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Após demissões, Globo dá bronca em repórteres por jabá nas redes sociais

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Bárbara Coelho, Paulo Nunes e Lucas Gutierrez na Globo

Paulo Nunes, Bárbara Coelho e Lucas Gutierrez: autorização para publicidade vira dilema na Globo

GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 13/3/2023 - 7h00

A Globo vive uma questão delicada na área esportiva: repórteres querem realizar ações de merchandising nas redes sociais para aumentar seus ganhos. A emissora, no entanto, só autoriza narradores, comentaristas e apresentadores a fazer publicidade. Na última quinta (9), a direção mandou um comunicado dando uma bronca e relembrando a orientação após um caso de descumprimento.

Procurada para comentar os assuntos tratados na reportagem, a Globo preferiu não se manifestar.

Segundo apurou o Notícias da TV, uma jornalista que atua em transmissões do SporTV viajou na folga e marcou o hotel onde ficou para agradecer a estadia, o que foi configurado jabá --termo utilizado para definir o ganho de vantagens em troca de divulgação de algo. Após comprovar que pagou pela viagem, a profissional foi somente advertida.

O caso fez Gustavo Maria, diretor de Redação do Esporte da Globo enviar um e-mail longo sobre o assunto. O executivo não citou a funcionária nominalmente, nem mesmo enviou a orientação para todos os comandados por e-mail --alguns ficaram sabendo somente após o compartilhamento entre colegas no WhatsApp.

No documento, ao qual o Notícias da TV teve acesso, Gustavo Maria deixou claro que, por determinação da direção da emissora, apenas narradores, comentaristas e apresentadores podem fazer ações em suas redes sociais, ou algum tipo de publicidade, mediante aprovação de um comitê formado pelo Esporte para analisar cada situação. Galvão Bueno é o único profissional, com alguma participação na área esportiva, que tem liberdade irrestrita.

"Queria reforçar com todos vocês repórteres um trecho dos Princípios Editoriais bastante esclarecedor sobre o cuidado que precisamos ter com as marcas nas redes sociais. Noto que muitos têm dúvidas. Infelizmente, diversas vezes só descobrimos essas dúvidas após uma postagem inadequada", diz Maria no e-mail, citando um trecho do documento em seguida.

"É imprescindível que o jornalista do Grupo Globo evite a percepção de que faz publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc. Isso também não deve acontecer em contas de terceiros, e o jornalista deve zelar para evitar tais ocorrências", consta nos Princípios Editoriais.

O caso da repórter causou polêmica porque, recentemente, houve questionamentos sobre algo parecido que ocorreu com Bárbara Coelho, apresentadora do Esporte Espetacular, e Paulo Nunes, ex-jogador, comentarista e um dos comandantes do programa Segue o Jogo.

Em viagem para Aruba para gravar um quadro do Esporte Espetacular, Nunes fez marcações do hotel onde estava hospedado e mostraram a estrutura local. Em outra situação, do ano passado, Bárbara Coelho também fez algo parecido em uma viagem para Salvador (BA) durante o Carnaval.

Mas, no caso deles, havia autorização para uso de redes sociais com esse propósito. A maior reclamação de alguns repórteres é justamente o tratamento diferenciado, com liberação para poucos. Alguns têm rede social forte, com 200 mil seguidores, e são procurados por cursos de jornalismo esportivo e casas de apostas para publicidade.

Repórteres reclamam de baixos salários

Um levantamento feito pelo Notícias da TV mostra que, em um ano e meio, pelo menos sete repórteres esportivos da Globo pediram demissão ou foram desligados. São eles: Fernando Saraiva, André Hernan, Lizandra Trindade, Marco Aurélio Souza, Ana Helena Goebel, Guido Nunes e Eudes Junior.

Juntam-se a eles nomes que atuavam apenas no digital ou nos bastidores, mas que tinham popularidade nas redes, como Victor Canedo, Marcelo Hazan, Amanda Kestelmann, João Vitor Castanheira e Victor Pozella.

Com exceção de Marco Aurélio Souza, que saiu para cuidar da saúde, todos os outros tinham queixas em comum: a falta de mais oportunidade e de crescimento na emissora, e salários baixos para trabalhar na reportagem. Quem saiu sempre tinha uma opção melhor no radar. 

O argumento da direção é que repórter que atua no dia-a-dia é jornalista e precisa zelar pela isenção. No entanto, existem comentaristas e apresentadores que são formados em Jornalismo e fazem merchandising. Alguns se recusam, como é o caso de André Rizek, apresentador do Seleção SporTV, mas ele é exceção.

Veja o texto enviado por Gustavo Maria na íntegra:

"Olá, pessoal.
Tudo bem?

Queria reforçar com todos vocês repórteres um trecho dos Princípios Editoriais bastante esclarecedor sobre o cuidado que precisamos ter com as 'marcas' nas redes sociais. Noto que muitos têm dúvidas. Infelizmente, diversas vezes só descobrimos essas dúvidas após uma postagem inadequada. Vejam o que diz o texto dos Princípios sobre o tema:

'É imprescindível que o jornalista do Grupo Globo evite a percepção de que faz publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc. Isso também não deve acontecer em contas de terceiros, e o jornalista deve zelar para evitar tais ocorrências.'

Essa regra vale para todos os nossos jornalistas: repórteres, editores, produtores e lideranças. Por decisão da Globo, a regra é diferente para narradores, comentaristas e apresentadores. Esses profissionais podem ser autorizados a fazer ações de publicidade. Mas só são autorizados após uma análise criteriosa da empresa de cada proposta que chega.

O cuidado que temos é para proteger algo fundamental para o jornalista e para o veículo para o qual trabalha: a isenção. Por isso destaco mais um trecho dos Princípios sobre nossa conduta nas redes sociais --que complementa o primeiro.

'O Grupo Globo considera que toda rede social é potencialmente pública. (...) E, quando a pessoa é um jornalista, a sua atividade pública acaba relacionada ao veículo para o qual trabalha. Se tal atividade manchar a sua reputação de isenção, manchará também a reputação do veículo. Isso não é admissível, uma vez que a isenção é o principal pilar do jornalismo. (...) Isso se aplica a todas as redes --Twitter, Instagram, Facebook, WhatsApp ou qualquer outra que exista ou venha a existir.'

Por fim, recomendo que todos consultem nossos Princípios Editoriais regularmente. É uma excelente conexão com as melhores práticas do bom jornalismo.

Abraços e beijos,
Gustavo Maria"


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