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JOGOS MORTAIS ASIÁTICOS

Efeito manada? Por que Round 6 faz mais sucesso que Alice in Borderland na Netflix

REPRODUÇÃO/NETFLIX

Montagem de fotos com os personagens Gi-hun (Lee Jung-jae, à esquerda) e Arisu (Kento Yamazaki) em Alice in Borderland

Gi-hun (Lee Jung-jae) em Round 6 e Arisu (Kento Yamazaki) em Alice in Borderland

KELLY MIYASHIRO

kelly@noticiasdatv.com

Publicado em 10/10/2021 - 6h45

Fenômeno mundial na Netflix, Round 6 (Coreia do Sul) conta a história de um homem que entra um jogo e precisa lutar para sair com vida de uma realidade quase paralela. A premissa é bem parecida com a de Alice in Borderland (Japão), disponível na mesma plataforma desde o ano passado. Mas por qual razão a série sul-coreana tem feito mais sucesso do que a japonesa?

Além de poder se tornar a série mais assistida da história da plataforma, superando até os sucessos norte-americanos Bridgerton, La Casa de Papel e Stranger Things, a atração sul-coreana ganhou o público nas redes sociais, principalmente no TikTok, no qual vídeos sobre a série acumulam bilhões de visualizações. O drama/thriller psicológico vem se tornando um exemplo do impacto que as conversas virtuais têm no consumo de conteúdos.

Ao Notícias da TV, Mariana Munis, professora de Marketing da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, de São Paulo, atribui o sucesso da saga de Gi-hum (Lee Jung-jae), o jogador 456, a três possíveis fatores: o efeito manada das redes sociais, a tendência ao multiculturalismo e o sentimento de vingança.

"Quem não sabe o que é a história entra no que chamamos de inconsciente coletivo. A gente tende a agir conforme as outras pessoas agem. Então, se eu vejo um monte de gente falando na internet sobre a série, eu não quero ficar de fora, eu vou querer assistir", analisa a especialista em comportamento do consumidor.

"Outro fator possível é que, como a gente vem passando por momentos bem tristes, assistir a um drama alheio é uma forma de você se sentir 'vingado'. A série meio que faz você se sentir vingado sem usar as próprias mãos", acredita Mariana, que também vê uma mudança no comportamento de consumo.

"É uma tendência de mercado que vem forte até 2030 e é chamada de multiculturalismo. Não só o brasileiro, mas as pessoas de todo o mundo estão mais abertas a coisas de outras culturas. Se a gente falasse um tempo atrás de série e filme coreano ou espanhol, as pessoas iam torcer o nariz", diz.

Só que, por conta da tecnologia, que facilita o acesso à informação, as pessoas estão mais abertas a consumir conteúdo de outras nações que não sejam os Estados Unidos. Isso aconteceu até nos EUA, com o filme Parasita [2019]. O norte-americano tem muita dificuldade em ver filme legendado. E ter Parasita ganhando o Oscar em 2020 é a quebra de uma grande barreira cultural dos estadunidenses. 

Round 6 x Alice in Borderland

Lançada em dezembro de 2020, Alice in Borderland é baseada em uma revista em quadrinhos japonesa (os mangás) e, assim como Round 6, ela mistura em sua narrativa duas franquias famosas e sangrentas: Jogos Mortais e Jogos Vorazes. A trama coloca moradores de Tóquio em disputas sádicas por sobrevivência.

Diferentemente da série coreana, em que o prêmio pela sobrevivência vale 45,6 bilhões de wons, em Alice o jovem viciado em videogame Arisu (Kento Yamazaki) vai parar ao lado de seus dois melhores amigos em uma disputa em que o único troféu é sair vivo. A japonesa já tem uma segunda temporada confirmada, enquanto o futuro de Round 6 ainda está indefinido.

A diferença entre as duas narrativas é que Alice in Borderland acontece em uma realidade paralela. O telespectador ainda não sabe quem está por trás do jogo, e as mortes são cometidas por jogadores ou por sistemas tecnológicos sem rosto, como lasers enviados literalmente do céu.

Já a produção da Coreia do Sul deixa clara a luta de classes, com um campeonato sádico criado e promovido por pessoas ricas que querem sentir prazer e se entreter assistindo a pobres e endividados se humilhando, morrendo e matando por dinheiro.

Para Mariana, isso é explicado pela sede do consumidor por entretenimento que o distraia daquilo que a sociedade vive atualmente: a crise do coronavírus.

"A pandemia nos deixou dentro de casa. A nossa cabeça está muito cansada. E aí, quando a gente assiste a esses filmes que colocam em xeque alguns valores morais, a gente tende a se colocar no lugar do outro e também a se divertir, porque não pode sair tanto de casa como saía antigamente. Estamos voltando aos poucos, mas muita gente ainda não tomou a segunda dose", conclui. 

Assista aos trailers de Round 6 e Alice in Borderland, respectivamente: 


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