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Reprodução/DC Comics
Morpheus é o protagonista de Sandman; obra de Neil Gaiman será adaptada pela Netflix
Neil Gaiman, criador da graphic novel Sandman, é o convidado de honra da CCXP Worlds e foi o entrevistado que abriu a edição de 2020 do maior evento de cultura pop da América Latina. Durante o bate-papo com o apresentador Marcelo Forlani, o autor deu mais detalhes sobre a vindoura adaptação em série na Netflix e comparou seu processo de criação com o de George R.R. Martin na aclamada Game of Thrones.
Segundo ele, as maiores dificuldades de se adaptar uma história como Sandman são o alto custo de produção e a quantidade enorme de personagens na trama. Antes da série da HBO, Martin chegou a escrever a história de Game of Thrones em roteiros, mas desistiu da ideia após produtores cortarem cenas e personagens que ele considerava essenciais.
"George e eu pudemos fazer nas páginas coisas que nunca conseguiríamos na TV. Nos livros, se você quer criar um personagem, você vai lá e cria. Em uma série isso não acontece com a mesma facilidade. Se considerarmos o orçamento, você só ganha o que é realmente importante para você", explicou.
Gaiman ainda explicou que foram os problemas com cortes e orçamentos baixos que o impediram de fazer uma adaptação de Sandman entre os anos 1990 e 2000.
"Não acho que [a adaptação] poderia ter acontecido em outro momento a não ser agora. Durante duas décadas, apenas os filmes recebiam este tipo de orçamento. Na TV, isso não acontecia. Não se faziam grandes produções, ninguém tinha dinheiro", continuou.
De acordo com o autor, o tamanho de uma obra como Sandman (3 mil páginas) e a falta de uma estrutura considerada "tradicional" para uma narrativa de filmes ou séries também atrapalharam na hora de vender a ideia para os executivos dos grandes estúdios.
"Como você escolhe o que entra e o que deixa de fora em uma obra como Sandman? Eu me lembro que em 2005 eu viajei para Los Angeles para uma apresentação para os chefes da Warner. Falamos sobre animações, mostramos esboços e brinquedos. No final, um deles disse: 'É engraçado você nos mostrar isso porque o que fazem Harry Potter e O Senhor dos Anéis serem nosso principais produtos é terem um vilão bem definido. Sandman tem isso?' Eu respondi que não, e a reunião terminou ali."
Conhecido por seus trabalhos em livros e quadrinhos, Gaiman teve sua primeira experiência como showrunner de uma série com o sucesso da Amazon Good Omens (2019), uma adaptação de sua própria obra. De acordo com o autor, foi com a minissérie que ele realmente entendeu o funcionamento de uma atração televisiva.
"Quando fizemos American Gods, eu tinha voz na sala, eles me escutavam, mas a decisão final era dos produtores, do showrunner. A ideia era deles. Às vezes eles acatavam, às vezes não. Com Good Omens, eu fui roteirista e showrunner. No final, a série foi um tremendo sucesso. Antes, se a pessoa me dissesse que não poderia fazer algo por problemas de orçamento, eu aceitava. Agora, eu tentava adaptar esse problema de uma forma que funcionasse".
O autor britânico ainda citou um conselho que recebeu de Steven Moffat, ex-showrunner e produtor do sucesso Doctor Who.
"Um conselho importante que Steve me deu foi: 'Quando precisar cortar alguma coisa que seja importante pra você por causa de orçamento, faça-a da maneira mais perfeita possível. Se eu planejei uma cena com dez naves, mas só poderei fazer com uma, eu vou me esforçar para que seja a melhor cena do episódio."
Enquanto falava sobre a criação da série da Netflix, Gaiman assegurou que a produção será fiel à sua visão inicial de Sandman.
"Quando eles [Netflix] assinaram o contrato, eles sabiam que estavam assinando para Sandman. É a minha visão, é o que seria uma adaptação de Sandman para os dias atuais. É isso que estamos fazendo e está sendo maravilhoso. Quando a Netflix veio até nós, [os executivos] disseram que queriam fazer uma verdadeira adaptação de Sandman e estão comprometidos".
Como a série se passará em 2021, o autor não refutou a possibilidade de incluir a pandemia de Covid-19 em sua narrativa.
"Nós estamos fazendo o piloto e ainda restam muitos episódios pra fazer. Estamos rodando cenas que se passam em outras décadas, outras épocas nas quais não era normal ver pessoas de máscaras. A partir do episódio três, vamos começar a pensar nisso."
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