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SETEMBRO AMARELO

Suicídio é assunto proibido? Como tema sensível é tratado na mídia e na ficção

REPRODUÇÃO/WARNER BROS

Bradley Cooper abraçado a Lady Gaga por trás, enquanto ela, maquiada, olha para o lado

Bradley Cooper e Lady Gaga atuam em Nasce Uma Estrela; filme fala sobre suicídio

ISABEL MELLO

isabel@noticiasdatv.com

Publicado em 10/9/2021 - 6h35

Desde 2003, 10 de setembro passou a ser reconhecido como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio --data que ganhou força e ajudou na criação do Setembro Amarelo. O assunto, delicado e complexo, ainda é abordado com receio. Noticiários e obras de ficção têm potencial para se consolidarem como grandes aliados na conscientização e no combate ao suicídio. Mas práticas como banalização, romantização ou sensacionalismo distanciam tais veículos de uma comunicação responsável e compassiva.

Antes de tudo, é necessário entender que não existe um único motivo capaz de levar alguém a tirar a própria vida. "O suicídio é multifatorial. Várias coisas podem levar a esse desfecho, como fatores biológicos, sociais, psíquicos, econômicos", explica Luciana Carvalho Rocha, psicóloga e especialista em suicidologia formada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Na maioria dos casos, o suicida apresenta um quadro depressivo. A incompreensão dessa doença já é um primeiro problema apontado pela psicóloga: "A depressão não é frescura, não é falta de Deus e não basta força de vontade para melhorar. É preciso um tratamento profissional".

O termo depressão é, recorrentemente, banalizado ou usado de forma equivocada --tanto pela mídia quanto pelas pessoas no dia a dia. É necessário entender a diferença entre momentos de tristeza e um quadro depressivo. "O que vai definir uma depressão é a intensidade, a frequência e o período que a pessoa fica naquele estado", esclarece a especialista.

reprodução/sbt

Aqui Agora exibiu suicídio ao vivo em 1993

Na mídia

Mas, afinal, o suicídio é um assunto proibido mesmo? Ou ele pode ser divulgado em veículos de comunicação e retratado em cenas de filmes, séries e novelas?

Luciana acredita que tanto a imprensa quanto as produções audiovisuais podem atuar como parceiras no movimento de prevenção: "A mídia tem um papel importantíssimo que, infelizmente, é subutilizado". Ou seja, a temática deve ser trabalhada e exposta às massas, mas com cautela e sensatez.

Em 1993, o programa Aqui Agora, do SBT, exibiu um suicídio ao vivo. Uma jovem de 16 anos tirou a própria vida, e as imagens foram divulgadas em rede nacional. As consequências de um jornalismo apelativo e sensacionalista em cima de um assunto tão sério podem ser irreversíveis.

Não é proibido falar sobre suicídio, porém, a gente precisa ter alguns cuidados. Muitas vezes as notícias são colocadas de forma sensacionalista para chamar atenção e, dessa maneira, elas podem desencadear um efeito contágio.

O efeito contágio é um processo pelo qual outras pessoas se espelham no que veem representado e o copiam. Por isso, é tão importante atentar-se à maneira com que a informação é divulgada. A psicóloga explicita as formas adequadas de trazer o assunto para o debate, sem abrir espaço para desdobramentos nocivos.

Entre os apontamentos, Luciana ressalta a importância de não procurar respostas simplistas para o caso, já que existe uma série de fatores que levam uma pessoa a tirar a própria vida. Além disso, não é conveniente divulgar fotos ou falar onde ocorreu.

Segundo ela, a melhor maneira de aproveitar o tema é trazer, junto da notícia ou da obra de ficção, informações sobre a prevenção do suicídio e a importância de cuidar da saúde mental.

"A gente precisa trabalhar a psicofobia, que é o preconceito de se tratar de doenças psiquiátricas. Não cuidar da sua saúde mental pode ter como consequência um desfecho triste e trágico", afirma.

Não é necessária a divulgação de detalhes sobre a fatalidade, tampouco a maneira pela qual a pessoa o fez. Principalmente em casos de pessoas famosas, a psicóloga alerta: "Nunca romantize".

reprodução/netflix

Filme Por Lugares Incríveis aborda o tema

Regras na atuação?

Em relação às obras de ficção, as indicações se aplicam da mesma maneira. É importante diferenciar a tristeza da depressão, além de construir a narrativa de maneira adequada, ressaltando a ideia de que o suicídio não acontece de repente, existe um processo, permeado por diversos fatores, o qual leva o indivíduo a pensar, ou de fato, a tirar a própria vida.

Luciana dá destaque aos trabalhos feitos em Nasce Uma Estrela (2018), protagonizado por Bradley Cooper e Lady Gaga, e Por Lugares Incríveis (2020). Em ambas as produções, o suicídio, combinado com outros fatores como o alcoolismo e a bipolaridade, é trabalhado de forma coerente e embasada.

"A mídia pode fazer esse papel educativo. Quanto mais ela falar sobre a prevenção do suicídio, mais o número de casos vai diminuir e, se for feito de forma correta, não vai incentivar", finaliza.

Se você está atravessando um momento difícil e precisa de ajuda, ligue para a CVV (Centro de Valorização a Vida) no número 188. A ligação é sigilosa e gratuita para todo o território nacional.


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