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NOVA TEMPORADA

Com violência, xenofobia e alcoolismo, Segunda Chamada retorna ainda mais dura

MAURICIO FIDALGO/TV GLOBO

Elenco de Segunda Chamada posa para foto em cenário debaixo de viaduto em São Paulo; vários atores aparecem sujos, caracterizados como moradores de rua, e Debora Bloch ao centro, de camisa amarela e expressão séria

Em Segunda Chamada, pessoas que vivem na rua voltarão a estudar graças a Lúcia (Debora Bloch)

FERNANDA LOPES

fernanda@noticiasdatv.com

Publicado em 10/9/2021 - 6h40

A realidade do Brasil está muito difícil para muita gente, e na ficção não é diferente. A série Segunda Chamada estreia nesta sexta (10) sua nova temporada, com tramas muito impactantes e pesadas, inspiradas em situações que de fato acontecem e podem ser vistas pelo país. Temas como xenofobia, violência contra a mulher, pessoas em situação de rua, evasão escolar e alcoolismo são abordados. 

Os episódios retratam um novo ano letivo na escola que funciona na modalidade EJA (Educação para Jovens e Adultos). Alunos diferentes começam as aulas com o intuito de retomarem os estudos e enfim se formarem, e cada um deles traz suas histórias, dores e dificuldades. 

Uma trama que chama a atenção logo de cara é a da rixa entre dois estudantes que sofrem preconceitos diferentes. Um é indígena, vive de vender artesanato e sofre com provocações e comentários odiosos de outros alunos. 

Um desses preconceituosos é um jovem que, por sua vez, também enfrenta a xenofobia: ele veio da Paraíba e é zoado por ser nordestino em São Paulo. 

Ao longo dos seis episódios da nova leva, outras cenas também vêm com a intenção de impactar o telespectador. O feminicídio será abordado, por exemplo.

"O número de casos de violência contra a mulher aumentou mais de 25% no Brasil [durante a pandemia]. A série vai falar disso a fundo, acho um assunto de extrema relevância na situação que estamos agora. Quando fomos ensaiar, todas as atrizes tinha uma história pra contar, tinham sido vítimas de algum tipo de abuso. Acho esse um tema necessário, importante, que vai estar bem presente na segunda temporada", diz a diretora Joana Jabace.

O drama principal do elenco de alunos, no entanto, é o fato de muitos deles viverem sem o mínimo, sem condições básicas. Em Segunda Chamada, a professora Lúcia (Débora Bloch) vai atrás de pessoas que vivem nas ruas de São Paulo para oferecer vagas na escola. 

"A série tem um formato em que a gente acompanha a trajetória dos professores e juntamente vai jogando luz em determinados alunos durante os episódios. As pautas sociais estão presentes, e a gente vai escolhendo os assuntos e pensando. Se a primeira temporada falava de personagens muito precários economicamente, a gente pensou: 'Como a gente pode falar de uma realidade ainda mais dura? Foi aí que surgiu a ideia de falar da população em situação de rua", explica Carla Faour, uma das criadoras e autoras da série. 

"A escola ganha uma camada a mais, que é um lugar de resgate da cidadania. Essa população em situação de rua, além de buscar esse ensino formal, um recomeço, uma nova chance, busca seus direitos mais básicos. Muitos não têm RG, não sabem que têm o direito de estar ali. A gente coloca a série num lugar de discussão de educação e de direito à cidadania. É um resgate da dignidade", complementa ela. 

Mesmo com apoio da professora, a jornada das pessoas em situação de rua na escola não é fácil. Elas enfrentam resistências dos colegas e dos professores, além de haver também a questão do alcoolismo em um dos alunos --interpretado por Ângelo Antônio. 

Segunda Chamada na pandemia

A primeira temporada de Segunda Chamada estreou em outubro de 2019, e a segunda começou a ser gravada pouco tempo depois, em fevereiro de 2020. As gravações, no entanto, tiveram de ser suspensas em março do ano passado, por causa da pandemia de Covid-19. 

A série foi reescrita, as histórias foram condensadas em seis episódios, e os trabalhos recomeçaram em novembro de 2020 --para serem interrompidos novamente em março de 2021, na pior fase da pandemia. O último episódio da série foi enfim finalizado na edição somente nesta semana. 

As autoras e a diretora se sentem satisfeitas por terem conseguido concluir o trabalho mesmo em meio a uma situação adversa. Elas asseguram que, apesar de todo o clima denso da série, há também momentos de afeto e humanidade para aliviar um pouco do peso. 

"Foi todo um outro jeito de fazer [a série], foi muito duro o que a gente passou. Saber que vai estrear é uma sensação de realização tremenda. Conseguimos", celebra Joana Jabace. 

"Por mais áridos que sejam os temas, a gente utiliza a troca afetiva entre alunos, professores, as pessoas. Quando a gente conhece a história de cada um, vê que tem seres humanos que antes pareciam invisíveis. Tentamos trazer humanidade, emoção, afetividade. Isso ameniza a aridez", declara Julia Spadaccini, outra autora e criadora da série.


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