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NA HBO

Mrs. Fletcher invade a intimidade de uma mãe viciada em pornografia

DIVULGAÇÃO/HBO

Imagem da atriz Kathryn Hahn deitada em uma cama para fazer a personagem Eve Fletcher

A atriz Kathryn Hahn interpreta Eve Fletcher, uma mãe viciada em pornografia, na série Mrs. Fletcher

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 3/11/2019 - 4h01

Em tempos de necessárias problematizações sobre as relações de consentimento entre as pessoas, a comédia Mrs. Fletcher é obrigatória. Baseada em livro homônimo de Tom Perrotta, lançado há dois anos, a comédia estreou na HBO no último domingo (27). O escritor ficou conhecido por The Leftovers (2011), que também virou uma série cocriada por Damon Lindelof (Lost) e exibida pela HBO entre 2014 e 2017.

Assim como no livro, a história começa quando Mrs. Fletcher (Kathryn Hahn) passa pelo ritual que quase todo americano de classe média precisa enfrentar: a hora de mandar os filhos para a faculdade.

Brendan (Jackson White), o herdeiro de Fletcher, é como qualquer jovem que está no topo da pirâmide de popularidade: branco, sarado, hétero e alienado. Ela, contudo, se engaja mais em questões sociais: trabalha num lar para idosos e passa a frequentar uma aula de gênero ministrada pela transexual Margo (Jen Richards).

Aparentemente, a partida de Brendan representa para Eve Fletcher mais tempo para pensar em si mesma. A sátira promovida por Perrotta começa aqui. Enquanto o filho chega na faculdade para perceber que não está mais no topo da pirâmide, a solidão da mãe é combatida com uma inesperada atração por pornografia.

Começa como uma simples curiosidade, quase como uma crítica, para depois se tornar uma realidade da qual ela não consegue mais se livrar. O curioso é que, embora os temas sejam dispostos ao drama, Mrs. Fletcher consegue certa leveza.

Além de mãe e filho, a série também apresenta Julian (Owen Teague), um estudante que sofre bullying de Brendan e terá um papel importante; Amanda (Katie Kershaw), colega de trabalho de Eve; e Zach, vivido por Cameron Boyce (1999-2019), ex-ator da Disney que morreu quando a série já estava quase finalizada.

Zach é um personagem bastante relevante no livro original e, com a morte surpreendente de Boyce, fica difícil imaginar os planos que a produção tem para o personagem de forma que a trama não seja prejudicada.

Com temas tão delicados, era preciso ter cautela, e Perrotta acertou ao recorrer a um time de direção todo composto por mulheres. Nicole Holofcener foi escalada para o primeiro episódio e fez uma escolha inevitável para lidar com o mundo satírico do autor: sutileza. A estreia de Mrs. Fletcher não é silenciosa, mas estabelece as raízes quase crônicas de sua narrativa.

A vida é contada por meio de um recorte minimalista, e é nessa simplicidade que o roteiro vai buscando emoção. A série não é eloquente nas ações, mas sua força textual é determinante.

O primeiro episódio já apresenta parte de seus objetivos temáticos, nas sequências em que Eve tenta aconselhar o filho a não objetificar as mulheres após ouvi-lo por trás da porta chamando a ex-namorada de "vadia". Esse canal de comunicação com Brendan é estreito, mas ela insiste ainda assim.

Sua tristeza enquanto mãe que vê o único filho ganhar asas precisa estar à frente de tudo, pelo menos enquanto o público conehce a personagem. Há uma ligação forte entre ela e o herdeiro, mas não entre eles enquanto seres individuais.

Então, acontece aquilo que muda e avança a história abruptamente: Eve entra em um site pornô e digita MILF (um termo que, em inglês, significa algo como "mães que são transáveis"). Está feita a ligação maior entre uma sociedade solitária afoita por qualquer tipo de conexão e o resultado de uma inesperada solidão.

Se seguir o que é narrado no livro, essa imersão da personagem na pornografia só pode resultar na coisa que mais conecta Eve ao mundo do filho: a tal alienação. Na última sequência, aquele simples momento vendo um site pornô já muda a maneira como ela passa a ver o mundo.

Mrs. Fletcher ainda teve pouco tempo para mostrar seu potencial, mas foi uma estreia que acendeu várias luzes de curiosidade. Se for conferir, porém, é preciso dar um aviso: há imagens gráficas de pornografia em milésimos de segundos.

A primeira temporada terá sete episódios para desvendar as mentes de Eve e Brendan. Pelo que os dois já revelaram até agora, suas cabeças são tomadas de uma luta constante entre a complexidade e a hesitação. Mãe e filho sabem o que é certo, mas têm uma atração incontrolável pelo risco.

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