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BASTIDORES

Despedida, susto e maratona: O que você não viu na cobertura eleitoral da TV

REPRODUÇÃO/CNN BRASIL

Montagem com Tainá Falcão e Leandro Magalhães

Tainá Falcão e Leandro Magalhães, repórteres da CNN que acompanharam Lula (PT) e Bolsonaro (PL)

A disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PT) chega ao fim neste domingo (30) e, nas últimas semanas, os brasileiros acompanharam uma intensa cobertura do dia a dia dos políticos. Contudo, por trás das câmeras, os jornalistas enfrentaram uma maratona intensa, com direito a despedida dos familiares e sustos por imprevistos. Tudo para conseguirem transmitir essas informações importantes e decisivas na hora do voto.

No jargão jornalístico, o repórter que acompanha um político na época da campanha eleitoral é chamado de "carrapato". Essa foi a função ocupada por Tainá Falcão e Leandro Magalhães, jornalistas da CNN Brasil, nas últimas semanas.

Setoristas de Lula e Bolsonaro, respectivamente, os profissionais tiveram que grudar nos candidatos e segui-los por todos os cantos do país. Em meio a essa correria, os dois contaram com exclusividade ao Notícias da TV os bastidores da cobertura.

Repórter do canal de notícias em São Paulo, Tainá recebeu a informação de que seria a responsável por acompanhar Lula após cobrir a pandemia da Covid-19 e a cena política paulista. "Foi importante saber antes para me organizar. Fiz um mapeamento dos assuntos iniciais dentro da campanha petista, comecei a acompanhar mais o partido, a estudar eleições anteriores, as posições do PT nos últimos anos e a buscar as fontes que precisaria acionar", recorda ela.

Enquanto isso, Magalhães é setorista de Bolsonaro desde o início da CNN Brasil. Baseado em Brasília, ele foi o repórter que deu em primeira mão a informação que o presidente estava com Covid-19, em julho de 2020.

"O trabalho da cobertura das eleições é quase a mesma coisa do trabalho do dia a dia. A diferença é que temos que ir de um Estado para outro para acompanhar. Ficamos colados no presidente para uma entrevista que ele vier a dar para outro veículo ou para que consigamos uma exclusiva", detalha.

E foi assim, com a ciência de que não terminariam o expediente necessariamente em suas casas, que os jornalistas viveram ao longo dos últimos meses.

"Falei para o meu marido que voltaremos a nos ver em novembro. Nós moramos em São Paulo, mas ele passa a semana em Belo Horizonte (MG). Tivemos vários desencontros e também a sorte de estarmos juntos em BH por causa das visitas da campanha, assim como também consegui visitar minha mãe em Maceió (AL) em duas agendas. Muito rápido, claro. Da última vez, comemos uma pizza à meia-noite, mas já valeu a pena", comemora a jornalista.

Em meio a esse turbilhão, Tainá ainda fez o pré-lançamento do seu livro de poemas e contos, Não Te Devo Respostas. Oficialmente, a obra só será lançada nas férias da jornalista, em novembro. Enquanto o tempo livre dela é dedicado ao sono ou a ficar em casa com o marido e o cachorro. Já Magalhães descansou, comeu e colocou a soneca em dia.

RENATO PIZZUTTO/BAND

Lula e Bolsonaro

Lula e Bolsonaro no debate da Band

Ajuda da experiência

Magalhães, que também é professor de Português e Espanhol, aproveitou que já tinha muitas fontes dentro do Governo como um trunfo na cobertura: "O importante para o jornalista que entrevista alguém importante do país, como o presidente da República, é ser fiel às palavras e publicar exatamente o que ele falou. Não criar uma manchete que diga uma outra coisa ou colocar palavras diferentes da que o entrevistado usou. Quando a fonte percebe isso, ela tem muito mais respeito pelo repórter e confia em dar a informação para o profissional, porque sabe que ele não vai deturpar e nem alterar o que foi dito".

"É saber todos os passos do presidente, a agenda dele, acompanhar para conseguirmos uma informação exclusiva que, muitas vezes, é destaque em um dia ou em uma semana. Quando eu descobri que o presidente estava com Covid, isso foi fruto de um trabalho resultante de setorista, que consegue perceber quando tem algo anormal ou estranho", exemplifica ele.

"No dia seguinte, ia ter uma reunião ministerial no Palácio do Alvorada. Quando isso acontece, a EBC e a TV Brasil colocam um carro para fazer a transmissão via satélite. Neste dia, eles estavam desmontando o carro e eu
achei estranho. Quando fui perguntar, o rapaz disse que tinha sido cancelada a reunião. Consultei dois parlamentares que teriam agenda com o presidente durante a semana e que disseram que a agenda também foi cancelada", prossegue Magalhães.

Aí eu pensei: 'Nossa, aconteceu alguma coisa'. Na época, a avó
da Michelle Bolsonaro estava internada com Covid. Foi quando veio o estalo, e eu pensei que o presidente estivesse com a doença. Eu insisti em falar com ele por telefone, ele disse que não estava bem e que tinha suspeita de Covid. Eu perguntei se eu poderia dar esta informação, ele autorizou, e imediatamente demos como breaking news.

Antes de integrar o time da CNN em São Paulo, Tainá foi repórter da Record na capital federal, vivência que a auxiliou nessa cobertura. "Brasília é uma experiência que transforma qualquer jornalista que cobre política. Uma coisa é telefone, acompanhar à distância uma pauta. Outra coisa é assistir à dinâmica do Congresso ou do Palácio in loco", explica.

"Já tinha uma agenda de Brasília que precisava acionar muito por conta da cobertura de pandemia, gente do governo e da oposição, principalmente quando estava no estúdio, apresentando os jornais. Então, eu mantive o que já tinha e mapeei o que podia retomar, fiz uma lista com nomes que seriam importantes manter no radar neste momento, tentei me adiantar com essa parte para chegar mais por dentro quando a campanha começasse", argumenta ela.

Termômetro das ruas

Com a atual polarização do país, existia um temor sobre como os profissionais conseguiriam cobrir o pleito em segurança. "Mas acho que acabou sendo mais tranquilo do que imaginei. Sempre existem receios quando estamos expostos em ambientes desconhecidos, mas fizemos uma rede de apoio muito forte entre os colegas, conseguimos nos ajudar bastante na rua", afirma Tainá.

E uma das lembranças mais marcantes dessa cobertura para a jornalista foram os voos intermináveis --tanto que ela respondeu aos questionamentos desta reportagem enquanto viajava de Campinas (SP) para Juiz de Fora (MG).

Teve uma vez que passei por quatro voos em 24h. Em outra semana, saí de casa sabendo para onde iria, mas sem a certeza de onde terminaria: comecei em Belo Horizonte e terminei no Recife. É um exercício para lidar com o imprevisto na marra.

Na lista de perrengues de Magalhães, também encontram-se a decisão própria de subir na garupa de uma moto para acompanhar as motociatas de Bolsonaro: "Eu disse que iria". O canal contratou uma moto com um condutor responsável por transportar o jornalista. Junto a essa iniciativa, um carro com o cinegrafista também acompanhava a rota.

Outro caso que ele viveu na pele foi o pânico ao perder a carteira com os documentos pessoais enquanto estava no Maranhão. "Tinha que fazer a cobertura e, ao mesmo tempo, estava sem cartão, sem documento. Depois de três horas, alguém me ligou dizendo que estava com minha carteira e que queria me entregar. Eu fiquei bem feliz e agradeci imensamente à pessoa que encontrou. O cinegrafista também perdeu o celular e ficamos incomunicáveis", conta ele.

Balanço final

Para o professor, um dos fatos marcantes dessa cobertura foi que ele nunca havia visto tantos brasileiros apoiarem um político. "Acho que a nossa democracia está amadurecendo porque você vê as pessoas indo para as ruas, e o país está dividido, isso me chamou a atenção, ver diversas pessoas de diversas idades chorando ao ver o presidente da República. Isso não era visto nesse período de eleição", defende.

"O brasileiro passou a conversar e discutir mais sobre política. Esta é uma eleição com dois candidatos cujas ideias de programa são totalmente diferentes. A política começou a fazer parte no dia a dia das pessoas, e isso chamou a atenção porque, até então, não era discussão. Hoje as pessoas não sabem os nomes dos jogadores da Seleção Brasileira, mas sabem os nomes de ministros do governo, do Supremo Tribunal Federal. Isto é muito bom", complementa Magalhães, que chega ao fim da cobertura com a sensação de dever cumprido e com o desejo de trabalhar no próximo pleito.

Esse também é o sentimento da escritora: "Acho que quando estamos imersos, fica mais difícil fazer uma avaliação sobre nosso próprio trabalho, mas recebo muitas mensagens de colegas entusiasmados com o resultado do que tenho feito. Acho que é uma boa forma de entender que deu certo".

"Amo notícia, adoro política, gosto do hard news, nunca quis fazer outra coisa da vida, então acho que me deram o desafio ideal. Acho que me dá contexto para entender melhor o jogo da política, exige do meu feeling de repórter. Sem dúvida está sendo uma experiência que me abastece muito e lembrarei com muito carinho. Me sinto pronta para 2024 e 2026", reflete Tainá.


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