MEMÓRIA DA TV
Divulgação/Memória Globo
No mesmo ano do fim da Tupi, Eva Wilma foi para a Globo, onde atuou na novela Plumas e Paetês
Publicado em 2/8/2020 - 7h15
As últimas novelas exibidas pela Tupi, que saiu do ar há 40 anos, foram Como Salvar Meu Casamento (1979) e Drácula, Uma História de Amor (1980), abruptamente tiradas da grade em virtude da crise que culminou no fechamento da emissora. O que pouca gente sabe é que, apesar da grave situação, a rede gravava uma nova trama, com Eva Wilma no papel de uma cangaceira. O material permanece inédito até os dias de hoje.
Maria Nazaré foi escrita por Teixeira Filho (1922-1984), autor de outras produções de sucesso, como A Pequena Órfã (1968) e Ídolo de Pano (1974), e era dirigida por Carlos Zara (1930-2002), que era marido da protagonista e voltava à emissora depois de brilhar em Pai Herói (1979), na Globo. A obra substituiria Como Salvar Meu Casamento na faixa das oito da noite.
De acordo com Cleston Teixeira, filho de Teixeira Filho, a personagem Maria Nazaré seria uma mistura de Maria Bonita com Joana D'Arc. "Era a história da moça da cidade que vai para o campo em busca de um caminho espiritual e encontra no amor por um líder de um grupo cangaceiro o caminho para exercer com as próprias mãos a justiça divina", contou ele.
A trama se passaria em Salvador (BA) e Recife (PE), com Carlos Augusto Strazzer (1946-1993) fazendo o papel do protagonista, o cangaceiro Fogaréu, uma mistura de Lampião (1898-1938) e Antônio Conselheiro (1830-1897).
Ainda estavam no elenco Othon Bastos, Altair Lima (1936-2002), Jofre Soares (1918-1996), Maitê Proença e José Santa Cruz, entre outros. O próprio Zara ainda atuaria.
Apesar das dificuldades financeiras, a Tupi montou uma cidade cenográfica em Itu, no interior de São Paulo, e chegou a gravar algumas cenas, nunca exibidas na TV brasileira. Mais de 30 sequências foram gravadas, incluindo uma invasão de cangaceiros a uma cidade, que seria usada na abertura e nas peças de divulgação.
Um ano antes do início dos trabalhos, em 1979, Cleston viajou por várias cidades do Nordeste para pesquisar sobre os costumes locais e o cangaço.
"Fui à Bahia, rodei Pernambuco, Ceará, Paraíba, Sergipe e Alagoas com uma Brasília da TV Tupi do Recife, ao lado de um repórter cinematográfico 16 mm e um motorista. Entrevistei cangaceiros, filhos e filhas dele, pesquisadores, tirei centenas de fotos, visitei os museus sobre o tema que tinham objetos reais e material criado para os filmes que retratavam o cangaço, entre outras coisas", explicou.
"Tudo isso se transformou num grande relatório que entreguei para o Cyro Del Nero [1931-2010, então diretor artístico da rede]. Infelizmente, fiquei sabendo depois que todo esse material foi queimado por uma das administrações que tentaram salvar a Tupi", relatou Cleston.
"Também começou a preparação de atores, com o trabalho de linguagem, sotaque e palavreado do cangaço. Foram produzidas as peças-modelo do figurino para reprodução em grande número, ou seja, aumentaram as dívidas da Tupi, pois tudo ficou no crédito. Era assim que se faziam as produções na emissora", completou.
Sua antecessora, Como Salvar Meu Casamento, até que obtinha boa audiência e repercussão para os padrões da emissora na época, mas foi interrompida a apenas 20 capítulos do fim, em 22 de fevereiro de 1980.
Já Drácula teve apenas quatro capítulos exibidos, mas contou com melhor sorte: mesmo sem chamar a atenção do público, foi produzida e mostrada pela Band entre julho de 1980 e fevereiro de 1981, com o título Um Homem Muito Especial.
Com o cancelamento de Maria Nazaré, Eva Wilma finalmente foi para a Globo, onde está até hoje. Sua primeira novela na casa foi Plumas e Paetês, ainda em 1980; posteriormente, ela brilhou em Ciranda de Pedra (1981) e Elas por Elas (1982).
A Tupi, primeira emissora de televisão do Brasil, saiu do ar em 18 de julho de 1980, após decreto do Governo Federal que cassou as concessões da emissora.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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