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Memória da TV

Há 20 anos, futebol na TV era escasso e os narradores ficavam escondidos

Reprodução/Globo

O narrador Luciano do Valle (1947-2014) em cabine de narração da Band nos anos 1990; narradores não apareciam muito - Reprodução/Globo

O narrador Luciano do Valle (1947-2014) em cabine de narração da Band nos anos 1990; narradores não apareciam muito

THELL DE CASTRO

Publicado em 28/4/2019 - 7h02

Com a falta de acordo entre Globo e Palmeiras, o Campeonato Brasileiro de 2019 relembrará a importância das transmissões das rádios, que praticamente dominaram a cobertura do futebol entre os anos 1960 e 1990. Até 20 anos atrás, a TV passava poucas partidas, e o telespectador quase não via os narradores e comentaristas durante as transmissões.

Sem a atual abundância de canais esportivos, como SporTV, ESPN Brasil e Fox Sports, além da Turner (TNT e Space), os torcedores praticamente só viam seus clubes ao vivo na televisão aberta em fases decisivas, mas a exibição era barrada na cidade que sediava a partida --e pay-per-view era para poucos.

Durante boa parte dos anos 1990, por exemplo, a Globo transmitia jogos nas tardes de sábado, após o Esporte Espetacular, e nas noites de quinta. Futebol aos domingos, somente quando eram finais. O comando ficava com Galvão Bueno, Cleber Machado, Oliveira Andrade e Luis Roberto (a partir de 1997).

Já a Band, que era conhecida como o "canal do esporte", fazia a festa do torcedor exibindo compactos dos principais jogos da rodada nas noites de domingo, dentro do Show do Esporte. Além de Luciano do Valle (1947-2014), o canal contava com uma grande equipe de narradores, com nomes como Silvio Luiz, Jota Júnior, José Luiz Datena, Alexandre Santos, Januário de Oliveira e Marco Antônio (1938-2004), entre outros.

Enquanto isso, as rádios, como Globo, Jovem Pan e Bandeirantes, cobriam tudo em cima do lance e com equipes completas espalhadas pelos estádios brasileiros --atualmente, boa parte das emissoras fazem as partidas de seus estúdios, vendo pela TV, para reduzir custos.

Hoje em dia, estamos acostumados a ver o rosto dos narradores, comentaristas e repórteres, todos devidamente uniformizados, mas antigamente não era assim. Muito raramente alguém que trabalhava na partida aparecia na transmissão.

Em Copas do Mundo, para mostrar seu poderio, a Globo mostrava algumas imagens de Luciano do Valle, em 1982, e Galvão Bueno, a partir de 1986, diretamente dos estádios, mas a prática não era realizada nas partidas nacionais.

Outro hábiro comum: os treinadores concediam entrevistas aos repórteres durante os jogos, comentando como estava o desempenho de seus times, algo totalmente impensável nos dias de hoje. Os jornalistas também entravam em campo, pisavam no gramado, antes e no intervalo dos jogos e falavam com diversos atletas. Nos dias atuais, é preciso esperar a saída dos atletas para os vestiários.

Quem está ganhando?

Se você hoje está acostumado a conferir o tempo e o placar das partidas diretamente na tela durante todo o jogo, saiba que até o final dos anos 1990 não era assim. Quem é mais velho certamente vai se lembrar de estar vendo alguma partida e chegar alguém perguntando quanto tempo faltava e quanto estava a partida.

Isso porque os números apareciam somente a cada cinco minutos, acompanhados por um sinal sonoro. Os dados fixos na tela surgiram na Globo e na Band apenas em 1999 --a primeira fez um rápido teste na final do Brasileirão de 1998, colocando somente o tempo na tela nos últimos cinco minutos de jogo.

Além disso, como até 1997 a Globo não contava com marca d'água fixa, durante boa parte da partida ficava o logotipo colorido da emissora acompanhada pela inscrição "vivo" – trocada para "ao vivo" depois do surgimento da operadora de telefonia homônima.

Esqueça também as mais variadas animações para mostrar os times, com jogadores fazendo poses na hora das escalações. Até a metade dos anos 1990, os nomes simplesmente apareciam na tela, da forma mais simples e rápida possível. Da mesma forma, não existiam tantos ângulos para rever os lances, já que as transmissões eram feitas com poucas câmeras.

Outra grande diferença nas transmissões ficava por conta do intervalo. O Show do Intervalo surgiu no final dos anos 1990. Até então, os narradores e comentaristas tinham um descanso durante a pausa dos jogadores. Nomes como Léo Batista e Fernando Vannucci entravam em cena e simplesmente mostravam os melhores momentos do primeiro tempo.

Uma das poucas inovações que se via na telinha era o uso do tira-teima, que surgiu na Copa de 1986, na Globo. A precária tecnologia era utilizada para elucidar lances duvidosos, algo totalmente dispensável com o VAR em campo nos dias de hoje.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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