TÁ OK?
ARQUIVO/AGÊNCIA SENADO
Regiane Alves, a Dóris de Mulheres Apaixonadas, com José Sarney em cerimônia no Senado Federal
Manoel Carlos nunca se candidatou a um cargo público, mas só com Mulheres Apaixonadas já superou alguns dos principais nomes da política brasileira. A novela atualmente no Vale a Pena Ver de Novo pressionou a aprovação de dois projetos de lei: o Estatuto do Idoso e o Estatuto do Desarmamento. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, aprovou uma única lei de sua autoria em 27 anos como deputado.
A televisão aberta tinha obviamente um alcance muito maior há 20 anos, ainda que os primeiros sinais de uma possível crise já se desenhassem com a popularização do acesso à internet. Em 2003, o último capítulo da novela bateu nada menos do que 59 pontos de média e share de 71% na Grande São Paulo --ou seja, sete em cada dez aparelhos estavam sintonizados na Globo.
Mais do que os próprios números, o sucesso de Mulheres Apaixonadas também pode ser medido pelo impacto social e cultural no início da década de 2003. Regiane Alves até já brincou no Twitter que "nunca foi sorte, sempre foram os seguranças da Globo" sobre o ódio coletivo a Dóris.
As cenas em que a jovem maltratava os avós Leopoldo (Oswaldo Louzada) e Flora (Carmen Silva) não renderam apenas olhares tortos à atriz nas ruas. A história também pressionou o Senado Federal a aprovar às pressas o Estatuto do Idoso devido à pressão popular --com direito à própria atriz sendo recebida no Congresso pelo ex-presidente José Sarney.
A morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli) ao ser atingida por uma bala perdida durante um tiroteio nas ruas do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, também foi fundamental para a aprovação do Estatuto do Desarmamento.
Segundo a Agência Brasil, 40 mil pessoas se reuniram na praia de Copacabana para a passeata Brasil Sem Armas, promovida pelo Movimento Viva Rio. O ato contou com a presença do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Até Luiz Inácio Lula da Silva se aproveitou da popularidade da novela das nove para um dos principais projetos do seu primeiro mandato como presidente da República. Helena Ranaldi e Dan Stulbach --intérpretes de Raquel e Marcos-- participaram do lançamento do Programa Nacional de Combate à Violência Contra a Mulher.
A Lei Maria da Penha só seria aprovada dois anos após a exibição original de Mulheres Apaixonadas, mas as cenas em que Raquel era agredida pelo ex-marido incentivaram o público a denunciar casos de violência doméstica.
Uma reportagem de O Estado de S. Paulo repercutiu que, em setembro de 2003, a Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) do Rio de Janeiro --citada pelo próprio Manoel Carlos no folhetim-- constatou aumento de mais de 40% de denúncias.
Antes de chegar ao cargo máximo da República, Jair Bolsonaro passou 27 anos no Congresso Nacional. Ele, no entanto, aprovou apenas dois projetos de lei durante a sua passagem pelo Legislativo.
O primeiro é o PL 2.514/1996, que estende a isenção do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) para bens de informática e automação); o outro é o PL 13.269/2016, que autorizava o uso da fosfoetanolamina no tratamento contra o câncer.
Em 2020, o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou o projeto sobre a "pílula do câncer" inconstitucional, já que o Congresso não pode autorizar a distribuição do medicamento sem controle prévio de viabilidade sanitária. A ação foi proposta pela AMB (Associação Médica Brasileira), que questionava a ausência de testes da substância em seres humanos.
Segundo o Congresso em Foco, outros dois projetos de Bolsonaro até passaram pelo crivo da casa legislativa, mas foram vetados pela Presidência da República. O PL 4.326/2008 incentivava estudantes de Medicina a estagiarem nas Forças Armadas; e o PL 5.982/2009 autorizava o porte de arma para agentes e guardas prisionais integrantes de escoltas de presos e para guardas portuárias.
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