PASSOU PANO?
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Marcius Melhem na Globo: emissora omitiu que demitiu ator por causa de 'práticas abusivas'
A Globo mentiu ao dizer que Marcius Melhem saiu da emissora em comum acordo. À Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro, que investiga as denúncias de assédio sexual contra o humorista, os diretores e o departamento de compliance da empresa afirmaram que a sua saída foi recomendada devido às "práticas abusivas" feitas por ele como diretor de Humor.
A informação foi publicada em primeira mão pela revista Piauí na última segunda-feira (14), em reportagem de João Batista Jr. A reportagem reveladora estava embargada desde agosto de 2021 pela Justiça a pedido do humorista. Uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em 31 de janeiro deste ano autorizou a publicação. De acordo com um dos relatos mostrados na revista, a versão dada pela emissora foi uma narrativa negociada com Melhem para justificar a demissão dele.
Em agosto de 2020, Melhem retornou do exterior após cinco meses e não foi incorporado à empresa. Na época, a Globo afirmou que a decisão refletia a uma "série de iniciativas para os desafios do futuro e, com isso, adotado novas dinâmicas de parceria com atores e criadores em suas múltiplas plataformas". A demissão ocorreu após as denúncias de assédio por parte de Dani Calabresa e Maria Clara Gueiros, em 2019.
Mônica Albuquerque, então diretora da área de DAA (Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico) da Globo e que hoje está na HBO Max, pediu à empresa que fossem relatados, de forma clara, os motivos que levaram Melhem a sair do conglomerado de mídia. O pedido da executiva não foi atendido.
Segundo documentos obtidos pela revista, as investigações da empresa davam conta de que, inicialmente, as acusações de Dani Calabresa eram apenas um caso isolado.
Em e-mail enviado em 6 de janeiro de 2020, Albuquerque afirmou para Helcio Alves Coelho, advogado da Globo e membro do Departamento de Compliance, que havia chance até de reconciliação entre os dois já que o problema da atriz parecia ser de "instabilidade emocional decorrente de frustrações no trabalho" e o do diretor se tratava de um "gap de gestão".
Dias depois, em 23 de janeiro do mesmo ano, Monica mudou o tom. Disse que havia outros relatos de assédio e determinou que o compliance fosse imediatamente acionado. Dois meses depois, em 16 de março, Coelho recomendou a demissão do cargo de diretor de Humor da Globo, e a suspensão por 180 dias das funções de ator e humorista.
"Com base na apuração realizada, a Comissão de Ética e a gestão da empresa decidiram pela rescisão imediata do contrato do executivo, perdendo desta forma o seu cargo de gestão, e pela suspensão por quatro meses dos seus contratos de ator e roteirista. Após o período de afastamento, Carlos Henrique Schroder avaliará o seu retorno", disse Coelho por e-mail obtido pela Piauí.
Melhem não voltou. Na nota oficial de agosto de 2020, a empresa comunicou: "A Globo e Marcius Melhem, em comum acordo, encerraram a parceria de 17 anos de sucessos. O artista, que deu importante contribuição para a renovação do humor nas diversas plataformas da empresa, estava de licença desde março para acompanhar o tratamento de sua filha no exterior".
Não houve citação aos casos e investigações de assédio. A versão oficial da história é desmentida por dois relatos oficiais. O primeiro deles é um ofício mandado pela Globo à Delegacia de Atendimento à Mulher do Rio.
Assinado por Ana Carolina Bueno Junqueira Reis, diretora do Compliance da emissora, a manifestação diz que "tendo em vista as alegações de práticas abusivas por parte de Marcius Melhem, houve a recomendação da perda do cargo de gestão, com efeitos imediatos, além de afastamento completo do profissional por um período de 180 dias".
O outro é um relato da própria Monica Albuquerque para a Piauí. Em março de 2020, no afastamento do ator, ela afirmou que a Central Globo de Comunicação deveria ter sido mais específica no relato para a imprensa sobre os motivos que causaram seu afastamento e saída mais adiante. Todavia, a assessoria ignorou o pedido.
"Alertei a área de comunicação da empresa para a necessidade de que fosse dada uma indicação clara da motivação do afastamento, o que não foi atendido", disse a atual diretora da WarnerMedia à época.
Questionada pelo Notícias da TV sobre os motivos de ter omitido a verdade, a Comunicação da Globo enviou a seguinte nota: "Este é um assunto de compliance, e, como esclarecemos anteriormente, a Globo não se manifesta sobre questões de compliance, em razão do compromisso de sigilo previsto em nosso Código de Ética".
Também procurado para falar sobre as verdadeiras razões de sua saída da Globo, o ator Marcius Melhem emitiu uma nota extensa através de sua assessoria. Ele acusou a Piauí de comprar a versão da acusação e de parcialismo. Ele ressaltou que a relação com sua antiga empregadora sempre foi de muito respeito e que a "verdade aparecerá em breve".
Veja o comunicado na íntegra:
"Em mais uma edição completamente parcial, a revista Piauí disse ter tido acesso à investigação que corre em segredo de Justiça, mas publica apenas parte do processo, distorce a realidade e omite fatos e provas da defesa de Marcius Melhem.
Aos fatos: a cena do flat da atriz não aconteceu da forma descrita pela Piauí. A revista omite que a atriz seguiu amiga de Marcius por muitos anos após o episódio, convidando seu suposto abusador para seu casamento e para ir à sua casa conhecer sua filha recém-nascida, para citar dois exemplos.
A relação só estremeceu cinco anos depois, quando ela não foi convidada para o programa Fora de Hora. A troca de mensagens entre ambos nesse período é a prova de que não houve nada de traumático na relação entre eles, até que ela fosse recrutada.
Quando descreve as brincadeiras que ocorriam no ambiente do humor, algumas em tom sexual, a Piauí não revela o farto material probatório apresentado pela defesa de Marcius Melhem de que as brincadeiras ocorriam dos dois lados. A atriz que o acusa de 'exigir um boquete', por exemplo, foi sua namorada por mais de um ano, e ambos trocavam mensagens picantes da intimidade típica de casais.
Há farto material comprobatório do namoro, cujo término não foi bem recebido pela atriz conforme dezenas de áudios e mensagens anexados ao processo. Até pouquíssimo tempo antes da denúncia de Dani Calabresa, esta atriz ainda estava inconformada de ser apenas amiga.
Depois assumiu a frente da vingança. Nos e-mails internos da TV Globo, a própria Piauí afirma que como resultado do compliance Melhem não foi demitido, mas sim afastado das suas funções de gestor. Em seguida afirma que foi demitido. Uma narrativa errática e confusa.
A Piauí, que tem acesso a todo material que está sob sigilo, estranhamente disse não ter acesso a anexos do e-mail do advogado Helcio Alves Coelho, membro do Departamento de Compliance do Grupo Globo, em que estariam as conclusões do compliance. Tivesse a Globo apurado que houve assédio sexual teria feito homenagens a Melhem em sua saída?
A Piauí chega a citar como testemunha de acusação um ator que, em depoimento, desmentiu a Piauí do começo ao fim. A revista relata que o e-mail de Helcio Coelho afirmando que Melhem perderia o cargo de gestor e seria suspenso até segunda ordem é de 16 de março de 2020. Mas o ator pediu desligamento do cargo e licença por quatro meses (para cuidar da saúde da filha) em 6 de março de 2020, informação que foi amplamente divulgada pelo Grupo Globo na época. Não faz nenhum sentido cronológico esse e-mail.
Mais uma confusão do repórter na tentativa de construir uma narrativa. Esses são apenas alguns exemplos de mais um festival de absurdos da Piaui, que, no papel de assessoria de comunicação da acusação, vai tentar provar que não está errada desde o início. Não dará certo. Por respeito à Justiça, Melhem não pode expor suas provas nesse momento. Parece que o segredo só vale para Melhem, mas não será para sempre.
Quando a Justiça autorizar, a opinião pública irá conhecer toda a verdade, sem versões parciais e distorcidas. E muitos irão se chocar com o que está por trás das acusações na Justiça e dos vazamentos fora dela"
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