BACTÉRIA MORTAL
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Pilar (Gabriela Medvedovski) cuida de doentes com cólera em Nos Tempos do Imperador
O esforço de Pilar (Gabriela Medvedovski) para combater uma epidemia de cólera no Brasil não é uma licença poética de Nos Tempos do Imperador. A bactéria realmente chegou ao país durante o Segundo Reinado (1840-1889) e fez vítimas durante quase dois séculos. A doença ainda matava brasileiros em 2004, e o último caso foi registrado em 2005.
Os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão misturam realidade e ficção para fazer uma analogia entre a cólera e a Covid-19 na novela das seis da Globo. As enfermidades foram responsáveis pelas mais violentas pandemias já registradas no mundo contemporâneo, com registros de milhões de mortos.
A protagonista interpretada por Gabriela Medvedovski batalha contra um inimigo invisível que já havia deixado mortos desde a Índia, passando pela Rússia e se espalhando principalmente em centros urbanos como Paris e Londres, na Europa.
Pilar, na verdade, lida já com a terceira onda das sete de cólera que devastaram o mundo desde o início do século 19. O vibrião colérico chegou ao Brasil entre 1854 e 1855, depois de causar estragos em diversos países da América Latina, como Cuba, Venezuela, Colômbia e Peru.
As vítimas não eram exatamente nobres como Batista (Ernani Moraes) ou Luísa (Mariana Ximenes). A maior parte dos que morriam com cólera eram escravizados, que viviam em condições precárias e com quase nenhum acesso ao sistema de saúde.
A diferença no número de casos e mortos entre nobres e escravos era gritante, como o surto que apavorou a vila de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro. Segundo documentos da época, a localidade registrou 328 mortos, dos quais 54 eram pessoas livres e 266 eram escravizados.
A história de Pilar, inclusive, é inspirada em um dos médicos que mais se preocupou com a saúde pública na corte durante os tempos do cólera. José Pereira Rego (1816-1892), o barão do Lavradio, que se debruçou não só sobre o cólera, mas também pesquisou os constantes surtos de febre amarela.
Batista (Ernani Moraes): vítima do cólera
Cólera é uma infecção no intestino delgado causada pelo vibrião colérico, que causa principalmente diarreia, cãibras e desidratação severa. Alguns doentes chegam a ficar com a pele azulada e afundamento dos olhos por conta da perda de líquidos. A bactéria é transmitida por água e alimentos contaminados por fezes humanas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a última epidemia de cólera no Brasil teve início em 1991 e, até 2004, foram registrados 168.646 contaminações e 2.035 mortes. Os últimos casos foram identificados em 2005, todos no Estado de Pernambuco.
O país não tem transmissão comunitária de cólera desde 2006, mas já notificou três casos importados desde então –um vindo da Angola (2006), um da República Dominicana (2011) e um de Moçambique (2016).
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