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Memória da TV

Em 1980, novela começou na TV Tupi e terminou na Bandeirantes

Reprodução

Fotomontagem com reportagens sobre Drácula, novela que começou em 1980 na Tupi e terminou na Band - Reprodução

Fotomontagem com reportagens sobre Drácula, novela que começou em 1980 na Tupi e terminou na Band

THELL DE CASTRO

Publicado em 26/7/2014 - 19h22
Atualizado em 27/7/2014 - 5h45

RESUMO: A novela Drácula percorreu, em 1980, um caminho incomum: começou a ser exibida por uma emissora e terminou em outra. Era estrelada por Rubens de Falco, que se apaixonava pela mulher (Bruna Lombardi) do filho (Carlos Alberto Riccelli). Teve poucos capítulos na Tupi. Foi retomada meses depois na Band, que perdeu Bruna e Riccelli para a Globo antes do final

A novela Drácula percorreu, em 1980, um caminho incomum na história da televisão brasileira: começou a ser exibida por uma emissora, a Tupi, que logo faliu, e teve sua produção retomada por outra, a Band, com nova versão.

Mergulhada em dívidas e com seus funcionários em greve, a Tupi praticamente não tinha salvação naquele início de ano. Mesmo assim, a emissora preparava a estreia de duas novelas: além de Drácula, em 28 de janeiro, viria Maria de Nazaré, em seguida. A primeira foi ao ar, com poucos capítulos exibidos. A segunda teve cenas gravadas, mas nem estreou.

Drácula era estrelada por Rubens de Falco, que vivia Vladimir, o próprio Conde Drácula. Nos anos 1920, ele deixava a Transilvânia e vinha ao Brasil para procurar seu filho, Rafael (Carlos Alberto Riccelli). Após encontrá-lo, se apaixonava pela nora, Mariana (Bruna Lombardi), que acreditava ser a reencarnação de seu único amor do passado. Paulo Goulart, Cleyde Yáconis e Isabel Ribeiro também estavam no elenco.

De acordo com o especialista em telenovelas Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, a ideia de contar a história do Conde Drácula na televisão nasceu após o diretor Walter Avancini constatar o sucesso do personagem Frank Langella na Broadway, em Nova York. “Com a ideia na cabeça, a Tupi, em sua fase decadente, resolveu fazer a novela, e o supervisor Álvaro Moya chamou Rubens Ewald Filho para escrevê-la. Após vários projetos que não foram adiante na emissora, enfim Rubens emplacava uma trama, justo na fase mais complicada da Tupi”, contou.

A Tupi passava por uma grave crise financeira, que culminou em seu fechamento, em 14 de julho de 1980. Os artistas, técnicos e jornalistas da emissora entraram em greve no dia 25 de janeiro, por não terem recebido o pagamento referente a dezembro de 1979. Alguns não receberam também o salário de novembro e o 13º salário.

Greve paralisa emissora

“No começo da tarde, os artistas e técnicos realizaram uma assembleia para decidir sobre a greve, por falta de pagamento, e foram surpreendidos por um comunicado do diretor do núcleo de novelas, Antônio Abujamra. No comunicado, suspendia as gravações de novelas, antecipando-se à greve geral da categoria”, publicou a Folha de S. Paulo no mesmo dia. A Tupi de São Paulo passou a exibir a programação da Tupi do Rio de Janeiro na íntegra, por falta de atrações.

Os jornais nem divulgavam a programação da emissora, pois não se sabia o que seria exibido. No dia seguinte, a greve, que se iniciou em São Paulo, passou a ser geral, com adesão dos cariocas, complicando ainda mais a situação. “A Tupi, às voltas com uma já costumeira paralisação de funcionários, pouco tem para hoje além da ameaça de que Drácula, que estreou ontem, saia do ar, caso persista a greve. No mais, a emissora só tem enlatados”, destacou a Folha no dia 29 de janeiro.

Quando a greve se intensificou, a novela tinha apenas cinco capítulos gravados, dois deles sonorizados. A emissora passou a reprisar os poucos capítulos já exibidos, dizendo ser um pedido do público, mas não passava de uma desculpa para burlar a crise. A novela Como Salvar Meu Casamento teve o mesmo problema e também saiu do ar.

O derradeiro capítulo de Drácula foi apresentado em 6 de fevereiro. A partir do dia 11 daquele mês, começou nova reprise. Em seguida, a emissora passou a reapresentar novelas antigas de sucesso, como O Profeta e A Viagem.

Extinção da teledramaturgia da Tupi

Muitos funcionários da Tupi passavam necessidades e, para amenizar a situação, foi criado um fundo de greve, que arrecadou 250 mil cruzeiros em seus primeiros dias. Foram realizados shows especiais, com nomes como Dominguinhos, Papa Poluição, Circo Humano e Terra Sol para levantar recursos. Conhecidos autores também promoveram vendas especiais de seus livros, com noites de autógrafos.

No dia 12 de fevereiro, sem qualquer condição de continuidade, a emissora demitiu todo seu elenco de teledramaturgia, incluindo aí os integrantes de Drácula, Como Salvar Meu Casamento e Maria de Nazaré, além dos integrantes do programa vespertino Mulheres.

Por incrível que possa parecer, dada a precária situação da Tupi, Drácula foi elogiada por sua qualidade. A crítica Helena Silveira destacou, dia 1º de fevereiro de 1980, também na Folha, que “em dois capítulos já se criou um clima, uma atmosfera. Muito cedo para dizer se o vampiro não irá degringolar pelos abismos do ridículo. Mas o fato é que alguns dos personagens mais importantes já tiveram seu selo, sua marca registrada. (...) Enfim, a Tupi não está com uma pedra no meio do caminho. Está com uma montanha. É melancólico ver-se uma novela com certo carisma estrear cercada por insegurança. Em todo o caso, o próprio enredo não poderá deixar de ser sinistro”.

Drácula renasce na Bandeirantes

No dia 6 de julho, a Band, na época ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio Riccó, e a supervisão de Walter Avancini. Enquanto isso, a Tupi agonizava. Sairia do ar alguns dias depois.

Uma grande festa foi realizada na badalada boate Gallery, em São Paulo, para lançar Um Homem Muito Especial. A trama estreou no dia 21 de julho de 1980 e seguiu, sem as grandes complicações da breve versão anterior, até 7 de fevereiro de 1981. Um fato curioso é que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli deixaram a Bandeirantes pouco antes do final da trama e seguiram para a Globo, sem finalizar suas participações.

No portal Teledramaturgia, Nilson Xavier disse que, na Band, a novela ganhou menos cenários, mais nudez e violência e ainda mais atores. “Com o processo de criação dos mais impecáveis, Um Homem Muito Especial só não teve repercussão por ter passado por diversas fases desestimulantes. Consuelo de Castro terminaria de escrever a novela, que também teve capítulos escritos por Jaime Camargo, e transformou-a num bangue bangue à brasileira”, comentou.

Um fim melancólico para uma novela que começou em ambiente não menos conturbado.


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