondente em Londres, e Francisco José, o rosto mais conhecido da Globo no Nordeste. Antes deles, tinham saído Alberto Gaspar, Ari Peixoto, José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini e Isabela Assumpção, além do narrador Linhares Júnior.

Segundo apurou o Notícias da TV, as saídas fazem parte de uma política de redução da folha salarial. Com exceção de Linhares, os citados tinham altos salários na Globo. Machado e José, por exemplo, ganhavam mais de R$ 100 mil por mês e faziam poucas reportagens. Eram repórteres especiais usados em casos esporádicos. 

Hoje, um repórter mais jovem e que esteja ascendendo na Globo em São Paulo recebe menos de R$ 10 mil. Ou seja, é uma grande redução de custos. Com o valor de um Francisco José, é possível pagar cerca de dez nomes novos para a cobertura de assuntos factuais ou para investir em outras mídias.

Para convidar os mais velhos da Globo à aposentadoria, a emissora tem feito acordos generosos. É a chamada Love Letter, dada para quem tem mais de 20 anos de empresa. Esses "agrados" podem ultrapassar a marca de R$ 1 milhão em pagamentos totais, a depender de cada conversa. 

Com o advento da internet e o avanço de maneiras mais modernas de se produzir reportagens, a tecnologia virou uma inimiga dos veteranos. Muitos deles, que não cresceram com os métodos de hoje, não acompanham a modernidade. Alguns não conseguem sequer usar um celular ou notebook para enviar o material produzido.

O alto custo do Jornalismo na Globo

Outro ponto considerado primordial são os custos para reportagens especiais. Em uma pauta tradicional do Globo Repórter feita por Isabela Assumpção, a emissora gastava não só com uma viagem para a própria profissional, mas também para toda a equipe com pelo menos cinco pessoas.  Hoje, um repórter mais jovem consegue produzir um material com, no máximo, um acompanhante.

Marcos Uchôa, que deixou a Globo após 36 anos no início do mês por vontade própria, dissertou sobre o tópico. Para ele, o Jornalismo feito tempos atrás, no qual o próprio Uchôa surfou e foi soberano, não existe mais --ou ficou muito difícil de existir por causa dos custos.

"Tudo tem um preço. E a qualidade do Jornalismo demanda um preço alto. As viagens, a investigação, tudo isso tem um custo. E claro, isso se reflete no Jornalismo que a gente pode fazer. Com as crises econômicas, com o avanço da internet e com tudo disponível de graça, a mídia tradicional encolheu. Antigamente, a gente podia viajar, ir nos lugares", analisou.

"Está mais difícil fazer o que eu já fiz. Eu surfei no melhor período de produção. Não foi a razão pela qual eu saí. Mas é inegável que fazer o Jornalismo que eu quis está mais complicado", disse Uchôa no podcast Vocês da Imprensa, apresentado por Marcelo Barreto, do SporTV. 

Procurada pela reportagem para se posicionar sobre a demissão dos veteranos, a Globo não respondeu aos contatos até a conclusão deste texto.


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