Fim de uma era
Divulgação/NBC
Mandy Moore e Sterling K. Brown na quarta temporada de This Is Us; série da NBC foi esnobada
JOÃO DA PAZ
Publicado em 10/12/2019 - 5h18
A TV aberta dos Estados Unidos vai exibir uma festa da qual não faz mais parte. Pela primeira vez em 76 anos, o Globo de Ouro não terá nenhuma rede americana concorrendo aos prêmios do evento que abre o circuito de premiações de 2020. O recorde negativo inédito é a prova definitiva de que, depois da era da TV paga, chegou a dos streamings.
Se por um lado o quarteto de ferro ABC, CBS, Fox e NBC (além da nanica e valente The CW) ficaram de fora, os serviços de streaming somaram 30 indicações. A Netflix lidera esse grupo com 17, segunda maior marca de uma rede na década, um índice alcançado antes somente pela HBO. Na outra extremidade do ringue está a TV paga, que recebeu 25 indicações, distribuídas entre cinco canais.
A indústria do entretenimento e a mídia receberam a notícia com surpresa, apesar de já terem previsto que, mais cedo ou mais tarde, os streamings e a TV paga teriam domínio completo em uma premiação tão cobiçada. É que existiam bons nomes nas séries da TV aberta que mereciam, pelo menos, algumas menções.
É o caso de This Is Us, drama chororô da rede NBC três vezes indicado ao Emmy, que poderia estar no Globo de Ouro representado por Sterling K. Brown (o Randall) na categoria melhor ator de série dramática. A série, por sua vez, também teve uma primeira parte de sua quarta temporada muito boa, mas a concorrência é acirrada, e emplacar uma indicação entre as cinco nomeadas realmente seria difícil.
Entre as comédias, The Good Place, também da NBC, era uma série bem comentada no período pré-Globo de Ouro, seja em apostas para cravar um espaço na principal categoria do gênero ou em uma indicação para o ícone Ted Danson. Outra comédia bem avaliada foi Blackish, essa da rival ABC. No fim, ambas comeram poeira.
No ano passado, a NBC foi a TV aberta com o maior número de indicações, três. A rede CBS, líder de audiência nos Estados Unidos, recebeu apenas uma. As séries que estavam na disputa eram The Good Place, Will & Grace e Murphy Brown.
O Globo de Ouro de 2020 será realizado em 5 de janeiro, em Beverly Hills, na região da Grande Los Angeles. Pela quinta vez, o comediante Ricky Gervais será o anfitrião.
A nulidade da TV aberta no Globo de Ouro é um novo baque. Cheia de amarras e limitadas pelo pudor, as séries das redes americanas sofrem com a concorrência dos streamings e canais pagos, que têm uma liberdade maior de abordar temas complexos e ousados. Sexo, violência e palavrões também ajudam.
Ano após ano, as séries perdem em qualidade e veem o público fugir. A nova safra de dramas e comédias da fall season (temporada de lançamentos) deste ano registrou a pior audiência da história da TV norte-americana. Nenhuma das 12 atrações que estrearam tiveram o episódio de estreia visto por mais de 10 milhões de pessoas, marca que não foi atingida nem com a soma do público "ao vivo" com aqueles que assistiram aos respectivos capítulos gravados.
Como efeito comparativo, a fall season de 2018 teve quatro séries que ultrapassaram a marca dos 10 milhões com o primeiro episódio. E isso levando em consideração somente números da audiência "ao vivo". Na temporada de 2017, três atrações superaram esse patamar.
O declínio da qualidade de atrações roteirizadas e realities da TV aberta versus o conteúdo das plataformas de streaming e TV paga ficou evidente no Emmy deste ano. Foi o pior Oscar da TV para todas as cinco redes americanas, que juntas ganharam somente 16 estatuetas, menos da metade do que a HBO arrebatou sozinha (34). E a rede NBC, a maior vencedora dessa edição entre as TVs abertas, com sete conquistas, ficou atrás até do canal pago voltado a um nicho, o Nat Geo.
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