BIA CRESPO
DIVULGAÇÃO/MAURO FIGA
Bia Crespo: roteirista de Rensga Hits! é autora do romance sáfico Eu, Minha Crush e Minha Irmã
Apesar de ser uma série desenvolvida para o nicho do Globoplay, Rensga Hits! cumpriu a missão de atrair diferentes públicos para uma história com o feminejo de pano de fundo. Bia Crespo, roteirista que trabalhou nas três temporadas da atração, revela que seu objetivo é que as produções tenham cada vez mais personagens LGBTQIA+ que gerem identificação com o público sem precisar expor necessariamente suas orientações sexuais.
Em Rensga, o público viu a mocinha Raíssa Medeiros (Alice Wegmann) dar um banho no quesito força e perseverança. Quem também roubou a cena foi o casal gay Deivid Cafajeste (Alejandro Claveaux) e Kevin Costa (Samuel de Assis), com um romance que despertou interesse e torcida do público. Segundo Bia, os próximos episódios da série terão ainda mais representatividade.
"Em séries, é mais fácil abordar temas diversos porque temos mais personagens do que em filmes. A graça é que esses personagens sejam diferentes e que a história venha do conflito entre eles, assim como acontece na vida real. Mesmo assim, ainda falta muito para que a representatividade LGBTQIA+ seja ideal no audiovisual", conta ela ao Notícias da TV.
"Meu objetivo é que um dia a gente tenha protagonistas LGBTQIA+ com quem as pessoas se identifiquem, independentemente de suas orientações sexuais, e que a história seja o suficiente para fazer com que torçam por eles", acrescenta a roteirista.
Bia diz que o sucesso da série sertaneja se deu pela liberdade da equipe em poder desenvolver uma história livre, sem qualquer censura. O resultado foi o que cativou o telespectador: uma trama simples, que ainda aposta no melodrama típico das produções brasileiras, sem receio de cometer erros.
"O medo é um grande inimigo das boas histórias, então tento ao máximo não me preocupar com nada enquanto escrevo. Na sala de roteiro de Rensga Hits, que foi chefiada pela brilhante Renata Corrêa, não existiam ideias ruins. A gente explorava ao máximo todos os temas e caminhos para os personagens, até achar o que fazia mais sentido", explica.
A escritora tentava emplacar um projeto sobre mulheres na música sertaneja há algum tempo, mas o investimento e o interesse do audiovisual no tema demoraram para acontecer. Até então, o mais comum era que as trilhas sonoras trouxessem artistas do gênero, mas sem dar muito destaque ao tema.
Desde 2022, a Globo tem colocado tramas rurais na TV aberta. Além de Rensga Hits! ganhar uma faixa de exibição após a novela das 21h, a emissora transmitiu Mar do Sertão (2022) e Pantanal (2022), que apresentaram efeitos positivos na audiência. Internamente, a Globo tenta trazer priorizar essas construções de história, a exemplo de Terra e Paixão, no ar atualmente, e de sua sucessora, Renascer.
"Eu sempre tive certeza de que a série faria sucesso porque eu sou o público-alvo dela. Sou fã de sertanejo há anos, e não tinha nada no audiovisual que falasse com esse fenômeno cultural. O audiovisual às vezes demora para captar o que o público quer assistir porque é feito por pessoas que não estão em contato com a cultura popular, o que toca nas festas, nas ruas, nas rádios do interior", aponta Bia.
Eu tentei durante anos desenvolver projetos que falassem sobre feminejo, mas ninguém dava muita bola. O dia que me convidaram para fazer Rensga Hits! foi um dos mais felizes da minha carreira.
A representatividade LGBTQIA+ é a marca de Bia Crespo. Ela também assina os romances sáficos A Namorada do Meu Primo e Eu, Minha Crush e Minha Irmã, ambas histórias de amor envolvendo mulheres lésbicas. A autora percebe que o público jovem passou a buscar por esse tipo de conteúdo após não se sentir representado em produtos nacionais com foco apenas em personagens heterossexuais cisgêneros.
"Eles pedem por isso. Uma das maiores reclamações da geração Z é o fato de ela não se ver representada no audiovisual, principalmente no que diz respeito à orientação sexual e à identidade de gênero. Acredito que as novelas e as séries só têm a ganhar se adicionarem esse tipo de representatividade em suas tramas", conclui Bia.
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