Showroom na TV
Imagens: Reprodução/Apple TV+
Karen Pittman e Reese Witherspoon em The Morning Show; dois computadores e um celular em uma só cena
JOÃO DA PAZ
Publicado em 17/12/2019 - 5h16
Sem pudor, a Apple usa três séries do seu magérrimo catálogo para fazer merchan despudoradamente de seus próprios produtos. Os cobiçados celulares iPhones e os caríssimos fones de ouvido Beats by Dre povoam essa nova vitrine no trio de atrações ambientadas nos dias atuais. Em The Morning Show, por exemplo, produtos da marca chegam a aparecer 30 vezes por episódio.
Essa conta foi feita pela paciente equipe do Wall Street Journal, que assistiu minuciosamente a todos os dez episódios da série com antecedência --no streaming Apple TV+, o décimo capítulo será lançado apenas nesta sexta-feira (20). Dessa média de 30 produtos exibidos ao longo dos episódios, em cerca de dez a maçã mordida, marca da empresa, pôde ser vista claramente.
Com sua plataforma recém-lançada, a Apple reinventa a estratégia do marketing indireto, prática antiga na TV. Enquanto a Netflix tem de abrir as portas para terceiros, como fez com Stranger Things, a empresa de tecnologia "vende" o próprio peixe e faz de alguns cenários um verdadeiro showroom da marca.
O maior exemplo disso é a sala de trabalho do produtor Charlie "Chip" Black (Mark Duplass), profissional que carrega o programa ficcional The Morning Show nas costas.
A cada passagem do personagem por lá, um iPhone, um MacBook Pro (computador portátil) e até um HomePod (assistente inteligente de voz) ganham espaço na vitrine. No drama indicado ao Globo de Ouro, também não faltam iMacs Pro (computadores de mesa) e iPads (tablets).
The Morning Show não fica sozinha nessa. Servant, dirigida e produzida pelo cineasta M. Night Shyamalan, também não é nada sutil com seus merchans. Como quando os personagens conversam usando o FaceTime (app que faz chamadas de vídeo) ou em momentos nos quais assistem a algo usando um iPad Pro --um produto que chega a custar, no Brasil, R$ 13 mil.
Em The Morning Show, os merchans são chatos, mas com o tempo o telespectador se acostuma. Em Servant, as propagandas sem-querer-querendo são forçadas. Já no drama Truth Be Told, a insistência em mostrar os produtos da Apple irrita.
Octavia Spencer em Truth Be Told; câmera mostra em detalhes o caríssimo fone Beats by Dre
No centro da história desse drama está a jornalista Poppy Parnell (Octavia Spencer), que apresenta um podcast sobre crimes reais e entra em uma investigação sobre um jovem condenado à prisão perpétua, pois ele pode ter sido preso inocentemente há 20 anos. O item escolhido para poluir as cenas é o fone Beats by Dre.
Para os amantes de fones de ouvido, o Beats by Dre é mais esteticamente bonito do que bom, principalmente se o preço for considerado. O que Poppy usa na série sai por R$ 2.500 no Brasil. Logo, ele não é muito usado em podcasts ou qualquer outro tipo de gravação. Outras marcas lideram a preferência desses profissionais.
Mas em Truth Be Told, não é só Poppy que utiliza o tal fone, sua assistente também. E sempre quando a jornalista está gravando um áudio, a câmera cuidadosamente passa perto dos seus ouvidos para exibir o logo do produto para o público ver. Isso acontece em todos os episódios. Como não podia deixar de ser, celulares e computadores da empresa também estão presentes na série.
No mundo das produções do Apple TV+, nenhuma pessoa usa qualquer outra marca de algum dispositivo eletrônico que não seja da Apple.
Devido ao preço nos Estados Unidos ser mais acessível do que aqui, os iPhones são mais comuns entre os americanos --o aparelho tem 45% da fatia do mercado de celulares. Mas inundar as atrações com tanto merchan chega a soar desesperador. Principalmente para uma companhia que, em tese, não precisa de tanta exposição assim...
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