Sem sorriso
Divulgação/NMAA/ABC
Os comediantes Bill Cosby e Roseane Barr; queridinhos nos Estados Unidos perdem prestígio
JOÃO DA PAZ
Publicado em 31/5/2018 - 6h43
No final dos anos 1980, os comediantes Bill Cosby e Roseanne Barr eram os queridinhos da América. Suas séries eram líderes de audiência, vistas por até 30 milhões de telespectadores. Trinta anos depois, a dupla caiu em desgraça. O primeiro foi condenado por abuso sexual, no mês passado. A segunda teve sua comédia cancelada após um tuíte racista.
Os astros tiveram auge e decadência similares. Na temporada 1988-1989, Roseanne estreou e foi a segunda série de maior audiência nos Estados Unidos. A comédia só ficou atrás da familiar The Cosby Show (1984-1992), de Bill Cosby. Na temporada seguinte, ambas ficaram empatadas no primeiro lugar.
Atualmente, não é mais possível assistir às duas séries. Os canais que exibiam as reprises decidiram tirá-las do ar, para não se verem associados às imagens arranhadas de Cosby e Roseanne.
Tchau, querida
Um tuíte acabou com a carreira de Roseanne Barr, de 65 anos. Ela estava em alta porque o revival de sua comédia foi um fenômeno na temporada passada, terminando atrás apenas de The Big Bang Theory entre as séries mais vistas.
A rede ABC usou Roseanne (a série e a comediante) como carro-chefe em evento voltado ao mercado publicitário e à imprensa, neste mês. A atração seria a âncora da fall season (temporada de lançamento de séries entre setembro e novembro).
Mas tudo desmoronou com um post que a humorista fez no Twitter na madrugada da última terça (29). Ela comentou um texto que citava Valerie Jarrett, ex-conselheria do ex-presidente dos EUA Barack Obama, e a comparou com um macaco. Escreveu que Valerie "é um bebê [nascido do cruzamento] da Irmandade Muçulmana com Planeta dos Macacos [o filme]."
Horas depois, a presidente de Entretenimento da ABC, Channing Dungey, que é negra, anunciou o cancelamento da série, classificando o tuíte de "repugante". Depois, Roseanne foi demitida da agência de talentos que a representava e canais anunciaram que não exibiram mais a série protagonizada por ela.
Na quarta (30), Roseanne voltou à rede social e tentou se defender. "Não sou racista. Nunca fui e nunca serei", escreveu. Ela também lamentou que uma "piada estúpida" se sobreponha a "uma vida lutando pelos direitos civis e a favor de minorias". A comediante ainda replicou diversas mensagens de apoio que recebeu.
Não é o papai!
A derrocada do comediante Bill Cosby, 80 anos, ícone nos Estados Unidos e o papai da América, começou em 2014. Ele estava às vésperas de retornar à TV com uma comédia na rede NBC e de estrelar um especial de stand-up na Netflix quando a atriz Barbara Bowman publicou um texto no jornal The Washington Post detalhando supostos abusos sexuais ocorridos em 1985.
A denúncia corajosa incentivou outras mulheres a fazerem o mesmo. A imprensa norte-americana cedeu espaço a atrizes, modelos e atletas que acusaram Cosby de estupro. Tanto a NBC quanto a Netflix desistiram de tocar os projetos com o comediante. Canais da TV paga deixaram de exibir as reprises do Cosby Show.
O ator conseguiu se esquivar da prisão por um detalhe: a maioria das denúncias eram antigas e os crimes estavam prescritos. Mas a ex-jogadora de basquete Andrea Constand conseguiu ir à frente com um processo que resultou na condenação do comediante.
Andrea acusou Cosby de drogá-la e abusar sexualmente dela em 2004. O julgamento durou três semanas e terminou há um mês. A condenação é a primeira após a explosão do movimento #MeToo (#EuTambém). O ator cumpre prisão domiciliar, enquanto aguarda definição do juiz sobre a duração da pena, que pode chegar a 30 anos.
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