Roseanne
Divulgação/ABC
Os atores Roseanne Barr e John Goodman em cena da décima temporada da comédia Roseanne
REDAÇÃO
Publicado em 29/5/2018 - 15h01
Após um comentário racista da comediante Roseanne Barr, estrela da série Roseanne, a rede ABC decidiu cancelar a comédia, sensação do ano na TV norte-americana, que já tinha sido renovada para mais uma temporada. Nesta terça-feira (29), Roseanne fez uma postagem controversa no Twitter, na qual comparava uma conselheira do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama a um macaco.
"O tuíte de Roseanne é repugnante, detestável e inconsistente com nossos valores. E decidimos cancelar a série dela", disse, curto e grosso, a presidente de Entretenimento da rede ABC, Channing Dungey, em nota divulgada à imprensa.
O diretor-executivo da Disney, Bob Iger, falou em nota que só havia "uma coisa a ser feita e [cancelar a série] foi a decisão acertada". A ABC faz parte do grupo Disney.
Em uma conversa no Twitter, Roseanne escreveu que Valerie Jarrett é "um bebê nascido [de um cruzamento] da Irmandade Muçulmana com O Planeta dos Macacos [filme]". Valerie nasceu no Irã, mas seus pais são norte-americanos.
Channing, que é negra, se posicionou rapidamente após vários atores, jornalistas e celebridades hollywoodianas massacrarem Roseanne na internet e pedirem um posicionamento da ABC, rede que tem uma veia familiar forte e abre espaço para a diversidade, com séries como Blackish e as produções de Shonda Rhimes (Grey's Anatomy e How to Get Away with Murder, por exemplo), que é negra.
Nesta terça (29), durante participação especial em um programa do canal de notícias MSNBC, Valerie opinou sobre o caso. Ela disse que tudo isso "tem de virar um momento de aprendizado" e que está preocupada "com tantas outras pessoas que não têm um ciclo de amigos e seguidores que possam defendê-los".
Valerie ainda fez questão de ressaltar que comentários como os de Roseanne "são exemplos de racismo que acontecem todos os dias".
Tragédia anunciada
Polêmica, Roseanne sempre foi um problema para ABC justamente por causar nas redes sociais. Executivos da rede pediram a ela que se dedicasse mais à série e saísse um pouco do Twitter. Após a polêmica, ela publicou que agora vai deixar de vez a conta, mas antes deixou um pedido de perdão.
"Eu peço desculpas a Valerie Jarrett e a todos os americanos. Eu realmente sinto muito por ter feito uma piada ruim sobre a política e a aparência dela", escreveu a comediante. "Eu deveria ter pensado melhor. Perdoem-me pela piada de mau gosto."
A atriz está agora desempregada e sem representante. A agência de talento ICM Partners decidiu romper com Roseanne. "O que ela escreveu é antiético e fere nossos valores", falou a empresa em nota divulgada a seus funcionários. "Roseanne Barr não é mais nossa cliente", decretou.
A Viacom, conglomerado de mídia dona de vários canais pagos, irá tirar as reprises de Roseanne do ar a partir de amanhã. A comédia era exibida no Paramount Network, na TV Land e no CMT.
Colegas de série contra Roseanne
Antes de a ABC vir a público, uma das produtoras-executivas de Roseanne e roteirista da trama, Wanda Skyes, que também é negra, usou o Twitter para avisar que não iria retornar para a nova temporada. Wanda é conhecida dos fãs de séries, com papéis em comedidas populares como The New Adventures of Old Christine (2006-2010) e Blackish.
A atriz Sara Gilbert, que interpretava a filha de Roseanne na comédia, divulgou seu repúdio contra a postagem racista da protagonista. "Eu estou desapontada pelas ações dela [Roseanne], para dizer o mínimo". A declaração de Sara veio minutos antes de a ABC cancelar a série. "Nós criamos um show em que acreditamos e que o público ama, e que funciona de forma separada às opiniões de uma atriz do elenco."
Já Emma Kenney, que fazia a filha da personagem de Sara na comédia, viu o tuíte de Roseanne e decidiu pedir as contas. "Assim que eu liguei para meu empresário para me demitir de Roseanne, fiquei sabendo do cancelamento [da série]", revelou a atriz. "Valentões NUNCA vencerão", completou.
Fenômeno de audiência
Muito popular nos Estados Unidos nos anos 1980 e 1990, por narrar o cotidiano de uma típica família trabalhadora da classe média, Roseanne voltou à TV após 21 anos. O revival (inédito no Brasil), com os mesmos atores originais, foi um sucesso imediato de audiência. O primeiro episódio daquela que foi considerada a décima temporada foi visto por 18,2 milhões de telespectadores.
A média final da temporada colocou Roseanne como a segunda série mais vista de toda a TV norte-americana na temporada 2017-2018, com 17,8 milhões de telespectadores por episódio, atrás apenas de The Big Bang Theory (CBS), com 18,6 milhões.
Uma das características principais da comédia foi trazer para o horário nobre uma protagonista eleitora de Donald Trump, fiel defensora do polêmico líder dos Estados Unidos. A personagem reflete a visão política de sua intérprete.
Roseanne retratou o ambiente hostil e polarizador da atual política americana. Na série, como contraponto à visão conservadora da protagonista, existe a irmã mais nova dela, Jackie (Laurie Metcalf). A caçula tem posições progressistas para gerar um debate e não deixar a trama virar uma panfletagem pró-Trump.
divulgação/tca
A presidente de Entretenimento da ABC, Channing Dungey, em seminário da TCA, em 2017
Reação em Hollywood
Hollywood aplaudiu o cancelamento de Roseanne e ovacionou a presidente da ABC, Channing Dungey. Shonda Rhimes agradeceu Channing em uma postagem na qual colocou a hashtag Justice (Justiça). Em outro tuíte, a produtora disse que Roseanne colheu o que plantou.
Ava Duvernay, cineasta negra indicada ao Oscar pelo documentário A 13ª Emenda (2016), publicou na rede social uma foto de Channing e a chamou de "rainha". O ator paquistanês Kumail Nanjiani, da comédia Silicon Valley, disse estar "contente pelo cancelamento de Roseanne."
A atriz Bellamy Young, a presidente dos Estados Unidos Mellie Grant na série Scandal (2012-2018), fez um duplo agradecimento a Channing, seguido de três coraçãozinhos. Viola Davis, vencedora do Oscar e do Emmy, e protagonista de How to Get Away with Murder, também fez questão de postar seu apoio à executiva.
Até o ator Charlie Sheen, astro de Two and a Half Men (2003-2015), deu seu pitaco sobre o fim de Roseanne. "Adios", postou Sheen no Twitter, que brincou com um de seus bordões: "Hashtag NOT Winning" (Hashtag NÃO vencendo).
adios
— Charlie Sheen (@charliesheen) 29 de maio de 2018
Roseanne!
good
riddance.
hashtag
NOT Winning.
the
runway is
now clear
for
OUR reboot.
©#CharlieHarperReturnspic.twitter.com/HcqMvIoxCM
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