PITACOS DO EMPRESÁRIO
REPRODUÇÃO/REDETV!
José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, apontou que a grade da Globo precisa de mudanças
Dono da Rede Vanguarda, afiliada da Globo na região do Vale do Paraíbae ex-mandachuva da líder de audiência, José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, não está satisfeito com a grade da Globo e defende mudanças na programação. O empresário de 85 anos também entende que a GloboNews precisa ter "mais opinião, com mais espaço para o contraditório".
Boni assumiu, em 1980, a vice-presidência de Operações da Globo, cargo que na época equivalia ao de diretor-geral --ele deixou o posto em 1998 e ficou até 2001 como consultor. Para o executivo, a grade da emissora está obsoleta atualmente.
"É difícil mudar algo que deu certo durante muitos anos. Mas é preciso. Praticamente tudo aquilo que eu deixei lá, há 22 anos, continua rigorosamente igual. O público é ávido por novidades. Se a Globo não sair da mesmice, vai continuar o processo de perda de audiência. É preciso coragem. E eles têm quadros que podem liderar essa transformação", opinou o diretor, em entrevista ao site NeoFeed nesta semana.
Ele foi um dos criadores do "padrão Globo de qualidade" e corresponsável pela hegemonia da rede na televisão brasileira. Entrou na Globo em 1968 e se tornou diretor-geral da Central Globo de Produções no ano seguinte. Na década de 1970, criou a programação da emissora --uma estrutura básica de grade que é mantida até hoje, com poucas mudanças.
De acordo com dados obtidos pelo Notícias da TV, a média-dia (das 7h à meia-noite) anual de ibope da Globo era de 20,5 pontos em 2001, pouco depois da "era Boni". Na ocasião, a emissora atraía a audiência de 50,5% dos televisores ligados no PNT (Painel Nacional de Televisão), que acompanha os números das 15 maiores regiões metropolitanas do país.
Em 2020, a Globo manteve com folga a liderança do mercado, com 15,3 pontos de média, mas com uma participação menor na audiência: 33,3% de share. Ou seja, em 20 anos, o ibope da líder da TV caiu 25% --nesse mesmo período, a Record cresceu 51% e o SBT teve uma queda de 46%. A TV paga e os streamings passaram a ocupar uma parcela relevante do mercado.
O próprio Boni é um consumidor de séries na web, mas com ressalvas. "Eu comecei a ver com muito entusiasmo. Depois, ficou tudo a mesma coisa, tudo muito convencional. Eu vejo o primeiro episódio, o segundo e já pulo para o final. Raramente uma me prende até o fim. É tudo muito entediante", comentou.
Questionado pela reportagem do NeoFeed sobre o desempenho da CNN Brasil nesse primeiro ano, Boni elogiou o canal de notícias e aproveitou para dar pitacos sobre a GloboNews, que é líder do mercado na TV paga.
"A CNN Brasil está fazendo um bom trabalho. Eles conseguiram ser eficientes e rápidos num curto espaço de tempo. Mas é preciso melhorar muita coisa. O jornalismo não pode ficar em cima apenas de quatro ou cinco fatos. É preciso ter uma pauta mais extensa, oferecendo mais conteúdo e sobretudo mais opinião, com mais espaço para o contraditório. Os comentaristas dos telejornais brasileiros não divergem. Essa crítica vale principalmente para a GloboNews", opinou o empresário.
Como exemplo, Boni citou a discussão de Demétrio Magnoli e Gerson Camarotti na primeira edição do Em Pauta de 2021. O debate gerou um climão e precisou de interferência da apresentadora Cecilia Flesch.
"Outro dia, durante a cobertura da pandemia, dois comentaristas da GloboNews, o Gerson Camarotti e o Demétrio Magnoli, discutiram ao vivo. É algo tão raro de se acontecer, que a âncora tomou um susto. O que é uma exceção tinha que virar regra. A discordância enriquece o debate. Se todos pensam da mesma forma, a tendência é ficar tudo muito morno e chato", apontou ele.
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