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Luís Ernesto Lacombe e Amanda Klein na bancada do Opinião no Ar; jornalista foi interrompida
Luís Ernesto Lacombe estreou na segunda-feira (28) o Opinião no Ar, na RedeTV!, um programa anunciado como um lugar livre para opiniões sobre os principais fatos do dia, "sem militância e com embasamento". Apresentador, debatedor e convidados tiveram espaço para falar o que bem entendiam. Mas Amanda Klein, única mulher do time, teve uma liberdade, digamos, reduzida. Ela foi interrompida, silenciada e teve argumentos invalidados 27 vezes.
Amanda é uma das debatedoras fixas da atração, ao lado de Silvio Navarro, ex-Jovem Pan. Na estreia, o time titular conversou com o clínico geral Roberto Zeballos, com o psiquiatra Ítalo Marsili e com Sikêra Jr., uma das pratas da casa, sobre temas diversos, como o uso de máscaras, mortes por Covid-19 e até mesmo o politicamente correto.
Ao fazer seu trabalho de jornalista, trazendo dados de pesquisas para munir o debate com informações técnicas, Amanda foi interpelada por diversas vezes. Para conseguir concluir suas colocações ou formular corretamente uma pergunta, precisou ignorar seus atravessadores e seguir seu discurso. Curiosamente quem mais a interrompeu não foi Lacombe, e sim Navarro.
O antigo apresentador de Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan, foi o mais afobado e interrompeu Amanda em nove momentos diferentes. Além de atravessar a colega, debochou de dados científicos que ela colocou no debate e ainda tentou "traduzir" uma pergunta que a âncora do RedeTV! News havia formulado perfeitamente ao psiquiatra Ítalo Marsili.
Lacombe atravessou Amanda por sete vezes. Em um determinado momento, silenciou a jornalista quando ela apresentava o número de mortos pela Covid-19 no Brasil --que ultrapassou a marca de 140 mil-- para dar voz a Navarro, que apenas quis evidenciar sua descrença nas estatísticas.
Sikêra Jr. interrompeu Amanda Klein por seis vezes, Roberto Zeballos a cortou em três momentos, e Marsili em duas ocasiões.
O nome da jornalista virou um dos assuntos mais comentados do Twitter durante a exibição do programa. Por apresentar dados e tentar contrapor parte das ideias expostas, os fãs de Lacombe reprovaram sua performance. Mas muitas menções, sobretudo femininas, apontavam para o fato de que a mulher do debate era exatamente a única que sofria retaliações.
A jornalista Cristina Padiglione, colunista do jornal Folha de S.Paulo, apontou uma contradição entre as posturas dos homens com uma das pautas do Opinião no Ar. Para ela, ao debaterem sobre a ineficácia do politicamente correto, que visa dar voz a quem é silenciado, Lacombe e companhia evidenciaram que não estão dispostos a ouvir opiniões contrárias.
"Ela não conseguia terminar o raciocíno. No meio do questionamento, quando apresentava algo que derrubaria a tese ou faria uma contraposição, era interrompida. É uma piada falar sobre a ineficácia das lutas pelo politicamente correto e cometer um deslize desse. Minha dúvida é: se fosse um homem, eles interromperiam com a mesma ênfase? Eu acredito que não. Ela foi sistematicamente interrompida", disse ao Notícias da TV.
De acordo com a psicóloga Laís Nicolodi, mestre pela USP e especialista em questões da mulher e violência de gênero, interromper uma voz feminina (manterrrupting) ou explicar suas colocações (mansplaining), com o objetivo de torná-las mais claras aos intelocutores, são hábitos imperceptíveis a quem pratica.
"Existe um treino social que tende a relativizar e subjugar constatações quando são emitidas por uma mulher. Estamos falando de uma cultura em que os homens são comumente reforçados a ocupar esse lugar de autoridade. Os maiores cargos de liderança são ocupados por homens, e isso faz com que todos internalizem desde pequenos que a figura de autoridade diz respeito a um homem", explicou.
Amanda Klein não se manifestou diretamente a respeito das 27 interrupções que sofreu no programa, mas deixou claro em seu Twitter que não facilitará o silenciamento de sua voz.
"Ataque ao politicamente correto não pode servir de pretexto para normalizar violência contra mulheres, negros e homossexuais. O respeito às minorias é avanço civilizatório. Os direitos são conquistas das democracias liberais", escreveu. Confira a publicação --e as diversas interrupções praticadas por seus colegas de bancada:
Minha estreia no “Opinião no Ar”. Ataque ao politicamente correto não pode servir de pretexto p/ normalizar violência contra mulheres, negros e homossexuais. O respeito às minorias é avanço civilizatório. Os direitos são conquistas das democracias liberais. https://t.co/h34YWapGjh
— Amanda Klein (@_AmandaKlein) September 28, 2020
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