CULPA DA CRISE
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Karen Schmit em reportagem da Rede Vanguarda, afiliada da Globo; jornalista saiu em demissão em massa
DANIEL CASTRO, ODARA GALLO E KELLY MIYASHIRO
Publicado em 4/8/2020 - 11h49
Atualizado em 4/8/2020 - 12h35
Uma das principais afiliadas da Globo, a Rede Vanguarda demitiu mais de 20 pessoas na última segunda-feira (3) e ignorou a estabilidade prevista na Medida Provisória 936. Os funcionários tiveram seus salários reduzidos em 25% durante três meses e deveriam ter de volta o pagamento integral e o emprego garantido pelo mesmo período. Em vez disso, emissora de Boni na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, preferiu pagar indenização e rescindir os contratos.
Ao Notícias da TV, o dono da Vanguarda, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, minimizou o corte anunciado ontem e afirmou que as demissões estavam dentro do programado. "[Está havendo] demissões e admissões. Dentro do fluxo normal. O nosso turnover [rotatividade] é em media 20 pessoas anualmente. 10% da folha [de pagamento]. Esse ano o número foi mantido só que concentrado em um mesmo período", explicou.
O ex-todo-poderoso da Globo disse ainda que a lei foi respeitada. "Nem poderia ser diferente porque o Ministério Público do Trabalho não a aceitaria. Saem agora mas recebem até o tempo determinado pela lei. Provavelmente até outubro como disposto. Confundem com a extensão do prazo que se refere aos que continuarem trabalhando com desconto, o que não é o caso deles. E ainda estendemos prazo de plano de saúde até o final do ano. E assumiremos casos de emergência", declarou.
Boni afirmou que não haverá mais desligamentos. "As dificuldades são passageiras e são as mesma que a maioria das atividades está sofrendo. Mas a Vanguarda investirá esse ano em outras tecnologias devido em alterações do comportamento do mercado", completou.
Entre os demitidos, 12 são jornalistas: uma editora, duas produtoras e um editor de imagens. Além deles, o âncora Carlos Abranches, que tinha 25 anos de emissora, e mais três repórteres, entre elas Karen Schmidt, que fazia entradas no Jornal Nacional e trabalhava na Vanguarda desde 2001.
De acordo com uma pessoa próxima a funcionários da emissora, a alegação da direção foi a crise financeira instaurada por causa da pandemia do novo coronavírus, que reduziu anúncios e receitas.
A Vanguarda já havia feito acordo para reduzir os salários dos funcionários durante três meses. Quando o prazo finalizou, houve o corte dos 22 colaboradores. "Demitiram antes dos três meses de estabilidade. E decidiram pagar a indenização", afirmou uma fonte ao Notícias da TV.
Nos bastidores, a decisão causou indignação, já que funcionários avaliaram que a decisão da direção foi cortar profissionais dos mais qualificados. "[As críticas] foram principalmente por causa [da demissão da] Karen Schmidt. Ninguém da chefia foi cortado, nem algumas pessoas menos produtivas e com salários altos também", completou.
Apresentador do Bom Dia Vanguarda e funcionário há mais de 25 anos, Carlos Abranches foi um dos demitidos da Rede Vanguarda. Um dos principais jornalistas da afiliada da Globo, ele também atuou como repórter em coberturas especiais na região, como a visita do Papa Franciso ao Santuário Nacional de Aparecida, em 2013, e as Eleições Municipais.
O ex-âncora usou seu perfil no Instagram para justificar sua saída da emissora. "Nesse momento, estou me despedindo da TV Vanguarda. A pandemia e a crise econômica decorrente disso obrigaram a emissora a eliminar minha função, junto com a de outros vários colegas. Por incrível que pareça, saio mais rico do que quando entrei, há exatos 25 anos e seis meses. Rico de maturidade e de bons colegas de trabalho", afirmou o palestrante em sua publicação.
Confira:
Já Karen Schmidt era funcionária da Rede Vanguarda desde dezembro de 2001. A jornalista atuou como repórter, apresentadora, correspondente que fazia entradas no Jornal Nacional, e até como cabeça de rede --coordenadora do envio de reportagens locais para a central de Jornalismo da Globo, no Rio de Janeiro.
Em seu perfil no Twitter, Karen tentou descontrair a demissão. "Como vou ter muito tempo livre pela frente, que livros vocês me indicam? Ou séries?", perguntou ela aos seguidores na rede social. "Fiquei chateado com sua saída. O jornalismo do Vale [do Paraíba] perde muito!", lamentou o internauta Victor Copola.
Veja a publicação de Karen Schmidt no Twitter:
Como vou ter muito tempo livre pela frente, que livros vocês me indicam? Ou séries?
— Karen Schmidt (@ka_schmidt) August 4, 2020
Em março de 2019, a jornalista Michelle Sampaio gerou comoção ao anunciar que foi demitida da Rede Vanguarda por estar acima do peso. Mas ela não foi a única. Em comentário publicado no Instagram, a ex-colega de emissora Amanda Costa alegou ter passado pela mesma situação --e disse, na época, que outros repórteres da TV enfrentaram esse drama também.
"Como muitos sabem e me acompanham, há dois anos entrei numa briga com a balança depois de ter engordado muito na gravidez. Por estar acima do peso, fiquei um bom tempo trabalhando nos bastidores, cheguei a emagrecer um pouco, voltar pra reportagem e apresentação do jornal, mas saí do 'vídeo' novamente porque nunca de fato voltei ao peso antes da gravidez, que foi o pedido da emissora", disse Michelle.
"Sei bem o que ela [Michelle] estava vivendo. Passei por isto quando voltei da licença-maternidade após ter meu filho, tanto que pedi demissão e voltei dois anos depois, quando estava mais 'magra' e 'apta' para voltar ao vídeo", escreveu Amanda.
"Tem o caso, ainda em andamento, da repórter que está fora do vídeo pelo mesmo motivo. E o do repórter que fez até uma cirurgia bariátrica para não perder o emprego. Tanto tempo passou e a empresa de 'Vanguarda' não mudou", provocou a jornalista, sem citar nomes.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.