FICÇÃO CIENTÍFICA?
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Cassia Kis, Victor Fasano e Cláudia Abreu protagonizaram Barriga de Aluguel, que estreou há 30 anos
REDAÇÃO
Publicado em 20/8/2020 - 6h45
Em 1985, Gloria Perez teve uma ideia inusitada: escrever uma novela na qual a mocinha cedia seu ventre para gerar o filho de outra mulher, e a partir daí as emoções de ambas provocariam um grande imbróglio. Essa era a premissa de Barriga de Aluguel, que naquela época foi considerada maluquice na Globo. A autora chegou a deixar a emissora e só voltou em 1990 para trabalhar nessa história, que acabou fazendo sucesso.
Atenta às tendências e aos comportamentos sociais, científicos e tecnológicos que pudessem gerar tramas folhetinescas, a autora leu um artigo médico nos anos 1980 indicando que uma mulher poderia gerar o filho de outra em sua barriga, em um procedimento que inseminava um óvulo fecundado no útero de outra pessoa.
Na época, tal perspectiva ainda era bastante distante da grande maioria dos brasileiros, mas Gloria Perez foi pesquisar e descobriu que uma clínica de reprodução em São Paulo já trabalhava com esse procedimento.
Ela apresentou, então, a sinopse à Globo, mas não teve o retorno esperado. A história central de Barriga de Aluguel foi considerada algo como ficção científica, tachada de maluquice, segundo o site Teledramaturgia.
A novelista ficou tão magoada com a má recepção de sua sugestão que saiu da Globo naquele ano. Ela foi contratada pela Manchete, onde foi ao ar a novela Carmen (1987), de sua autoria.
As histórias de Gloria e da Globo só se reencontraram anos depois. Entre o fim da década de 1980 e início dos anos 1990, o uso de barriga de aluguel para realizar o sonho de se ter um filho já era bem mais conhecido no Brasil, e a autora reapresentou sua sinopse, com os detalhes dramáticos que a permeariam.
Assim, em 20 de agosto de 1990, estreou Barriga de Aluguel na faixa das 18h da Globo. Na trama, Cláudia Abreu vivia a mocinha Clara, uma jovem humilde, moradora de uma favela, que trabalhava como balconista de padaria durante o dia e como dançarina de uma boate à noite.
Ela recebeu de Ana (Cassia Kis) e Zeca (Victor Fasano), um casal de classe alta que não podia ter filhos naturalmente, a proposta de gerar o bebê deles e ganhar um bom dinheiro por isso. Clara aceitou, mas durante a gestação começou a se apegar pela criança que estava em seu ventre.
Ana e Clara, então, passaram a disputar a maternidade do bebê, no que se tornou uma delicada questão emocional e judicial. Na cena final, as duas mulheres deram as mãos ao filho, como que numa tentativa de criá-lo em conjunto.
"Aquela era uma situação para a qual as instituições, as leis, ainda não tinham uma resposta. Por isso, decidi deixar em aberto. As duas personagens chegavam à conclusão de que, quer elas quisessem, quer não, aquele filho tinha duas mães. Então elas se uniam, cada uma dava sua mão à criança, e a novela terminava assim", disse a autora em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.
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