MEMÓRIA DA TV
Divulgação/TV Globo
Abelardo Barbosa, o popular Chacrinha, foi líder de audiência e passou pelas principais emissoras do país
THELL DE CASTRO
Publicado em 19/5/2019 - 8h34
Entre as décadas de 1970 e 1990, mesmo com poucas emissoras de TV aberta, o público era bombardeado por uma overdose de programas de auditório. Além de nomes consagrados que estão no ar até hoje, como Silvio Santos, Raul Gil, Gugu Liberato e Fausto Silva, havia apresentadores menos glamourosos, como Barros de Alencar e Carlos Aguiar.
Em geral, as atrações se pareciam, eram um misto de musicais com artistas famosos ou promessas, concursos de calouros (geralmente desafinados) e competições entre o público, com farta distribuição de prêmios. Alguns programas tinham baixos orçamentos e gostos duvidosos, mas faziam a alegria do público.
Silvio Santos dominava o domingo desde os anos 1960, com seu programa começando por volta das 11h e terminando somente à noite. Primeiramente na Globo (até 1976), depois na Tupi, TVS e Record (as três exibiram a mesma atração), e, finalmente, no seu sonhado SBT, a partir de 1981.
Somente em meados dos anos 2000 que o animador diminuiu o ritmo, ficando com as atuais quatro horas nas noites de domingo.
Ao mesmo tempo, na nova emissora, ele tinha a companhia de Gugu Liberato, que comandou o Viva a Noite entre 1982 e 1992, entre outros programas. Durante alguns anos, entre 1984 e 1988, Gugu já tinha rivalidade com Faustão, que comandava o Perdidos na Noite --o programa passou pela Gazeta, Record e Band, antes de sua ida para a Globo, em 1989.
Outro nome histórico é o de Abelardo Barbosa (1917-1988). O popular Chacrinha, que começou nos anos 1950, no rádio, comandou programas líderes de audiência em quase os canais. Tupi, Excelsior, Globo e Band, sempre movimentando multidões. Em 1972, deixou a Globo após brigar com Boni, voltando ao canal somente em 1982, onde ficou até a sua morte.
Nos anos 1970, principalmente, o público aguardava ansiosamente as polêmicas pautas de Flávio Cavalcanti (1923-1986). O apresentador, que não media palavras para criticar o que ou quem não gostava e quebrava discos de artistas no palco, era um dos líderes de audiência da Tupi.
Com pautas que chocavam o público, chegou a ser suspenso pela censura, em 1973, depois de mostrar o caso de um homem inválido que "emprestava" a mulher para um vizinho. Se tornaram clássicos seus duelos com Chacrinha para ver quem apresentava mais "mundo cão", tudo em busca de audiência.
Depois que a Tupi quebrou, Cavalcanti foi para a Band, onde comandou um programa noturno diário. Em 1983, ingressou no SBT, sua última casa. Morreu em 1986, poucos dias depois de sofrer um infarto enquanto apresentava a atração. Wagner Montes (1954-2019), assustado, assumiu o comando. Ele se despediu do público dizendo que o apresentador voltaria na semana seguinte, o que não aconteceu.
Outro nome que era muito popular entre as décadas de 1970 e 1990 era o de Edson Cury (1936-1998), mais conhecido como Bolinha. Praticamente durante toda a sua carreira esteve na Band, onde comandava um longo programa nas tardes de sábado, o Clube do Bolinha, que recebia os mais variados artistas e chamava a atenção para performances de transformistas, algo que não era comum na época.
Dois pioneiros da televisão brasileira também marcam presença nessa galeria: J. Silvestre (1922-2000) e Hebe Camargo (1929-2012). Depois de uma passagem pela Tupi nos anos 1970, após alguns anos afastado, Silvestre brilhou no SBT até 1983, quando brigou com Silvio Santos e foi para a Band.
Após mais alguns anos longe, morando nos Estados Unidos, foi chamado para tentar salvar a Manchete. Comandou o Domingo Milionário, em 1997, mas a iniciativa durou pouco tempo.
Hebe, considerada a primeira-dama da televisão brasileira, se tornou estrela da Record anos 1960. Esteve na Tupi nos anos 1970 e na Band durante parte dos anos 1970 e 1980. A partir de 1986, a loira se tornou um dos principais nomes do SBT, onde ficou até 2010. Entre 2011 e 2012, apresentou programa na RedeTV!, e tinha acertado sua volta ao canal de Silvio Santos dois dias antes de morrer.
As emissoras menores também tinham seus representantes. Depois do auge nos anos 1960, a Record passou muitas dificuldades nos anos 1970 e 1980, antes de ser comprada por Edir Macedo em 1989. Mesmo assim, contava com um apresentador que conseguia bons índices no Ibope ao comandar seu show popular.
Trata-se de Barros de Alencar (1932-2017), famoso nome do rádio, que recebia cantores e grupos que executavam os sucessos do momento.
A Gazeta, mais focada em São Paulo, contou com dois apresentadores muito conhecidos no rádio e que também tinham seus públicos na televisão. Carlos Aguiar (1941-1988), que durante muitos anos liderou a audiência na Rádio Globo, surgia no palco com o microfone que virou o símbolo de Silvio Santos e recebia as mais variadas atrações.
Folclórico, ele tinha um bordão marcante: "Um passo para o sucesso". Aguiar morreu precocemente, aos 41 anos, vítima de insuficiência respiratória.
Outro nome que passou pela emissora e também esteve na Record e na Band era Dárcio Campos (1945-1995), líder da "Geração Chanti". Ele também era cantor e também fazia muito sucesso com seu programa de rádio. Morreu dias antes de completar 50 anos, vítima da Aids.
A lista de apresentadores de auditório não para por aí, contando, até mesmo, com alguns "aventureiros", profissionais bem-sucedidos em suas funções que resolveram se arriscar em outras áreas.
São os casos, por exemplo, do jornalista Sérgio Chapelin, que trocou o Jornal Nacional pelo Show Sem Limite, do SBT, durante um ano, entre 1983 e 1984, e o narrador esportivo Osmar Santos, que, além de transmitir jogos no rádio e na televisão, comandou atrações como Guerra dos Sexos, na Globo, e Osmar Santos Show, na Manchete.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.