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ANÁLISE

Salve-se Quem Puder volta melhor e reabre discussão sobre futuro da telenovela

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Juliana Paiva, Vitória Strada e Deborah Secco assustadas dentro do carro

Luna (Juliana Paiva), Kyra (Vitória Strada) e Alexia (Deborah Secco) em cena do folhetim

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 30/5/2021 - 7h00

Depois de uma primeira fase marcada pela comédia pastelão e um toque de romantismo com tempero mexicano, Salve-se Quem Puder, novela das sete da Globo, voltou ao ar apostando mais na ação. Surpreendentemente, ficou melhor do que era antes de ser interrompida, em março de 2020.

Sem deixar de lado o humor característico da faixa horária em que é exibida, a trama de Daniel Ortiz reacende, ainda, uma discussão em torno do futuro da telenovela, especialmente no pós-pandemia. Estaria a obra aberta com os dias contados?

Mais enxuta e completamente gravada, Salve-se Quem Puder ganhou uma chance de renascimento forçada. Com mais tempo para elaborar a história, o autor teve a oportunidade de trabalhar melhor a trama central e moldar a carpintaria das personagens.

reprodução/tv globo

Luna se transformou no folhetim

A mudança mais significativa foi no perfil de Luna (Juliana Paiva), que deixou de lado o romantismo da mocinha tradicional e se tornou uma espécie de justiceira.

É certo que uma novela ir ao ar totalmente gravada tira do gênero a possibilidade de mudanças de percurso, bastante comuns em uma obra com mais de cem capítulos. Por outro lado, eleva a qualidade do produto.

A primeira semana de exibição de Salve-se Quem Puder deixou evidente esse ganho qualitativo, principalmente quando comparada à metade inicial da história, feita em um ritmo mais industrial.

Com os capítulos todos fechados antes mesmo de serem gravados, os atores também têm a chance de prepararem melhor suas interpretações. Deborah Secco, por exemplo, corrigiu o exagero de Alexia, e Vitória Strada soube trabalhar melhor a comédia, um gênero em que ela ainda patinava um pouco no início da trama.

Investir na ação também foi acertado. Salve-se Quem Puder ficou menos boba, e o público agora tem a chance de torcer de verdade pelas personagens. De quebra, elevou a qualidade do humor presente no folhetim, apresentando situações cômicas mais sofisticadas.

reprodução/tv globo

Protagonistas passam por trapalhadas

A cena em que as três protagonistas fogem de Dominique (Guilherme Guinle) a bordo de um andaime, por exemplo, foi hilária. Apesar de completamente surreal, o fato de as três despencarem 21 andares foi convincente dentro da lógica da novela.

A sequência ganhou fôlego, ainda, com a interpretação de Grace Gianoukas. Ermelinda passando a perna na grande vilã da história trouxe um quê de ingenuidade típica das grandes novelas do horário.

Salve-se Quem Puder manteve alguns recursos batidos do gênero, é verdade, como a reiteração constante, os triângulos amorosos açucarados, personagem falando sozinho e um certo didatismo. São vícios compreensíveis, uma vez que a missão é conversar com o maior público possível.

E a audiência tem sido satisfatória, demonstrando que é possível ter novelas menores e exibidas já com seus destinos definidos --a carta na manga de Daniel Ortiz é ter escrito desfechos alternativos para cada uma das protagonistas, possibilitando a escolha do final de acordo com a aceitação do público.

As próximas produções inéditas da Globo seguem sofrendo adiamentos cada vez mais constantes por conta da pandemia, mas o modelo adotado pela emissora com Salve-se Quem Puder chegou com fortes chances de pegar. Ao que tudo indica, todos saíram ganhando, principalmente quem assiste.


Este texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV.


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