BRUNO LUPERI
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
O autor Bruno Luperi durante entrevista concedida ao Fantástico no último domingo (14)
Em 2022, o autor Bruno Luperi foi criticado por não mexer muito na história de Pantanal (1990), mantendo-se fiel à história de seu avô, Benedito Ruy Barbosa. Para o autor, as reclamações são sinal de que está fazendo seu trabalho direito. Ao adaptar um clássico da teledramaturgia brasileira, ele afirma que não recria a história, apenas tem a função de trazer para os dias de hoje, como acontece agora com a novela Renascer, exibida originalmente pela Globo em 1993.
A provocação consiste em ter reações adversas à obra, sejam positivas ou negativas. "Se for pra me xingar, me xinguem, porque gostou, porque não gostou, me xinguem, mas assistam à novela", diz Luperi, que completa: "Acho que o nosso trabalho é instigar nesse sentido. Espero conseguir fazer".
Ele afirma que essa "brincadeira" é interessante justamente porque acredita que é sua função parecer que não fez nada. "Quando parece que eu não fiz nada na história, acho que está ótimo. Ela está bem contada, é completamente ressignificada", conta o roteirista, que exemplifica falando de uma mudança de comportamento que fez em Pantanal.
A primeira versão tinha o mote de um José Leôncio [Claudio Marzo] ensinar o Jove [Marcos Winter] a trazer a Juma [Cristiana Oliveira] no laço. E [no remake] teve um mote completamente contrário, do Joventino [Jesuita Barbosa] trazer um boi no feitiço. O José Leôncio [Marcos Palmeira] queria imprimir um certo modus operandi de machismo, de um anacronismo, de uma virulência para o filho, que não pertencia àquilo.
Ele lembra que Jove aprendeu a encantar Juma (Alanis Guillen) e a trazia no feitiço, porque respeitava a individualidade dela, admirava a força e a beleza que aquela mulher tinha. Luperi está fazendo o mesmo com Renascer, transformando algumas ações mesmo que o público não capte as alterações executadas por ele.
Uma das história em que ele mexeu no novo remake da Globo é a de Buba, agora vivida por uma transexual, a atriz Gabriela Medeiros. No passado, a personagem era intersexo e interpretada por Maria Luisa Mendonça.
Lá [na versão original] era falar de um coronelismo, de um Brasil de 32 anos atrás, em que um anacronismo era muito presente, o status do homem ser o macho era positivo. Um coronel formava novos coronéis, era a dança daquele tempo, criando homens machos e reduzindo mulheres a um lugar relegado à sociedade.
Para trazer isso para os dias de hoje, ele resolveu dar um novo espaço a Buba. "Ela é uma mulher trans, dá uma margem para a gente trazer esse termo para a trama central e poder discutir muito sobre um patriarcado, um machismo, um dever atávico dos homens em formar os filhos varões para continuarem sendo homens que impõem sua vontade aos outros", comenta.
Com a nova Buba, o autor espera provocar e promover discussões na sociedade que eram impossíveis há três décadas. "A gente não tinha subsídio para isso. Não tinha nem nomenclatura. Olha o quanto a agenda de gênero está plural hoje em dia. Então, assim, é uma possibilidade de discutir, de anotar, tem esse viés educativo também, de apresentar novos temas."
Ele conclui dizendo que, se o telespectador quiser ver uma novela como foi a versão original, ela está no Globoplay, e quem puder assistir vai fazer os mesmos questionamentos que ele se fez revendo a saga que o avô criou.
"Eu peguei a novela inteira pra ver, e eu olho para mim, para como eu fui criado, para como eu estou hoje, e me transformo enquanto ser, enquanto marido, enquanto homem, enquanto pai. Então, eu acho que, no final das contas, eu acabei Pantanal como um homem completamente diferente. Todo dia eu renasço uma pessoa diferente, eu renasço alguém novo", finaliza.
O remake de Renascer estreia na próxima segunda (22) no lugar de Terra e Paixão no horário nobre da Globo.
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