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SHE-RA

Desenho criado para vender brinquedos nos anos 1980 agora é ícone do feminismo

Divulgação/Netflix

Sucesso nos anos 1980, She-Ra ganha uma nova versão nesta terça-feira (13) pela Netflix - Divulgação/Netflix

Sucesso nos anos 1980, She-Ra ganha uma nova versão nesta terça-feira (13) pela Netflix

LUCIANO GUARALDO, de Nova York

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 13/11/2018 - 5h19

Exibido entre 1985 e 1987, o desenho She-Ra: A Princesa do Poder foi criado essencialmente para vender brinquedos de seus personagens, uma prática comum da fabricante Mattel na época. Mais de três décadas depois, a personagem está de volta com uma nova animação, que a transforma de mero fruto do capitalismo em ícone do novo feminismo.

"É uma série sobre a liderança feminina, sobre mulheres que assumem papéis que elas não ocupavam antes, e que precisam descobrir como liderar da melhor forma possível", explica a criadora do novo desenho, Noelle Stevenson _que, com 26 anos, sequer era nascida quando a animação original saiu do ar e precisou bater de frente com críticos que detonaram o visual da heroína na nova versão.

A história, que chega à Netflix nesta terça (13), tem um ponto de partida similar à dos anos 1980: no passado, a princesa Adora sofreu uma lavagem cerebral e virou um dos soldados mais importantes da maligna Horda. Quando ela encontra uma poderosa espada mágica, se transforma na guerreira She-Ra, passa para o lado do bem e começa a lutar ao lado dos rebeldes contra o domínio do vilão Hordak.

Só que, por ter sido criada com os soldados de Hordak, Adora tem dificuldade para seguir em frente. Em especial, para superar a relação com Felina, sua melhor amiga que de uma hora para a outra passa a ser sua maior inimiga. "A Adora sente muita culpa pelo ter que abandonar a Felina. E ela acaba manipulada pela ex-amiga por isso, e precisa fazer algo a respeito. É uma evolução empolgante", adianta Noelle.

Para a atriz Aimee Carrero, que empresta sua voz para a personagem principal, a volta de She-Ra à cena acontece em um momento importante para o feminismo, no qual Hollywood discute acusações de assédio com o movimento #MeToo.

"Honestamente, é um alívio poder interpretar Adora e She-Ra, porque precisamos de uma maneira de liberar toda essa energia ruim e pesada que estamos acumulando. E não dá para fazer isso no Twitter o tempo todo (risos). Para você, jornalista, é escrever uma reportagem. Para mim, é viver uma personagem que não se prende a essa misoginia estereotipada. Não há nada melhor que entrar nesse universo paralelo, que tem problemas tão diferentes dos nossos", filosofa a atriz de 30 anos.

Aimee valoriza que a mensagem de feminismo propagada pela nova She-Ra é também um retrato importante para a sociedade atual. "Acho que vamos rever a série daqui a alguns anos e perceber isso, que a Noelle capturou algo especial, que ela entendeu o que está acontecendo conosco agora. Isso foi uma surpresa muito agradável para mim, ir trabalhar e ter uma válvula para processar tudo."

Embora seja mais velha do que a própria chefe, a atriz admite que nunca tinha ouvido falar em She-Ra. "Quando eu falei que tinha sido chamada para um teste, meu marido [o ator Tim Rock] ficou muito empolgado, e eu não entendia o motivo de tanto agito (risos). Aí, decidi procurar uns vídeos antigos no YouTube para saber do que se tratava", lembra. Se ela gostou do que viu? "Bem, o que posso dizer é que a nossa versão é muito diferente", desconversa, aos risos.

Trabalho de equipe
Uma mudança importante na nova animação é que, agora, Adora é acompanhada de outras princesas, cada uma com personalidade e habilidades próprias. A primeira temporada acompanha justamente a jornada de She-Ra e dos amigos Arqueiro e Cintilante para reunir uma turma poderosa, que faça frente à Horda.

"Acho que a série original também tinha um pouco disso, mas agora focamos mais no trabalho de equipe. É claro que a Adora é a principal, mas todas têm seu momento para brilhar. E, como são várias meninas, ninguém está ali para cumprir o papel da "garota", como acontece em outras séries. Temos uma variedade de personagens, o que acaba deixando nosso universo bem mais rico e vivo", diz Noelle.

A nova She-Ra também terá um senso de humor. Muito disso surgiu da própria escalação de Aimee Carrero, que construiu sua carreira atuando em séries de comédia como Young & Hungry (2014-2018) e Level Up (2012- 2013).

"É curioso, porque, quando me mudei para Los Angeles, eu queria ser uma atriz dramática. Quando fiz meu primeiro teste, os produtores riam sem parar, e eu achei que tinha detonado, que o papel era meu. Aí meu agente me ligou e disse: 'Bem, eles acharam você hilária. Mas a série não é de comédia'. Depois disso, eu sempre fui atrás de personagens engraçadas, porque não consigo evitar. Com She-Ra, ela tem um passado que a atormenta, mas também consegue achar graça nas situações."

A primeira temporada de She-Ra e as Princesas do Poder conta com 13 episódios, e Noelle Stevenson já faz planos para novas aventuras. "Ela tem um arco muito bem definido para cada ano. No futuro, Adora vai precisar lutar com o que o poder significa para ela, qual é a responsabilidade que ela tem com as pessoas à sua volta. E é uma personagem bem ansiosa, que sente que está fazendo tudo errado", resume.


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