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REIVINDICAÇÕES ATENDIDAS

Na raça, elenco negro pressionou Globo por mudanças em Nos Tempos do Imperador

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Maicon Rodrigues como Guebo, com uma máscara de madeira com motivos africanos, em cena de Nos Tempos do Imperador

Guebo (Maicon Rodrigues) comanda mais uma ação de Os Guerreiros em Nos Tempos do Imperador

DANIEL FARAD e GABRIEL VAQUER

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 4/2/2022 - 20h58
Atualizado em 4/2/2022 - 22h34

A pressão de atores negros nos bastidores foi fundamental para fazer a Globo rever os rumos de Nos Tempos do Imperador, que chegou ao fim nesta sexta (4). Os intérpretes, principalmente os mais jovens, fizeram as suas vozes serem ouvidas por autores, direção e equipe técnica --mesmo quando o diálogo não foi dos mais tranquilos na novela das seis.

Segundo fontes do Notícias da TV, o elenco se movimentou para que pautas progressistas e ações afirmativas da emissora não ficassem apenas no discurso. As sugestões iam desde pequenas alterações nos textos, como respostas dos personagens para ofensas racistas dos vilões, a apontar possíveis distorções no desenvolvimento da história.

O elenco foi elogiado por não abrir mão de seus valores e de suas reivindicações, que vão além daquilo que o público viu em 155 capítulos. Eles também têm como objetivo uma Globo mais plural por trás das câmeras, com equidade entre as equipes de roteiristas e diretores.

O consenso é de que os atores negros tiveram a coragem de se posicionar mesmo com a maior parte deles contratada por obra e diante do racismo do próprio mercado. Muitos poderiam colocar em risco eventuais convites e novas oportunidades se fossem tachados como "reclamões" ou "indisciplinados".

Eles foram apoiados por diversos artistas brancos, que se juntaram ao coro para deixar claro que havia um descontentamento coletivo e não apenas individual, até como forma de proteger os colegas. A adesão foi principalmente de novatos, apesar de o movimento atrair a simpatia de uma importante veterana.

Erros corrigidos

Alessandro Marson e Thereza Falcão acolheram boa parte dos apontamentos feitos tanto pelos atores quanto pela equipe de consultores, que contou com nomes como Nei Lopes e Rosane Borges. Uma parte das pessoas ouvidas pela reportagem, todavia, afirma que "não foi feito mais do que obrigação".

Um dos personagens mais afetados foi a princesa Isabel (Giulia Gayoso), que obrigou o elenco a voltar para o set para regravar diversas sequências. Ela perderia alguns dos contornos de redentora ou de salvadora, frisando que a abolição da escravatura não foi feita em uma canetada.

Um erro logo nas primeiras semanas foi avaliado como lamentável pelos próprios escritores, que foram às redes sociais para se desculpar por uma cena de "racismo reverso". Pilar (Gabriela Medvedovski) reclamava de ter sofrido preconceito por ser branca ao procurar abrigo na Pequena África.

A direção e os atores também conversaram nos bastidores para ajustes em sequências mais fortes ou polêmicas, que pudessem ser lidas como uma violência simbólica. Uma menção ao assassinato de George Floyd (1973-2020), por exemplo, foi suprimida.

Algumas questões vão se estender mesmo com gravações concluídas, uma vez que a Globo ainda apura uma denúncia de racismo entregue ao departamento de compliance. A queixa é de que, durante as gravações do folhetim, atores negros teriam sido tratados de maneira diferente se comparados aos brancos do mesmo elenco.

Após a publicação do texto, a Globo enviou nota na qual afirma que a empresa não comenta questões relacionadas a compliance e que mantém um Código de Ética que proíbe qualquer forma de preconceito no ambiente de trabalho. "Ele deve ser seguido por todos os nossos colaboradores, sob pena da adoção das medidas cabíveis, entre elas o desligamento da empresa."

Leia a íntegra da nota da Globo: 

"A Globo não comenta questões relacionadas a compliance, mas é importante lembrar que a empresa mantém um Código de Ética que proíbe qualquer forma de preconceito no ambiente de trabalho. Ele deve ser seguido por todos os nossos colaboradores, sob pena da adoção das medidas cabíveis, entre elas o desligamento da empresa.

Temos também uma Ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação ao Código. Todos são apurados criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas, com garantia de absoluto sigilo aos denunciantes e colaboradores sobre as apurações."


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