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Ousada, O Cravo e a Rosa botou a 'neca' para fora muito antes de Verdades Secretas

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

A atriz Ana Lucia Torre com a expressão fechada, como caipira, em um sítio em cena de O Cravo e a Rosa

Leonor (Ana Lucia Torre), ou melhor, Neca em O Cravo e a Rosa: sinônimo do órgão sexual masculino

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 13/12/2021 - 6h25

Inocente até que se prove o contrário, O Cravo e a Rosa (2000) fez o público gritar pelo órgão sexual masculino e ainda pedir bis a cada reprise no Vale a Pena Ver de Novo. Afinal, Calixto (Pedro Paulo Rangel) fazia a linha Verdades Secretas (2015) todas as vezes em que se referia a Leonor (Ana Lucia Torre) pelo apelido –Neca, um dos sinônimos para pênis.

O autor Walcyr Carrasco nunca assumiu publicamente que o trocadilho foi feito de forma intencional, mas ele se encaixa perfeitamente com a história da personagem. Em linhas gerais, a caipira era uma solteirona que nunca tinha visto uma "neca", mas que sonhava com o dia em que conheceria o "cegonho" do tio de Petruchio (Eduardo Moscovis).

O texto era muito mais sutil do que Êta Mundo Bom! (2016), em que a ave bateu asas e voou graças a Mafalda (Camila Queiroz), até porque a produção marcava a estreia do autor na Globo. Ele vinha de êxitos como Xica da Silva (1996), na extinta Manchete, que chamou a atenção do público principalmente pelas referências jocosas e cenas picantes.

Abertamente bissexual, Walcyr Carrasco dificilmente desconhecia o chamado pajubá no início dos anos 2000, pois a internet começava a popularizar expressões que até então eram faladas principalmente por travestis e transexuais. O dialeto era uma forma de afastar pessoas indesejadas e, sobretudo, de se defender da repressão policial.

Neca é talvez um dos verbetes mais populares dessa espécie de língua crioula que mistura o português com outros idiomas da costa atlântica da África, como o quicongo, o iorubá, o jeje e o nagô. 

Por sua vez, a "neca" de Ana Lucia Torre passou despercebida para a maior parte dos telespectadores na primeira exibição em 2000, uma vez que as novelas das seis eram voltadas principalmente para crianças, donas de casa e pessoas idosas. A representação LGBTQIA+ era praticamente vetada a essa parcela do público.

O pajubá começaria a cair na boca do povo graças a comunidades do Orkut, que incluíram no dia a dia termos como bafo ou babado (novidade), gongar (falar mal), aqué (dinheiro), picumã (cabelo ou peruca),  climão (saia justa), lacrar (arrasar) e uó (algo desagradável).

O ator Mateus Solano com uma flor no cabelo como o Félix em frente a uma kombi que vende hot dog em cena de Amor à Vida

Félix: rei do pajubá em Amor à Vida

Pajubá de Walcyr Carrasco 

Ainda que o pajubá em O Cravo e a Rosa não seja canônico, Walcyr voltaria a fazer referências ao dialeto, desta vez de forma propositada, em novelas como Amor à Vida (2013). Félix (Mateus Solano), por exemplo, chamou Bruno (Malvino Salvador) de "bofe de ouro" e admitiu que "deu a Elza" na sobrinha Paulinha (Klara Castanho).

Visky (Rainer Cadete), que voltou para a segunda temporada de Verdades Secretas, está sempre com o idioma na ponta da língua. Ele, por exemplo, já se referiu a Angel (Camila Queiroz) como "amapô" (mulher) e constantemente termina as suas frases com abafa.

Recentemente, ele ainda adotou a linguagem neutra ao se referir aos modelos de Blanche (Maria de Medeiros) por "todes".


Saiba tudo sobre os próximos capítulos das novelas com o podcast Noveleiros

Ouça "#84 - O que aconteceu com Alex em Verdades Secretas 2?" no Spreaker.


Conheça a história de O Cravo e a Rosa no vídeo abaixo e inscreva-se no canal do YouTube do Notícias da TV:


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