VOZ ÀS MULHERES
FÁBIO ROCHA/TV GLOBO
Bruno Luperi é o autor responsável pela adaptação de Renascer, na Globo
O autor Bruno Luperi está alterando muitos diálogos de Renascer para dar voz às mulheres no remake. Ele afirma que a novela é sobre o patriarcado, o coronelismo e o machismo, mas a adaptação busca discutir essa questão. "A expectativa eleva exponencialmente o patamar de pressão e comprometimento que tenho com esse trabalho. E isso é muito bom porque é combustível", diz o neto do criador da novela, Benedito Ruy Barbosa.
Luperi afirma que o seu grande exercício é olhar para um Brasil de 30 anos atrás, usar um espelho e trazer esse reflexo para hoje. Com isso, o remake dá novo lugar à mulher. Ele costura a história com a maneira como todos foram educados, com visões machistas, para abordar esses vícios que ainda se repetem na sociedade.
"O machismo com o qual nós somos forjados e nos acostumamos é o fruto e a razão da homofobia, da transfobia, do racismo, de uma visão meio perturbada de realidade. Essa carpintaria, a gente tem que trazer para a história, para o hoje. Temos que ter ferramentas para fazer novas relações, novas considerações, para olhar para o nosso país, para olhar para nós mesmos e nos encontrarmos ali", explica.
Jacutinga, vivida por Juliana Paes, e Morena, interpretada por Ana Cecília Costa, são as principais personagens que têm voz no remake. As falas delas buscarão promover discussões coerentes e pertinentes. "Elas têm o poder do sagrado feminino, são mulheres que chegam para questionar."
Para ele, a novela ocupa um espaço de tocar em diferentes temas para gerar engajamento e discussão fora da história que é contada. Nisso, entra o fato de José Inocêncio não saber amar seus filhos, o que também é fruto do machismo, do que foi ensinado para ele de não mostrar seus sentimentos.
"Renascer é para se perguntar o que disso tudo precisa ser transmitido para as novas gerações, com tantas possibilidades de reflexões. Na medida do possível, espero que isso ajude a nos transformar, como tem nos transformado nos bastidores", discursa o autor, que declara também que na trama não tem papel pequeno nem falas desnecessárias.
O roteirista não esconde que tem medo de comandar essa operação toda que envolve a novela, um trabalho árduo que conta muitas decisões dele em conjunto com o diretor artístico, Gustavo Fernández. "É uma missão que ainda dói um pouco", admite.
Luperi lembra das sensações que teve com Pantanal (2022) e também das críticas em torno de não mexer muito na obra, o que não se repetirá agora. "A gente vem na esteira de uma obra que acabou sendo um sucesso, sendo tão bem acolhida e aclamada. Por isso, sei que a gente está no caminho certo", declara o novelista.
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