Raiva, desejo enrustido e humilhação: Novela Renascer deixa mulheres perdidas

Renascer é uma novela muito focada nos personagens masculinos. José Inocêncio (Marcos Palmeira) é o herói da história, ainda que seja um péssimo pai e tenha outras atitudes questionáveis ao longo da história. Seus filhos são os coadjuvantes mais relevantes, e os demais personagens giram em torno deles. Já as mulheres da história parecem estar, em sua maioria, totalmente perdidas, em trajetórias errantes, com destaque apenas em cenas de desespero, briga ou sexo.

Mariana (Theresa Fonseca) é o principal exemplo. A personagem já era problemática na primeira versão da novela, de 1993, e continua fora do eixo no remake. Ela não sabe se quer ou não ficar com José Inocêncio ou com João Pedro (Juan Paiva). Também vai e volta em suas ambições de tomar a fazenda Jequitibá-Rei para sua família. 

A personagem agora briga até com gente morta: não são raras as cenas em que ela sente raiva de Maria Santa (Duda Santos) e despeja sua raiva pela primeira mulher de seu marido. A própria Santinha tem aparecido, como fantasma, só para dar orientações a Inocêncio e acender velas para a santa de quem é devota. Não há paz nem após a morte.

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É legítimo que o autor Bruno Luperi queira manter Mariana como uma personagem implicante e difícil, uma antagonista ambígua da trama central da novela. Mas a personagem tem sido só irritante, tanto para os personagens quanto para o público.

Mariana se tornou aliada de Eliana (Sophie Charlotte), outra que não tem rumo definido. O objetivo dela é apenas se dar bem, seja conseguindo parte dos bens de seu ex-marido no divórcio, seja transando com Damião (Xamã) às escondidas, na casa do ex-sogro.

Ainda que seja uma personagem sem eira nem beira, Eliana ainda cumpre um papel que Mariana deixa a desejar: o de divertir o público. Com suas peripécias absurdas, a megera consegue gerar curiosidade e aflição em relação a quais serão seus novos passos. Nos próximos capítulos, a personagem deve ser humilhada por José Inocêncio e João Pedro, enxotada de casa e largada na beira de uma estrada.

Zinha (Samantha Jones), por sua vez, também está cheia de questões íntimas. A jovem está tão perdida quanto as outras, mas o caso dela é mais sério e dramático. Uma novidade no remake de Renascer foi ter a personagem como uma mulher (na versão de 1993 era Zinho, um homem, interpretado por Cosme dos Santos) que sofre com dilemas relacionados à sexualidade. Ela ainda não percebeu e não aceitou que sente desejo sexual por mulheres.

Também há o caso de Sandra (Giullia Buscacio), cuja briga com o pai fez com que ela decidisse assumir a casa de dona Jacutinga (Juliana Paes) e reabrir o estabelecimento. A atitude foi tomada como uma perdição, algo totalmente descompassado. A menina, mesmo assim, ainda parece ser a mais sensata de toda a sua família.

No rol de mulheres perdidas em suas trajetórias na novela, ainda há Buba (Gabriela Medeiros), Teca (Lívia Silva), Ritinha (Mell Muzzillo). As exceções parecem ser Inácia (Edvana Carvalho) e Morena (Ana Cecília Costa), as vozes da experiência na novela, sempre com opiniões e conselhos certeiros, além de Kika (Juliane Araújo). Essa já notou que estar com José Bento (Marcello Melo Jr) era um atraso de vida e acabou saindo de cena, perdendo espaço para quem ainda tem muitos problemas a resolver.

Renascer foi escrita e criada pelo autor Benedito Ruy Barbosa. A primeira versão foi ao ar na Globo em 1993. Bruno Luperi é neto do novelista e responsável pela adaptação da saga rural que estreou no horário nobre em janeiro. O remake ficará no ar até setembro.

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