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Balanço do ano

Comédia em 2018 não basta fazer rir, tem de ser ativista e filosofar

Divulgação/NBC

Kristen Bell lê o livro Entre Quatro Paredes, do filósofo Jean Paul Sartre, na 3ª temporada de Good Place - Divulgação/NBC

Kristen Bell lê o livro Entre Quatro Paredes, do filósofo Jean Paul Sartre, na 3ª temporada de Good Place

JOÃO DA PAZ

Publicado em 15/12/2018 - 5h58

Rir é o melhor remédio, mas as melhores comédias de 2018 não se dedicaram somente a provocar gargalhadas do público. Elas fizeram pensar com provocações filosóficas, debates sobre lares despedaçados e discussões sobre racismo e machismo. As comédias aclamadas neste ano, por premiações ou críticos, foram além do riso.

A irreverente The Good Place (Netflix) é um bom exemplo dessa tendência. A série que dispara frases de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e pensamentos de Immanuel Kant (1724-1804) conseguiu um feito inédito com sua terceira temporada: indicações ao Globo de Ouro e ao WGA Awards, premiação do sindicato dos roteiristas. É uma comédia que explora a moral de nossas ações diárias (Por que temos de ajudar o próximo? Vale a pena ser generoso?) e finalmente foi reconhecida.

Em contraste à jovialidade de Good Place, Kidding (inédita no Brasil) trafega na escuridão de uma separação traumática. Também indicada ao Globo de Ouro e ao WGA, a atração tem o hilário Jim Carrey na pele de um famoso apresentador infantil que, atrás das câmeras, tem uma vida depressiva e não lida muito bem com o fato de que a ex-mulher está seguindo seu caminho sem ele, feliz com outro homem.

divulgação/amazon

A atriz Rachel Brosnahan na segunda temporada da comédia The Marvelous Mrs. Maisel

Pelo ponto de vista feminino, a separação é tema da já consagrada The Marvelous Mrs. Maisel, atual detentora do Emmy e do Globo de Ouro de melhor comédia. Em plena década de 1950, a protagonista dondoca Miriam "Midge" Maisel (Rachel Brosnahan) larga o marido após descobrir uma traição e assume a independência, gesto raro e não muito bem aceito pela sociedade da época.

O fim do relacionamento vira motivo de piada e Midge se inspira em seu casamento fracassado para virar uma comediante de sucesso, transformando os causos trágicos da vida de mulher casada em risos. Como o circuito de stand-up nova-iorquino era dominado por homens, ela teve de superar o machismo e provar que poderia ser uma mulher bem-sucedida nesse meio.

Embora Midge não seja uma feminista de carteirinha, daquela que lê livros sobre o tema e participa de grupos de discussão, a humorista é um símbolo da luta pela igualdade de direitos, tratamento e oportunidades para homens e para mulheres.

divulgação/FX

Donald Glover em Atlanta, caracterizado como um músico que lembra Michael Jackson

Ironias com polêmicas
No site Metacritic, que compila reviews da imprensa americana, a segunda temporada de Atlanta recebeu a nota 97 (de um máximo de 100), uma das mais altas da história do site. Esnobada pelo Globo de Ouro, a comédia sobre a vida de amigos negros na cidade de Atlanta foi indicada ao WGA.

Tanta badalação se deve ao brilhantismo da trama, ao tratar de assuntos gravíssimos, como racismo e preconceito, com uma delicadeza sem igual.

Cada episódio de Atlanta leva o telespectador a jornadas impactantes e reflexivas. Em um deles, o esforçado Earn Marks (Donald Glover), sente na pele a dificuldade de um negro ser levado a sério com uma nota de US$ 100 na mão. Enquanto brancos ao lado dele, também com US$ 100 a tiracolo, são tratados como "doutores".

Com um humor ácido, Atlanta não viu limites ao mostrar o quanto é desconfortável para dois negros, um rapper e seu empresário, fecharem um negócio com uma empresa que só tem colaboradores brancos.

Fora isso, a comédia ainda falou de blackface (em uma festa, uma alemã tocou o rosto de Earn pensando que ele estava usando uma máscara) e da aceitação de músicos negros na indústria do entretenimento, ao trazer Donald Glover vivendo também um personagem inspirado em Michael Jackson (1958-2009). Intitulado de Teddy Perkins, esse episódio concorreu a cinco Emmys, e ganhou dois. E foi eleito pela revista Time o melhor episódio do ano da TV norte-americana. 

Encerrando os indicados ao Globo de Ouro e WGA Awards do próximo ano estão as comédias Glow (com mulheres que buscam reconhecimento contra o machismo) e Barry (que narra as aventuras de um ex-militar depressivo).

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