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FALAS DA TERRA

Após racismo no BBB21, Globo escancara preconceito contra índios: 'Queremos viver'

IGOR TRIPOLLI/TV GLOBO

Índia com cocar e pinturas no rosto em cena do especial Falas da Terra

Valdelice Verón, líder guarani-kaiowá que teve o pai assassinado, desabafa em especial da Globo

PIERO VERGÍLIO

pierovergilio@gmail.com

Publicado em 8/4/2021 - 6h45

Após exibir e debater um episódio de racismo no BBB21 que envolveu o professor João Luiz Pedrosa e o cantor Rodolffo Matthaus, a Globo dará voz a outro grupo marginalizado pela sociedade. No especial Falas da Terra, que irá ao ar em 19 de abril, indígenas escancaram que até hoje precisam lutar pela sobrevivência de seu povo.

"O que é o Dia do Índio? Nossos direitos estão sendo respeitados? Nossos territórios estão sendo demarcados? Não somos índios para estar nas fotos. Somos reais, estamos numa luta, estamos numa guerra. Contra o Estado, contra os invasores que estão entrando no nosso território. Todos os dias lutamos para estarmos vivos", desabafa Alessandra Korap, líder indígena, que, em 2020, recebeu o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos.

A ativista é uma das 21 personagens que concederam depoimentos ao projeto, que será costurado pela temática da preservação ambiental, além de destacar os episódios de violência contra tribos. A crueza da realidade também é lamentada por Valdelice Verón, uma das porta-vozes do povo guarani-kaiowá, que teve o pai assassinado.

"As políticas públicas ainda nos tutelam, nos colocam como incapazes, desprezando a nossa autonomia e capacidade. Estamos morrendo, há um genocídio em curso, e não começou nesta década. O que falta é a consciência da humanidade", apela.

Além delas, outro personagem de destaque no especial é o cacique Raoni Metuktire, que protocolou uma denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, acusando-o de crimes contra a humanidade, dentre os quais estão listados "morte, extermínio, migração forçada, escravização e perseguição contra indígenas".

A representatividade também está na equipe escalada pela Globo para produzir o especial, que conta com o escritor Ailton Krenak, líder do Movimento Socioambiental de Defesa dos Direitos Indígenas --além de ser um dos convidados a contar sua história, ele também participou da escolha dos personagens e da criação do projeto.

Juntam-se a Krenak nomes como Ziel Karapató, artista e ativista; Graciela Guarani, cineasta; Olinda Tupinambá, jornalista e documentarista; e Alberto Alvarez, cineasta e realizador.

Em comunicado enviado à imprensa, a Globo avalia a participação deles como "fundamental para trazer o olhar indígena para o conteúdo, sugerindo e comentando a escolha dos personagens, conduzindo a conversa no set, de forma que os temas trazidos por cada um fossem explorados ao máximo".

Este será o terceiro especial da Globo sobre causas identitárias. O primeiro, Falas Negras, foi exibido em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Falas Femininas, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Os próximos programas darão voz à comunidade LGBTQ+ e aos idosos, respectivamente. 

Avanços?

Se o Projeto Identidade representa um avanço importante na discussão de temáticas sociais, a Globo ainda precisa contornar episódios nos quais a própria emissora está envolvida.

Na segunda (5), o desabafo do professor João Luiz durante o Jogo da Discórdia no BBB21 --ele foi vítima de um comentário racista do sertanejo Rodolffo Matthaus-- sensibilizou os telespectadores e repercutiu nas redes sociais.

Alguns, no entanto, apontaram que a emissora deveria ter abordado o assunto imediatamente após o ocorrido. Esta reivindicação acabou sendo atendida na edição de terça-feira (6), quando Tiago Leifert deu uma lição de moral em Rodolffo após encerrar a votação.

Também na segunda, a atriz Jéssica Ellen, que interpreta Camila em Amor de Mãe, postou uma mensagem que foi interpretada nas redes como uma indireta à autora Manuela Dias. "Parem de nos matar na vida e na dramaturgia", escreveu ela nos Stories do Instagram. O desabafo foi postado depois que Lucas (Nando Brandão) foi assassinado no folhetim das nove. Além dele, outros personagens negros enfrentaram tragédias no enredo.

Em 2018, a Globo também foi criticada pela escassez de atores negros na novela Segundo Sol. No ano passado, o autor João Emanuel Carneiro reconheceu a falta de representatividade em entrevista ao Conversa com Bial.

"Eu acho que está certo. Tem que dar voz aos negros, fazer a novela com mais atores negros. E nesse evento aí, nessa ocasião de Segundo Sol, eu aprendi. Acho que foi uma lição para mim. Eu penso em fazer novelas diferentes também", admitiu o novelista.

Antes disso, a emissora já havia sido alvo de reclamações na escalação de elenco de Sol Nascente (2016), que tinha como protagonista uma família de imigrantes japoneses e seus descendentes. O papel principal do clã ficou com Giovanna Antonelli, e Luis Melo também não agradou ao ganhar o personagem Kazuo Tanaka.


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