Transa didática
Imagens: Reprodução/Netflix
Thaila Ayala e Mel Lisboa se beijam na primeira temporada de Coisa Mais Linda, série nacional da Netflix
JOÃO DA PAZ
Publicado em 28/4/2019 - 7h19
Série nacional da Netflix que oferece um olhar sobre o machismo da sociedade carioca no final dos anos 1950, com a ascensão da Bossa Nova como pano de fundo, Coisa Mais Linda tem uma nuance rara de ser ver no mundo das séries, mesmo nas americanas. As relações sexuais das personagens funcionam como alegoria para explicar seus perfis.
[Atenção: pequenos spoilers da trama a seguir]
Do quarteto protagonista, a que sofre mais com o parceiro sexual é Lígia, vivida por Fernanda Vasconcellos. A aspirante a cantora está presa em uma relação abusiva com Augusto (Gustavo Vaz), que almeja ser o novo prefeito do Rio de Janeiro. Ele é integrante de uma família decadente da elite carioca.
Logo no segundo episódio de Coisa Mais Linda, Augusto aparece fazendo sexo com Lígia (assim, nessa ordem mesmo). Ela só está com o corpo presente lá, deitada enquanto ele fica por cima. Após o político se aliviar (e usá-la), ele desaba no lado vazio da cama. E Lígia acende um cigarro, claramente insatisfeita.
Usada, Lígia (Fernanda Vasconcellos) acende um cigarro após fazer sexo com o marido
Nessa relação, Augusto não se preocupa com nenhum tipo de prazer de Lígia. Ele a impede de cantar, por exemplo, o que ela realmente gosta de fazer e para o qual tem talento. O que importa para Augusto é que a mulher esteja presente ao seu lado, linda e exuberante, como se fosse um bibelô. E é assim entre quatro paredes também.
O terceiro episódio sintetiza o papel do sexo em Coisa Mais Linda. Em uma das cenas mais agonizantes, Augusto chega em casa bêbado após uma reunião e acorda Lígia. Ele começa a beijar e abraçar a mulher, mas com agressividade. Ela reclama, diz que está sendo machucada, mas o político ignora a reclamação e a estupra. Augusto penetra Lígia por trás, com violência.
Por outro lado, duas outras protagonistas têm vidas sexuais mais saudáveis e livres, que refletem suas respectivas personalidades. Esses aspectos também são mostrados no terceiro episódio. É o caso da jornalista Thereza (Mel Lisboa), casada com Nelson (Alexandre Cioletti), com quem tem uma relação bem moderna para o padrão dos anos 1950.
Eles se gabam disso e relembram momentos quentes de paixão, como quando transaram "no banheiro de quase todas as boates de Paris", segundo palavras do próprio Nelson.
Apreciadora de homens e mulheres, Thereza tem um lance com Helô (Thaila Ayala), uma modelo recém-contratada para a revista feminina na qual a loira trabalha, chamada de Ângela. As duas se pegam aos beijos em plena Redação da publicação, cena elogiada pelos telespectadores por mostrar beijos de verdade e não técnicos.
Com Malú, personagem de Maria Casadevall, o sexo é uma descoberta. Após levar um pé na bunda do marido, a paulistana se arrisca no Rio de Janeiro e investe em um projeto ousado: abrir um bar musical na cidade. Nessa empreitada, ela se depara com o cantor Chico (Leandro Lima), galã que conquista seu coração.
No chão, Malu (Maria Casadevall) transa com Chico (Leandro Lima) na série Coisa Mais Linda
O sexo dos dois é dinâmico e visa o prazer feminino. Na primeira cena, Chico faz sexo oral em Malú. Na segunda vez que eles surgem transando, praticam a posição flor de lótus (a mulher senta sobre o colo do parceiro, com ele também sentado), favorável ao orgasmo da mulher.
Adélia (Pathy Dejesus) não tem a sexualidade muito explorada. Seu grande momento nesse aspecto entra em cena apenas no final da primeira temporada, mas não sem um simbolismo. A personagem, grande destaque da trama, encerra o arco transando com seu grande amor, em uma posição que também favorece a mulher: ela sentada em uma mesa e ele, de pé.
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