MEMÓRIA DA TV
Reprodução/Rede Tupi
Nicette Bruno e Adriano Reys foram um casal na novela Como Salvar Meu Casamento
THELL DE CASTRO
Publicado em 13/12/2015 - 6h53
Na grave crise financeira que culminou no dramático fechamento da TV Tupi, no primeiro semestre de 1980, centenas de empregos foram perdidos. Muitos funcionários não receberam um tostão sequer de indenização. Existiram também perdas também no campo artístico, com novelas e programas retirados do ar abruptamente, sem respeito ao público que os acompanhava. Foi o caso de Como Salvar Meu Casamento, novela que deixou de ser exibida faltando apenas 20 capítulos para terminar.
Escrita pelo trio Edy Lima, Ney Marcondes e Carlos Lombardi, Como Salvar Meu Casamento foi um oásis na derradeira crise da Tupi. Estreou dia 26 de junho de 1979, inicialmente sem sucesso, mas, aos poucos, foi chamando a atenção do público, que se interessou pelo drama de Dorinha (Nicette Bruno) e Pedro (Adriano Reys), um típico casal de classe média que vivia uma crise no matrimônio após 23 anos.
Em 13 de fevereiro de 1980, sem aviso prévio, a Tupi demitiu todo o elenco do departamento de teledramaturgia, encerrando as produções de Como Salvar Meu Casamento, Drácula (que teve sua exibição interrompida logo no início e meses depois foi produzida novamente pela Band) e Maria Nazaré, que seria a próxima trama da emissora.
Como Salvar Meu Casamento foi ao ar pela última vez no dia 22 de fevereiro daquele ano. "É inexplicável, estranhíssimo, que façam isso com uma novela que está no fim e fazendo sucesso. Em termos mais amplos, considero essa decisão uma coisa gravíssima para o artista brasileiro, especialmente vindo daquela que foi a pioneira da televisão no Brasil e que sempre apoiou a novela desde que ela existe em nossa TV. Em termos pessoais, é frustrante porque as pessoas se ligam ao trabalho que estão fazendo, apesar de serem simples empregados. Deve ter sido uma decisão repentina, tomada nos últimos dias. Substituí-las por enlatados é cortar o mercado do artista brasileiro e optar por produtos de baixa qualidade e alheios à nossa realidade", declarou Edy Lima na época.
Em entrevista à Folha de S. Paulo de 27 de abril de 1980, Nicette Bruno falou sobre o fim da novela e a grave crise da emissora. "A Tupi foi ótima enquanto durou, mas, no momento, não se pode fazer nada por ela. Aquilo tudo foi muito duro, gerou problemas sociais grandes, com o desemprego de muita gente. A novela, apesar de ter me dado um prêmio, inclusive, ficou como um resultado frustrado", disse, citando o troféu de melhor atriz de 1979 que recebeu da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
O final da história
À Folha de S. Paulo, em 14 de fevereiro de 1980, Edy Lima contou como seria o final da trama: Pedro ficaria com Dorinha, Silvia (Beth Goulart) com Melão (Kito Junqueira), mas Paula (Wanda Stefânia) e Nando (Jacques Lagoa) se separavam.
"Essa interrupção abrupta e intempestiva impedirá que se veja a evolução do Pedro, que iria acontecer justamente nesses 20 capítulos finais. No fim, ele e Dorinha terminam juntos, mas não se trata de um fim conformista, mas uma forma de mostrar a própria limitação dessas pessoas", explicou a autora.
"Por ser um homem atraente, Pedro achava que poderia voltar a seus tempos de adolescente e embarca na primeira aventura que lhe aparece e que se baseia simplesmente numa atração física passageira. Mas, no fundo, se sente só e toda vez que tem um problema, recorre à primeira mulher", completou.
A autora disse, na época, que faria tudo de novo. "Apesar dos pesares, creio que preenchemos nosso objetivo, que era o de mostrar numa novela sem mordomos nem mansões uma faixa significativa da classe média e de seus problemas nessa época de transição. Infelizmente, ficarei conhecida como a autora de uma novela inacabada, mas, se tivesse que escolher, faria tudo de novo", concluiu.
THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro
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