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MEMÓRIA DA TV

Em 1982, novela de Chico Xavier deu prejuízo milionário e saiu do ar após 12 dias

Divulgação

De óculos escuros, o médium Chico Xavier psicografa mensagem

A obra do médium Chico Xavier inspirou a novela Renúncia, que durou apenas 12 dias no ar

THELL DE CASTRO

Publicado em 30/8/2020 - 7h10

Há exatamente 38 anos, a Band investiu em uma novela com temática espírita, baseada na obra de Chico Xavier (1910-2002). A expectativa era de que a trama fizesse um grande sucesso, mas Renúncia ficou no ar apenas 12 dias e foi sumariamente tirada de cena, sem maiores explicações, deixando apenas prejuízo para a emissora.

Em 1979, com a crise da Tupi, que viria a ser extinta no ano seguinte, a então TV Bandeirantes viu a possibilidade de crescer no cenário nacional e se firmar como a segunda maior rede brasileira. A Record estava em decadência e a TVS operava apenas no Rio de Janeiro (RJ).

Em 1981, mesmo com a chegada do SBT, a família Saad continuou investindo e contratou ninguém menos do que Walter Clark (1936-1997), todo-poderoso da Globo nos anos 1960 e 1970 ao lado de José Bonifácio de Oliveira, o Boni. Mas o que era para ser uma revolução no canal se transformou em mico, com milhões gastos e nenhum resultado.

Após muitas brigas, Clark deixou a Band depois do Carnaval de 1982, e a rede seguiu seu caminho. Depois do sucesso de Ninho da Serpente, uma das grandes apostas para o segundo semestre daquele ano era a adaptação de Renúncia, livro de sucesso do médium Chico Xavier. A trama competiria com Sétimo Sentido, estrelada por Regina Duarte na Globo, que também tinha pitadas desse gênero.

Autor de novelas de êxito, como Antônio Maria (1968), Nino, o Italianinho (1969) e Meu Rico Português (1975), todas da Tupi, Geraldo Vietri (1927-1996) recebeu a missão de adaptar o romance.

Em entrevista um dia antes da estreia, ele deixou clara a expectativa positiva. "Estou apostando tudo nessa novela, que desde 1979 tento levar ao ar. Tenho certeza de seu sucesso. A Bandeirantes investiu muito: é uma das suas produções mais bem cuidadas do ponto de vista de guarda-roupas e cenários", declarou.

Mas, ao contrário do que o autor planejava, a trama se revelou um fiasco e derrubou a audiência da Band, deixando um grande prejuízo nos cofres.

Propaganda de Renúncia destacava elenco famoso e fato de novela ser baseada na obra do médium

No elenco de Renúncia, estavam nomes conhecidos como Fúlvio Stefanini, Berta Zemel, Géorgia Gomide (1937-2011), Laura Cardoso, Yara Lins (1929-2004), Elias Gleizer (1934-2015) e Serafim Gonzalez (1934-2007), entre outros. A direção foi feita pelo próprio Vietri.

Com baixo ibope e prevendo que a situação não teria reversão, a emissora aproveitou a chegada do Horário Eleitoral Gratuito e simplesmente tirou Renúncia do ar, sem dar satisfação aos seus poucos telespectadores. A novela foi exibida apenas entre 30 de agosto e 12 de setembro, com 12 capítulos.

Em 29 de setembro daquele ano, o Jornal do Brasil detonou a atitude da Band. "Jus ao nome. A Rede Bandeirantes desistiu e acabou, tipo abrupto, com a novela Renúncia. Pelo meio, sem maiores explicações e a menor ajuda dos espíritos. Enfim, a estação repete loucuras que antes diziam ter sido culpa do Guga de Oliveira ou Walter Clark. Os dois saíram e o mesmo processo se repete. Começam uma bobagem e a cortam pelo meio sem nenhuma mercadologia ou objetivo visível. Vai acabar com menos audiência que a Educativa", disparou a nota.

Renúncia entrou para a história da televisão brasileira fazendo parte da nada agradável lista de novelas que foram abruptamente tiradas do ar, como Somos Todos Irmãos, da Record (1965), Como Salvar Meu Casamento e Drácula, ambas da Tupi (1980), e Brida, da Manchete (1998).

A Band voltaria a investir em teledramaturgia apenas em abril de 1983, com a estreia de Sabor de Mel, de Jorge Andrade (1922-1984), que chegou a atingir quase 20 pontos nos primeiros dias, mas despencou e marcou menos de um no final.

A partir daí, com a chegada de Luciano do Valle (1947-2014) e sua equipe, as novelas foram deixadas de lado, e a emissora passou a ser o Canal do Esporte até meados dos anos 1990.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro


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