KIMBERLY GUILFOYLE
IMAGENS: REPRODUÇÃO/FOX NEWS
A advogada Kimberly Guilfoyle na bancada do programa The Five, da Fox News; denúncia de assédio
Nora do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, a advogada Kimberly Guilfoyle ofereceu milhões de dólares para silenciar uma ex-assistente, vítima de assédio sexual, na época em que era apresentadora da Fox News. O canal acabou pagando US$ 4 milhões (R$ 22,5 milhões) para a subordinada de Kimberly para evitar que o caso fosse à julgamento.
Essas revelações foram publicadas em reportagem da revista The New Yorker. Citando fontes próximas, a publicação menciona detalhes que mostram como estava enraizada na Fox News a cultura da importunação sexual, cometida por homens e mulheres poderosas. Os ataques de Kimberly ocorreram antes do caso Roger Ailes (1940-2017) estourar, há quatro anos.
Naquele período, a Fox News contratou uma firma de advocacia independente para entrevistar colaboradores e checar a veracidade das denúncias feitas pela jornalista Gretchen Carlson e outras colegas do canal contra Ailes, seu ex-chefe --a investigação não cessou após a saída do presidente do canal.
Em julho de 2017, com receio do caldo engrossar para o seu lado, Kimberly chamou a sua assistente e lhe ofertou uma quantia milionária para mentir ao ser procurada pelos advogados. Além disso, ofereceu uma viagem para Roma em uma jato particular e porcentagem em negócios futuros da ex-apresentadora (palestras e afins). A moça não aceitou.
A The New Yorker sabe quem é essa pessoa, mas decidiu preservar sua identidade porque ela própria não veio a público mostrar a sua face.
O medo de Kimberly tinha uma razão de ser. Em 2015, após encerrar um curso superior, a vítima foi contratada para ser assistente da advogada, uma celebridade de sucesso entre os telespectadores conservadores americanos, dividindo a bancada do popular programa The Five.
A namorada de Donald Trump Jr. trabalhou na Fox News de 2006 a 2018, sete desses anos nessa atração, palco para ecoar diretrizes do pensamento à direita da política dos EUA.
A The New Yorker retrata diversos assédios sexuais. Com frequência, Kimberly trabalhava em seu apartamento e pedia para a assistente acompanhá-la. A militante de Trump ficava nua constantemente e mostrava fotos de pênis de homens com quem ela teve relação sexual para a jovem. A ex-apresentadora falava abertamente sobre seus parceiros e o que fazia na cama. Certo dia, pelada, ela exigiu que sua assistente fizesse uma massagem em suas coxas.
Kimberly ainda encorajava a funcionária a ter relações sexuais com homens poderosos e ricos em troca de favores. Um empregado da Fox News também estava incluído no esquema. A advogada exigia que elas dormissem em um mesmo quarto em viagens de trabalho. E pediu que a moça ficasse nua em sua frente.
Procurada pela The New Yorker, Kimberly disse que "nunca se envolveu em qualquer má conduta no ambiente de trabalho". Antes de enviar essa nota, a reportagem citou que assessores da advogada tentaram descreditar a assistente, inclusive oferecendo "podres" dela, estratégia para minar a credibilidade da vítima.
Como não aceitou o cala-boca, a assistente contou toda a verdade para a firma nova-iorquina Paul Weiss, que coordenou as investigações na Fox News. Os advogados levaram a sério as acusações, mergulharam a fundo no histórico de Kimberly, sempre em comunicação com o departamento de Recursos Humanos.
Kimberly Guilfoyle discursa a favor de Trump
Acabou que, em julho de 2018, Kimberly saiu da Fox News, uma notícia surpreendente devido à sua popularidade. Na ocasião, o motivo real da partida não foi revelado. O canal anunciou que ela não fazia mais parte do quadro de funcionários e, em notas divulgadas ao longo da programação, informou ao público que ela entraria para o time da campanha de Trump visando a reeleição do atual presidente norte-americano (o que é verdade).
Em agosto do mesmo ano, a jovem assistente procurou a Fox News tendo em mãos um documento de 42 páginas detalhando a onda de assédio sexual de Kimberly. Para evitar uma ida ao tribunal e sofrer ataques da opinião pública, o canal pagou secretamente US$ 4 milhões para a funcionária assediada.
Kimberly foi destaque na convenção do Partido Republicano deste ano, que endossou o apoio a Trump na eleição presidencial em novembro. Bem articulada, a advogada é usada para tentar atrair o voto feminino para o sogro. As mulheres americanas apoiam, em sua maioria, a candidatura do rival de Joe Biden, vice-presidente dos EUA no governo de Barack Obama. Fica a dúvida como a imagem dela ficará após essa notícia.
O escândalo sexual da Fox News que explodiu em 2016 ganhou vida em Hollywood. Há duas versões. A do ponto de vista mais das vítimas é o filme O Escândalo (com Nicole Kidman, Margot Robbie e Charlize Theron), disponível no Prime Video. Já a minissérie The Loudest Voice (2019), com Russell Crowe na pele de Ailes, narra a trajetória do executivo que fundou o canal de notícias. O drama estreia em outubro no Globoplay
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